quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Sendo feliz... ou não

“Nenhum problema é maior que o meu. Nenhuma dor é maior que a minha. Ninguém tem mais razão que eu.”
Que importa que a Terra seja um pontinho azul, insignificante, quando comparada ao tamanho de outros planetas?
Que importa que tanta gente passe fome, que muitos sejam mutilados ou mortos por guerras, revoluções e atentados?
Que importa que tantas pessoas sofram de doenças graves, sejam vitimadas por vulcões, maremotos, terremotos, furacões, tsunames e outros fenômenos considerados naturais?
Que importa que tanta gente perca a pessoa amada, parentes queridos ou amigos inesquecíveis?
Por que eu deveria me importar com isso?
Quando sinto dores ou passo mal, enfrento filas, espero muito tempo até que alguém, normalmente de má vontade, se empenhe mais pra se livrar de mim do que pra resolver meu problema; mais preocupado com seu emprego do que com minha saúde.
Quando sinto fome, se não der um jeito de conseguir comida, ninguém se preocupará com o meu estômago, nem com a falta de nutrientes necessários à minha sobrevivência.
Se eu estiver no local de uma guerra, revolução ou atentado, alguém se preocupará em me tirar de lá ou evitar que elas aconteçam?
Alguém está preocupado em me livrar de furacões, terremotos ou qualquer outro agrado da natureza?
Quem se importa quando perco um amor, parentes ou amigos?
Esse papo de que precisamos usar a desgraça alheia pra nos conformarmos com a nossa é de uma estupidez maior que todas as desgraças juntas.
A humildade e a solidariedade não são tão importantes pra salvar o mundo, quanto são pra nossa felicidade ou, diminuição do sofrimento.
Não precisamos olhar pro infinito do universo, nem para as tragédias longínquas. Podemos fazer tanto pelos que estão a nossa volta e, principalmente, por nós mesmos, nos ocupando tanto, que não sobraria tempo pra mais nada.
A humildade nos permite perceber que não somos super, que somos falíveis, vulneráveis, mesmo que aproveitemos ao máximo a capacidade que o conhecimento pode nos disponibilizar.
A solidariedade nos propicia prazer e felicidade, portanto, o grande beneficiário não é o receptor e, sim, quem a pratica.
Não desfrutaremos toda a felicidade e prazer possível no amor, se não propiciarmos felicidade e prazer a quem amamos.
O sorriso que provocamos nos outros, pode nos propiciar mais felicidade que o nosso próprio.
Quem prefere ser ajudado, do que ajudar, desconhece a real felicidade.
Não temos como resolver os problemas da humanidade, mas podemos minimizar os nossos, conseguindo felicidade e prazer, proporcionais à solidariedade que praticarmos.
Portanto, agradeça a quem te propicie ser solidário e não negue a possibilidade de alguém ser feliz, sendo solidário com você.
Não sei quem disse isso, mas concordo totalmente: “Quem não vive pra servir, não serve pra viver”. O resto é resto!

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Rir ou chorar?

Este texto foi escrito pra provocar risos, mas se quiser chorar...

Saí pra fumar um cigarro, o décimo desde a hora que cheguei no hospital pra fazer uma ressonância magnética. A espera, principalmente pra isso, é um saco. Um velho, que também estava lá dentro, se aproximou e pediu o isqueiro emprestado. Acendeu o cigarro e foi dizendo:
- Rapaiz, isso aqui é o cu do capeta! Num sei u qui to fazeno aqui! Qué dizê, num sabia, agora sei. Tô aumentano minha vontade di morrê!
O homem estava bravo. E continuou:
- Isso aqui é quenem aqueles cabra qui num ganha nem pra pagá as pinga que bebe e qué tê duas ou treis muié. Esses porra num consegue nem atendê a gente, muito menos curá e, ao invéis de facilitá nossa morte, fica segurando a gente na vida, que nem vaquero cercano frango no pasto. Qué dizê: a gente nem morre, nem vive. Fica si fudeno por esses corredô, fazeno exame,tomano remédio e injeção, seno cortado e custurado e, pra que?
Quando eu pensava em alguma coisa pra dizer, o velho foi emendando:
- Ocê já reparo nesse povo aí dentro? A maioria ta precisando mais de padre e extremunção do que de médico e consurta. Já pássaro do tempo de tá aqui na terra, já deviam tê desocupado a moita faiz tempo! É uma veiarada, feia pra cacete, cum dor pra tudo que é lado. Cê óia pra cara dos infeliz i é sofrimento puro! Num pode comê isso, num pode bebê aquilo, num pode fumá; trepá num cunsegue mais; que porra de vida é essa? Vida? Isso é vida?
O velho puxou outro cigarro, acendeu-o na brasa do que estava terminando e continuou:
- Eles inventa essas modernage, todas cheia de nhe, nhe, nhe e trec, trec; que podem, até, ajudar a descobrir o que a gente tem. Só que, é pouca geringonça pra doença de mais. Como os médico não consegue mais trabalhar sem esses exames todos, i cuma eles num consegue examiná todo mundo que precisa, as fila istica, o tempo demora e o coitado do doente sofre. Pra quem vai sê curado, tudo bem, vale a pena. Mais muita gente, principalmente essa veiarada toda, só vai tê o tempo esticado aqui na Terra; sem podê cumê, bebê i fazê o qui gosta; escravos de remédio, injeção i médico. Isso é vida, rapaiz? Né não! É um ganho muito pequeno prum preço grande demais.
Ele tossiu, cuspiu e continuou:
- Além de sofrê, esses veio atrapaia todo mundo; na rua, na cundução, na fila i até nu trânsito. Vira e mexe, um é atropelado porque num inxerga, num acha o rumo. O trânsito para, o motorista se ferra e o disinfeliz, muitas veis, nem morre! Além de tudo isso, ainda dá dispeza pra família e pro governo. Si pelo menos a velhice fosse bonita, mais não; além de tudo é feia, desengonçada i pelancuda! E a conversa intão! É só recramação – “Tô cansado”, “Ai como dói!”, “Tô qui num guento de dor!”, “Fala mais arto, qui num iscuto.”, “Fala baixo!”. Óia eu aqui, fazeno teu ouvido di pinico, discarregano minha raiva. Qui curpa cê tem dessa revorta que eu sinto? Agora, mi fala a verdade: vale a pena tudo isso pro coitado levá uma vida de merda dessa?
Eu não sabia se ria ou chorava. Comentei que aqueles idosos estavam ali porque não queriam morrer, que eles consideravam aquele sacrifício menos ruim do que a morte. Inclusive ele. Ele me olhou com a expressão de quem havia ouvido o maior absurdo do mundo e disse:
- Não! Eu não. Si eu pudesse escolher, já tinha morrido! Já pensei muitas veis em mi matá, mais quando pensava nos parente, nu qui eles ia sofre, cabava disistino. Acho qui é muito ruim pras pessoa vê um parente suicidado. Mais qui eu prefiria morre, prefiria! É muito ruim vivê desse jeito! Muié dano lugar procê sentá na cundução, Cê sinrolano cas coisa, trupicano. Outro dia, tropiquei i caí. Uma moça bunita i cherosa mi ajudo a levantá. Ela perguntô si eu tava machucado. Eu disse pra ela qui, se subesse qui ia sê ajudado por moça tão bonita, caia toda hora, só levantava pra caí de novo. Ela riu, mais o pió era o olhá de preocupação, pena, dó, que ela mostrava. É duro ocê vê qui provoca dó. Num faço nada qui presta, vivo atrapaiado, atrapaiano os outro, isqueceno as coisa, trupicano, sofeno dor, sem esperança di miora. Isso é vida?
Argumentei que há muitos idosos vivendo bem, trabalhando, se divertindo, felizes, O homem me interrompeu, dizendo:
- Eu num tô falano desses. Muitos desses vive mio qui muinta gente nova. Tô falano di quem num tem utilidade, sem saúde, cum dor, sem esperança. É desses qui tô falano, num importa se é veio ou novo. Si num dá pra vivê bem, é mió morre. Si murresse um tanto desses traste, qui nem eu, ficava mais fáci pra cuidá dus qui tem cura. Invés di gastá dinhero cum exame, operação i remédio; era só dá uma injeção qui a pessoas dormia i num acordava mais. Já penso qui beleza! Si livrá di toda essa encrenca, na hora, sem dor?
Quando ele ia acender outro cigarro, chegou uma mulher, que parecia ser filha dele, dizendo que o haviam chamado. Ele guardou o cigarro no maço, me disse tchau e entrou capengando atrás da mulher.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Viver

VIVER

Viver é Ter o organismo e a mente funcionando.
Viver com qualidade é Ter o organismo e a mente funcionando, aproveitar ao máximo a felicidade e minimizar a infelicidade. É sentir, participar, buscar, refletir, julgar, mudar.
A qualidade da vida é o que sentimos, todo o resto tem como objetivo provocar sentimentos. O que é bom para uns, pode ser ruim para outros. Não importa que a razão indique que o indivíduo não tem motivos para estar infeliz; se ele se sente assim, é isso o que importa e, não, o que a razão diz. O mesmo acontece em relação à felicidade e aos sentimentos em geral.
Os sentimentos têm valores relativos, o ruim é parâmetro para avaliar o bom, o mal é o parâmetro de avaliação do bem, o sofrimento valoriza o prazer e vice-versa. A fome realça o valor da comida, a sede, o da água; a tristeza, da felicidade. Portanto, é evidente a relatividade dos valores no que se refere aos sentimentos, relegando os valores absolutos para segundo plano. A perda do que causou uma grande felicidade, costuma gerar enorme sofrimento.
Não há vida participativa feliz ou infeliz. O que vale é o agora tendo o passado como parâmetro e o futuro como expectativa. São momentos, mais ou menos longos, de felicidade ou infelicidade e a quantidade e duração de um e do outro é que avaliarão se a vida foi mais ou menos feliz.

POSSE E DESEJO
Seus valores
Água é água, mas seu valor depende de sua escassez ou abundância. A luz será muito mais valorizada quando faltar do que quando estiver disponível. A saúde precisa da doença para Ter seu valor ressaltado. A riqueza terá pouco valor se não for comparada à pobreza. O amor terá seu valor reconhecido quando estiver ameaçado ou for perdido. Em fim, costumamos não dar muito valor ao que temos e super-valorizamos o que não temos ou perdemos. Por mais que nos esforcemos, não conseguimos valorizar ao máximo o que temos, se não o perdermos ou sentirmos que está ameaçado.
A razão diz que isso é um absurdo, que deveríamos valorizar ao máximo o que temos e não dar tanto valor ao que desejamos conseguir. No entanto, a emoção teima em provocar sentimentos que contrariam a razão, por isso a insatisfação é a companheira mais constante do ser humano.
Parece que a conquista é o objetivo da vida. Ela se manifesta através da vontade, que provoca o desejo, que busca satisfação. O que já temos não precisa ser conquistado, não provoca desejo e não oferece satisfação. É comum que o valor do que já conquistamos, diminua significativamente em relação ao que lhe atribuímos quando o desejávamos.
O comerciante talentoso, mesmo que inconscientemente, usa essa característica do ser humano, para Ter sucesso nos negócios. Ele age ao contrário, super-valoriza o que tem e procura desvalorizar o que pretende adquirir.
Um comerciante de automóveis, sabe que o cliente pretende trocar o carro que tem, por outro, porque não está satisfeito e pretende satisfazer seu desejo, que é possuir outro carro.
O comerciante aproveita a pré-disposição do cliente de super valorizar o que pretende e desvalorizar o que tem. Para tanto, realça as qualidades do carro que pretende vender e que atendem o desejo do comprador, escondendo os possíveis defeitos, enquanto faz o contrário com o que pretende receber em troca; realçando defeitos e escondendo qualidades.
O cliente sente-se apoiado e reforça sua crença de que estava certo: que precisa se livrar do que tem, por estar defeituoso e adquirir o outro que oferece tantas vantagens. A razão poderá lhe mostrar que a realidade não é bem aquela, mas a emoção trabalhará a favor do comerciante.
Os vigaristas tem talento especial para explorar essa característica em suas vítimas, explorando-as para aplicar seus golpes.
Quando percebemos que poderemos perder o que temos, sentimos seu valor realçado, mas ao invés de nos esforçarmos para reconquistá-lo, tentamos mantê-lo à força, provocando problemas que diminuirão as possibilidades de continuar desfrutando-o e, muitas vezes, causando a perda irreparável.
Em um casal, o ciúme é provocado pela crença de que o desfrute do companheiro está em risco. Não importa se esse risco é real ou não, o importante é que o indivíduo se sente ameaçado. Isso acontece porque ele acredita que, para a mulher, ele tem menos valor que o rival, caso contrário, não teria motivos para se preocupar.
A racionalidade indica que ele deveria realçar suas qualidades, minimizar seus defeitos, mostrando à sua amada que ele tem muito mais valor do que o suposto rival, além de investir para reforçar o amor que a companheira sinta por ele e demonstrando o quanto a ama. Isso representaria o reconhecimento de que não valorizara suficientemente o que estava a sua disposição, buscando corrigir o erro cometido.
Ao invés disso, ele prefere acusar a mulher de leviana, o rival de conquistador sem escrúpulos, alegando ser vítima de injustiça. Isso pode ser verdade, mas não o é na maioria dos casos. Ele passa a acusar a mulher, restringindo-lhe a liberdade, cobrando fidelidade, ameaçando. Se a mulher não tinha motivos para repudiá-lo, passa a tê-los e o que não passara de imaginação, pode se tornar realidade, provocando a separação depois de um período de brigas e sofrimento. Isso tanto acontece com homens como com mulheres.
Embora ele se alegue injustiçado, declarando Ter mais valor que o rival, não é o que demonstra. O que importa não é o valor que ele acredite Ter e, sim, o que a mulher lhe reconhece. Ao não se sentir seguro quanto ao valor que a mulher lhe reconhece, o rival imaginário estará sendo super-valorizado, enquanto ele se sente rejeitado.
Enquanto o fantasma do rival não aparece, é comum que o homem não sinta o quanto a mulher lhe é importante. Gaste tempo com outras coisas de menor valor, deixando de aproveitar os prazeres que a companhia dela poderia lhe propiciar. Ao sentir-se ameaçado, ao invés de tentar reconquistar, agride; provocando a perda do que não soube valorizar.

A vontade de conquistar é a energia que propicia o avanço, as descobertas, as invenções, o conhecimento e seu aproveitamento, em fim, o que se chama de progresso. Sem a vontade de conquistar, a vida seria estagnada. Se é verdade que a vontade de conquistar propicia resultados positivos e benéficos para a humanidade e para o indivíduo; não é menos verdade que ela é fonte de grandes males e sofrimento.
Avaliar as vontades, incentivando as positivas e eliminando as negativas; propiciaria a eliminação de grande número de problemas que afligem o indivíduo e a sociedade.
Conseguir valorizar o que já tem, desfrutando-o ao máximo possível, pode aumentar o prazer e felicidade do indivíduo, aliviando a pressão que sofra para lutar por novas conquistas, diminuindo a ansiedade, possibilitando maior reflexão na análise do custo/benefício da nova vontade que pede conquista.
O equilíbrio entre valorizar o que já tem e buscar novas conquistas; pode ser a melhor maneira de aproveitar a vida.
Isso é bastante lógico e sobram argumentos racionais para comprová-lo; no entanto, é muito difícil de ser conseguido na prática. A vontade costuma reagir à razão e, grande parte das vezes, impede que suas recomendações sejam seguidas. Por que isso acontece?

ANSIEDADE
A ansiedade é uma coisa terrível! Ela é ruim até quando o desejado é realizável e causador de grande prazer e felicidade.

Eu estava em Campo Grande sofrendo a maior infelicidade sentida até ali. Tinha convicção de que, se existia inferno, eu estava no pior lugar dele. A alma, ou seja lá o que for, sofria dores agudas e profundas, constantes, sem tréguas, sem um segundo sequer de alívio. Não sentia fome, nem sono; nem mesmo raiva, por maiores que fossem os motivos, eu conseguia sentir. Só tristeza, imensa, constante, dolorida.
A causa fora a perda do grande amor de minha vida. Não perdera só um grande amor, o maior; perdera a mulher que me admirara, respeitara, compreendera; uma companheira solidária, corajosa, sensível, inteligente; uma amiga leal. Não bastasse tudo isso, ela era linda. Foram cinco anos de uma felicidade inenarrável. Não consigo imaginar algo que possa ser comparado a uma perda como essa. Era um valor extraordinário! Não acredito que a perda de uma fortuna, por maior que seja, sirva de parâmetro para comparação. O sofrimento da perda é proporcional à felicidade que aquilo causou. Quanto maior a felicidade conseguida, maior é a tristeza de sua perda. A felicidade que eu tivera, ultrapassara qualquer fantasia que eu tivesse produzido; portanto, a perda foi catastrófica.
Não houve brigas nem discussões. Eu fora para Campo Grande, fazer um trabalho experimental, enquanto ela fora esperar o resultado da experiência, na casa da mãe. Se a experiência desse certo, partiríamos para uma nova etapa de nossa vida em comum, que fora cheia de aventuras. A separação não deveria ser maior do que um mês.
Nos falávamos freqüentemente por telefone. Numa das ligações, ela dissera que conhecera um rapaz e que estava confusa quanto a suas emoções. Disse-lhe para experimentar, buscando segurança no que fosse melhor pra ela. A racionalidade me obrigou a dizer aquilo, embora a emoção me forçasse a entrar pelo cabo do telefone e ir arrebatá-la naquele instante.
O choque foi brutal! Foi como se um raio tivesse atingido a emoção, sobrecarregando a tristeza com uma energia infinita. Senti a terra se abrindo sob meus pés e eu despencasse num buraco sem fim.
Estávamos a mil e duzentos quilômetros um do outro, fisicamente, embora ela estivesse dentro de mim, em cada célula.
A falta de notícias era angustiante, embora eu a sentisse perdida desde o primeiro instante. Imaginava que ela tivesse encontrado um cara com muitas qualidades, que a tivesse valorizado suficientemente, e que tivessem se apaixonado. Isso seria ótimo para ela e, eu, sempre quis o melhor pra ela.
A emoção brigava com a razão, uma briga hercúlea, A emoção queria seu corpo junto a mim, enquanto a razão torcia para que ela tivesse o melhor.
A razão me indicava que eu nada poderia fazer. Ela me conhecia suficientemente, o que dispensava que eu pudesse lhe mostrar algo de novo. Tinha inteligência suficiente para analisar e decidir. Se a emoção a impedisse de racionalizar, não seriam argumentos que pudessem convencê-la do contrário. Portanto, não me restava alternativa, a não ser esperar.
A razão me dizia que deveria esquecê-la até que o veredicto fosse confirmado, que era bobagem ficar sofrendo; que eu deveria tocar a vida, buscando satisfações. Se ela optasse em voltar, a questão poderia ser retomada, analisada e concluída. O melhor a fazer era esquecê-la, libertar a mente e retomar a busca da felicidade.
No entanto, enquanto a razão lutava desesperadamente para me livrar do sofrimento, sua força era extremamente insignificante diante da força da emoção que preenchia a mente com pensamentos sofríveis, desejando vingança, me provocando a tentar recuperá-la a qualquer custo, provocando lembranças do quanto eu fora feliz, não para provocar prazer e, sim, para aumentar o sofrimento, o tamanho da perda. A ansiedade me fazia esperar cada segundo pelo toque do telefone.
Quando muito, eu dormia duas horas por noite e comia meio pacote de miojo em cada refeição, na marra. Enquanto não estava trabalhando, preenchia o tempo escrevendo, derramando lágrimas sobre o papel, juntando letras para formar palavras de desespero, forçando a razão a combater a emoção. Minha mente era um campo de batalha, das mais cruéis, sem descanso, numa luta feroz.
Ao invés de minimizar o sofrimento, a passagem do tempo, o acentuava. Minhas forças físicas diminuíam, enquanto a energia da batalha mental se intensificava a cada dia.
Depois de dois meses, que pareceram séculos, ela me ligou perguntando se poderia voltar. Foi como se o raio que havia me enterrado, surgisse das profundezas e me arremessasse para o infinito do espaço. Depois de um instante de torpor, a ansiedade me provocava a puxá-la pelo cabo do telefone e abraçá-la imediatamente. Ela disse que tinha um assunto pendente para resolver e que me ligaria nos próximos dias para marcarmos a melhor maneira de nos encontrarmos. Disse que me amava e que não via a hora de nos juntarmos.
Minha mente parecia uma corrida de fórmula um onde todos os carros se chocassem, com pedaços pulando por todos os lados. A razão tentava organizar as idéias, enquanto a ansiedade queria solução imediata, pra ontem.
A alegria era imensa, o corpo vibrava intensamente, os pensamentos se atropelavam, a dúvida de se era um sonho ou realidade dominou por algum tempo. O medo de que ela pudesse mudar de idéia ganhou espaço e uma nuvem negra dominou o pensamento.
No entanto, a esperança de recuperá-la foi maior. Era realidade, ela dissera que queria voltar, repetiu várias vezes. Que assunto pendente seria o que ela tinha que resolver? Ela se negara a dizer, alegando que contaria quando nos reuníssemos. Que poderia ser?
Pelo menos, agora, os pensamentos ruins tinham a companhia dos bons e se alternavam descontroladamente. A razão me recomendava que me agarrasse aos bons, mas que considerasse a possibilidade de ela desistir, preparando-me para a retomada da tragédia. A mente era um caldeirão em ebulição.
Ela ligou dois dias depois, para combinar nosso encontro. Sugeri que ela fosse pra São Paulo, pois estava com nosso carro; que eu iria de ônibus, nos encontraríamos lá e voltaríamos juntos. Ela alegou que não tinha dinheiro para ir até São Paulo. Fiquei de fazer um depósito na sua conta bancária. Ela ficou de ligar no dia seguinte para confirmarmos o dia da viagem, uma vez que aquele assunto ainda não fora resolvido.
Já era noite, fui até o centro da cidade para fazer o depósito. Nas duas agências que havia ali, os caixas eletrônicos não estavam funcionando. Bateu o desespero!
No dia seguinte, fui até uma agência do banco e fiz o depósito.
Ela me ligou dizendo que seu cartão magnético apresentara defeito e que não conseguira tirar o dinheiro, o que só poderia ser feito em São Paulo, na agência de sua conta. Ela ficou de tentar conseguir um empréstimo e me ligar quando tivesse resolvido a pendência.
Ligou dois dias depois, dizendo que estava liberada, mas que não conseguira o empréstimo. Eu já não agüentava, estava a ponto de explodir! Decidi ir buscá-la na cidadezinha, onde ela estava na zona rural. Disse-lhe que pegaria o ônibus na noite seguinte, iria para São Paulo, pegaria o outro ônibus e que, no Sábado pela manhã a encontraria na cidadezinha, no ponto de ônibus, na beira da estrada.
Na manhã seguinte, comuniquei aos donos da empresa em que estava trabalhando, que viajaria naquela noite, por isso precisaria sair um pouco mais cedo. Um deles, que era de São Paulo, e estava voltando pra lá, me ofereceu carona. Saímos naquela mesma manhã. A ansiedade era tanta que eu tinha impulsos de apertar o pé do motorista no acelerador.
Eu estava indo ao encontro da felicidade, do paraíso, fugindo do inferno. Deveria estar radiante, curtindo o deleite que seria aquele reencontro, no entanto, sentia angústia, medo de acordar e verificar que não passara de um sonho. Eu me beliscava, mas não adiantava. O medo de que ela pudesse desistir me agoniava. A viagem era interminável. As horas corriam, enquanto a distância se arrastava, lentamente, teimando em não ser vencida.
Chegamos em São Paulo no começo da noite. O primeiro ônibus para a cidade onde ela estava, só sairia na manhã seguinte. Fui para a casa de meus pais, liguei para a rodoviária, para saber o horário do ônibus, mas ninguém atendia. Tentei até altas horas e nada.
A ansiedade fazia a angústia aumentar, como se isso fosse possível. Eu sabia que o ônibus saia por volta das sete horas, mas não tinha certeza. Só havia aquele pela manhã e outro no final da tarde. Se não conseguisse ir naquele, ela poderia pensar que eu houvera desistido. Esse pensamento me provocava pânico.
As cinco e meia da manhã, eu já estava na rodoviária, comprei a passagem e esperei as duas horas que faltavam para o embarque. Os nervos do meu corpo, desde o menor até o maior, tremiam, vibravam como as cordas de um instrumento. Eu andava de um lado para o outro, comprei um jornal, tentei lê-lo, mas era impossível; a mente se negava a registrar as palavras.
O ônibus parou na rodoviária de São José dos Campos. Eu havia combinado que, como não tinha como ligar pra ela, que ela me ligasse no celular, por volta das oito e meia, pois eu estaria numa região em que havia sinal. Depois disso, o sinal não existiria e não teríamos como nos comunicar, caso algum imprevisto surgisse.
Eu segurava o celular na mão, com tamanha força que parecia que o esmagaria e o dissolveria com o suor que jorrava dela. Aliviei a pressão e enxuguei-o, mas ele não tocava.
O ônibus partiu, chegou na região onde não havia sinal e o toque da campainha continuava mudo. O pensamento de que ela desistira tomou conta e o domínio do desespero foi uma tarefa hercúlea.
Desci do ônibus e olhei para o ponto vazio. Senti aquele buraco imaginário se abrir sob meus pés. Permaneci estático, com o olhar fixo naquele ponto de ônibus, não sei por quanto tempo. Pensei em procurá-la, afinal a cidadezinha era minúscula. A possibilidade de darmos voltas desencontradas aumentou meu pavor. No entanto, não poderia ficar ali, imóvel, presa daquela angústia terrível.
Desci uma rua e, na primeira esquina, encontrei dois conhecidos. Quando lhes perguntava se a haviam visto, vi nosso carro se aproximando, com ela ao volante. O mundo desapareceu, só ficou aquele carro cor de vinho, aqueles olhos verdes e o cabelo loiro. Fui até o carro como um robô, sem correr, a passos lentos, com medo de que fosse uma miragem.
Entrei no carro, ela dirigiu até a estrada, parou no acostamento, nos abraçamos e beijamos longamente, entre lágrimas que expulsavam a angústia represada.
A cidade sofrera um apagão telefônico e nenhum aparelho funcionava, por isso ela não conseguira me ligar. Tudo contribuiu para que não se perdesse nem um único segundo de agonia.
Não teria sido problema encontrá-la, mesmo que estivesse na casa de parentes na roça. Eu poderia Ter pego um taxi e procurado-a. O problema é que o motivo de ela não estar me esperando, poderia Ter sido a desistência e, a ansiedade, colocava esse como o único motivo possível.
Eu me empenhei profundamente e acionei todas as forças disponíveis para fortalecer a razão e a moral, no entanto, a emoção dominou o tempo todo, massacrando a racionalidade e desconsiderando a moral.

A ansiedade é uma componente da vontade, grande causadora de sofrimento e terrível empecilho para a racionalidade. É muito difícil de ser dominada, provocando pressa, forçando a tomada de atalhos, que geram enormes atrasos e, muitas vezes, impossibilitam atingir o desejado. A ansiedade é um câncer da vida.





PAIS E FILHOS
Relacionamento e educação

Na relação entre pais e filhos, a questão dos valores têm sido desprezada. Os pais se consideram proprietários e pretendem moldar os filhos ao que lhes parece ser o melhor, sem considerar que eles são pessoas com particularidades que caracterizam a diferença entre os indivíduos.
Os pais acreditam que o conhecimento através da experiência é o valor determinante do bom e do ruim, do bem e do mal, do certo e do errado, desprezando a emoção, os sentimentos, os instintos, as sensações, os talentos e, principalmente, a força da vontade. Agindo assim, eles exemplificam o pouco valor do conhecimento sem a devida compreensão.
Filho precisa de proteção e de prevenção para que possa desenvolver seu potencial com máximo aproveitamento. No entanto, ele não é um material inerte que possa ser moldado à vontade de terceiros; está sujeito a forças internas que não aceitam dominação e que precisam ser compreendidas, propiciando aproveitamento das positivas e prevenção contra as negativas.
A superproteção impede o desenvolvimento da auto-proteção, fragilizando o indivíduo, dificultando que se defenda dos males que o aflijam.
É comum que os pais pretendam proteger os filhos de sentimentos que experimentaram ou experimentam, desconsiderando que os sentimentos dos filhos podem ser diferentes. O que é bom para um, pode ser ruim para outro sem que se possa afirmar o que é certo ou errado, em grande número dos casos.
A racionalidade é importante para reflexões, avaliações e julgamentos, no entanto, muitas vezes, a vontade não aceita as conclusões da razão e exige a experimentação, provocando sofrimento enquanto isso não acontecer. Só a experiência ou o passar do tempo poderá satisfazer ou desfazer a vontade. Uma vontade insatisfeita poderá permanecer no inconsciente causando problemas que o consciente não lhes reconheça as causas.
A experiência é de suma importância para se determinar o que deve ser feito. Para tanto, ela deve ser refletida e compreendida. Infelizmente não é o que tem acontecido com a educação. A experiência tem demonstrado que muitos procedimentos têm sido inócuos, outros tem se mostrado prejudiciais, no entanto, mesmo diante das evidências, eles continuam sendo repetidos, impedindo que se busque solução por outros caminhos.
Dados são fundamentais para a análise e reflexão. Até o final da infância, ninguém tem mais possibilidade de coletar dados sobre as crianças do que os pais. A falta de dados dificulta a ação de profissionais que intervirão na formação e correção do indivíduo. Os pais deveriam manter um diário onde registrariam os dados apresentados pelos filhos. Para ser uma fonte de consulta eficaz, esses dados deveriam ir sendo filtrados, possibilitando a guarda do essencial. Eles seriam de grande ajuda aos professores, médicos e psicólogos, além de aos próprios pais. No entanto, quantos pais mantém um banco de dados assim?
A partir da adolescência, o próprio indivíduo deveria se encarregar de registrar diariamente as ocorrências e sentimentos. Isso poderia ser de grande ajuda.
A falta de compreensão de suas próprias características, do seu comportamento causando problemas para os outros e para si próprios, leva os adultos a colaborar negativamente na educação das crianças, acreditando que estão ajudando, quando, na verdade, causam grandes prejuízos.
O choro de uma criança representa insatisfação ou sofrimento. Pode ser causado por problemas físicos como: dor, fome, sede, desconforto, ou por sentimentos como: medo, falta de atenção, carinho ou desejos. É importante que o indivíduo perceba desde criança que vontades e necessidades sofrem limitações para seu atendimento. Algumas satisfações são realizadas com facilidade, outras são conseguidas com média dificuldade, há as que são de difícil realização e outras são impossíveis de acontecer. Não perceber isso é uma grande fonte de sofrimento.
Quando os pais se esforçam para atender desejos da criança, sem deixá-las perceber o quanto aquilo custou, estão contribuindo para que acreditem que podem conseguir tudo com facilidade, revoltando-se quando a satisfação não acontecer, desconsiderando o nível de dificuldade envolvido.
É comum que pais e professores exijam de filhos e alunos, o que eles têm grande dificuldade de oferecer, por causa de características particulares, dificuldades inerentes a cada um. Muitas dessas ações causam frustrações e prejuízos ao amor próprio. Esses adultos não percebem que passaram e continuam passando por situações em que são cobrados a realizar o que lhes é muito difícil e, até, impossível. Ao invés de aproveitar a experiência para corrigir o futuro, a educação tem contribuído para perpetuar erros do passado.
É muito grande o número de exemplos que demonstram isso. Um deles é o que força as crianças a comerem mais que o necessário, ocasionando gordura excessiva, que, no futuro, exigirá regimes e outros sacrifícios para eliminá-la. Na escola, é comum cobrar do aluno que decore detalhes sem grande importância, enquanto é deixado de avaliar o quanto foi compreendido da matéria. É dado muito mais valor ao conhecimento do que à compreensão. Os alunos são alfabetizados, mas tem enorme dificuldade para interpretar o que lêem e para expressar o que pretendem. A dificuldade para interpretar textos, os impede de resolver problemas de matemática, física, química, biologia, etc., por não entenderem o que a questão está pedindo. Matemática e física propiciam o desenvolvimento do raciocínio lógico; no entanto, os alunos se dedicam a decorar fórmulas, sem compreender os porquês delas e não se percebe ações da escola para modificar isso. Esses problemas existem na educação desde a pré-escola até os cursos de extensão e pós-graduação.

VONTADE, O GATILHO DA VIDA
A vontade é o início de todo processo que culminará com a ação do indivíduo. Pode-se dizer que ela é que inicia e alimenta a vida ativa. Portanto, a maneira mais eficaz de influenciar um indivíduo é agir sobre sua vontade. Se pudéssemos incrementar a vontade do positivo e do bom, neutralizando a vontade do ruim e pernicioso, conseguiríamos uma diminuição significativa nos problemas da humanidade. A questão é saber como.


FACILIDADE INICIAL
Tentar realizar vontades e desejos o mais rapidamente e sem qualquer esforço; seria o ideal. No entanto, é comum que o caminho que pode levar à satisfação, seja dificultado por vários obstáculos. Há vontades e desejos que podem ser satisfeitos através de dinheiro ou conhecimento. Tanto um como outro precisam ser conseguidos e, normalmente, exigem trabalho e empenho.
Há casos em que o exigido é o desprendimento, abrir mão de alguma coisa de que dispomos ou a que estamos acostumados.
Dificilmente sentimos vontade ou desejo do que já temos e está disponível.
A tendência à facilidade inicial, provoca o indivíduo a atropelar os obstáculos ao invés de buscar elimina-los ou contorná-los, por meios coerentes e legítimos.
A opção pela facilidade inicial, tende a gerar problemas futuros, que a falta de racionalidade não permitiu prever, podendo tornar a realização de uma vontade ou desejo em resultados desastrosos.

Depois dessas considerações, não é difícil perceber que dados significativos têm sido desprezados por estudos e análises que têm objetivado solução para muitos problemas.

Há indivíduos que desconsideram toda e qualquer dificuldade para a satisfação de um desejo e tentam conseguir seus objetivos irresponsavelmente, sem se dispor a sacrifícios e trabalho, muito menos respeitar direitos alheios. Não sei se isso é uma característica inata ou resultado do convívio social, principalmente da educação.

VONTADE
A vontade gera uma emoção, que provoca um sentimento.
Além de necessidades fisiológicas, são os sentidos e a memória que informam à vontade o que pretender.
A moral poderá convocar a razão a considerar a vontade, avaliando-a, oferecendo caminhos para a satisfação e indicando dificuldades; ou deixar que a emoção comande as ações.
A razão avaliará se a vontade tem condições de ser satisfeita de imediato, a médio, longo prazo ou se ela está mais para utopia do que para realização. Indicará que caminhos podem ser trilhados, considerará os valores do indivíduo, propiciando que ele decida se vale a pena ou não lutar pela satisfação.
Se a razão não intervier, a vontade só poderá ser freada pelos valores morais. Se o indivíduo desprezar os valores positivos, a vontade terá total liberdade para buscar satisfação pela via mais rápida, sem a menor disposição para enfrentar dificuldades. Mesmo que sejam inúmeros os exemplos de que isso não atinja a satisfação e que, quando atinge, ela é efêmera; esse tipo de indivíduo insiste em optar por esse caminho, desprezando a experiência que mostra o quanto é prejudicial.

Se a vontade do indivíduo não puder ser controlada através da razão e de valores positivos, dificilmente se conseguirá evitar as conseqüências prejudiciais de seus atos. A vontade é a grande motivadora para realizações, mas é, também, a desencadeadora dos maiores problemas do indivíduo e conseqüentemente, da sociedade.
A vontade de ganhar dinheiro é comum a praticamente todo indivíduo. A maneira como cada um tenta consegui-lo é que os diferencia.
O trabalho é o meio mais usado par conseguir o objetivo. Isoladamente, dificilmente ele propicia mais que o necessário para a sobrevivência. O que se associa a ele é que fará o diferencial.
Trabalho braçal
Talento + trabalho
Talento+estudo+trabalho
Talento+estudo+racionalidade+trabalho
Talento+estudo+racionalidade+sorte+trabalho
Quanto maior e mais eficiente for o que se associa ao trabalho, menor será o esforço necessário.
Facas, machados, foices, serrotes, em fim, ferramentas de corte, quando cuidadosamente preparadas e afiadas, diminuirão em muito o esforço exigido no trabalho, com resultados de melhor qualidade. Para tanto é necessário investir trabalho na preparação das ferramentas.
Um músico talentoso terá facilidade para tocar um instrumento. Se estudar o que outros já descobriram a respeito do instrumento e o que ele pode propiciar; conseguirá muito mais qualidade em um tempo bem menor, do que se tentasse descobrir esses detalhes por experiência própria. O estudo tem como objetivo poupar tempo e esforço na tentativa de descobrir o que já é conhecido. Sem talento, o músico poderá aprender a tocar um instrumento, porém com mais dificuldade e menor qualidade.
Se a razão for desconsiderada e a moral não oferecer restrições, o indivíduo tentará conseguir satisfação atropelando tudo e todos, sem preocupação com os males que possa causar. Poderá optar por roubar ao invés de trabalhar para conseguir o pretendido, por exemplo.
As informações acima são de conhecimento da maioria das pessoas, no entanto, a falta de compreensão as impede de usá-las para evitar ou resolver problemas. Que esperar de pais e educadores que defendem o que acham certo e criticam o que consideram errado, sem compreender os porquês de tais aceitações e rejeições? Grande parte das pessoas julga, aceita ou rejeita, com base em preconceitos que nunca questionou e que, portanto, desconhece sua validade ou não. Isso é causa de muito do que sofrem, no entanto, por ignorância, esforçam-se para que os filhos e alunos aceitem o que defendem, mas não compreendem. É comum que quando questionados, por filhos ou alunos, sobre a validade desses preconceitos, os adultos se neguem a discuti-los e tentem impor a aceitação. O autoritarismo é um grande dificultador da educação.
Como dito acima, a vontade costuma rejeitar as recomendações da racionalidade, insistindo para ser satisfeita. Muitas vezes os riscos de prejuízos são aceitáveis e vale a pena experimentar para se livrar da pressão da vontade. Outras vezes, no entanto, os prejuízos podem ser significativos, ocasionando custos elevadíssimos para benefícios irrelevantes. Nesses casos a vontade deve ser refreada a qualquer custo. Principalmente os pais devem atentar para isso, não cercear experiências que possam ensinar com riscos aceitáveis e impedir aquelas cujo custo é inaceitável. Para tanto, pode ser necessário usar a autoridade quando não possível convencer pela argumentação. É preciso diferenciar autoridade responsável e autoritarismo comodista.


LEIS DE PROTEÇÃO DA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA
A ignorância e a distorção de valores têm levado à criação de leis com rigidez perniciosa. A legislação sobre infância, adolescência e juventude, cria obstáculos a educadores conscientes, capazes e bem intencionados, ao mesmo tempo que não evita que verdadeiras barbaridades sejam cometidas pela ignorância e distorção de valores.
O trabalho contribuiu para que muitas crianças e adolescentes se transformassem em adultos responsáveis. A lei impede que isso continue a acontecer, no entanto, o trabalho infantil, escravo, continua acontecendo por impossibilidade de fiscalização. A quantidade de crianças que aprenderam pelo trabalho é muito maior que as que foram escravizadas. A lei impediu a continuidade do que era bom e não corrigiu o errado. Pode ser que o ideal seja que as crianças e adolescentes não trabalhem e a lei tem conseguido livrar muitos do trabalho escravo e descabido, no entanto, a maioria dos explorados o continua sendo e o grande número de crianças e adolescentes que se beneficiava do trabalho deixou de sê-lo, o que mostra que a lei ocasionou custos altos e benefícios muito pequenos.
Talvez, o ideal seria que as crianças pudessem brincar, aprender e desfrutar de prazer e alegria, antes de chegar a idade de assumir responsabilidades. Será que isso seria realmente melhor? Um trabalho adequado pode ensinar, distrair e, até, causar prazer, sem impedir o estudo, brincadeiras e diversão.
É muito grande o número de crianças que gasta boa parte do dia com jogos virtuais ou assistindo televisão. Que vantagens isso está oferecendo e que prejuízos provoca?
Os castigos físicos também são condenados pela lei, que se baseou no abuso do autoritarismo ignorante que abusava das agressões. Por outro lado, crianças que não conseguiam ser controladas por outros meios e que o eram por castigos a altura da necessidade, continuarão distorcidas, porque a lei proíbe os castigos que eram usados, propiciando resultados positivos.
Ninguém em sã consciência pode defender a agressão como meio de educar. No entanto, é preciso reconhecer nossa incapacidade para evitar algumas distorções que acontecem. Seria ótimo que houvesse meios de educar pela racionalidade, pelo controle da emoção, conseguindo com que as crianças aceitassem e usassem valores positivos e que os castigos pudessem ser abolidos totalmente. Isso ainda não foi conseguido. Por outro lado, conhecem-se inúmeros exemplos de castigos físicos que propiciaram correções e não causaram maiores conseqüências a quem os sofreu. Por que impedir o que demonstrou ser bom? Por outro lado, o ignorante e inconsciente continua abusando das agressões injustificadas e poucos são punidos por isso.
É evidente que as crianças, hoje, evoluem muito mais rápido que antigamente. A informática e a televisão contribuíram muito para isso. Elas têm demonstrado capacidades que não se imaginava que pudessem Ter nessa fase. Mostraram que aprendem com facilidade muitas coisas que são difíceis para os adultos. No entanto, o que é mais evidente, é a facilidade para aprender o que querem, o que lhes interessa, enquanto reagem a aprender o que seria necessário. Mostram grande competência para reivindicar e exigir direitos, mas reagem a cumprir deveres. Desenvolveram muito a esperteza, mas não a inteligência racional, os valores positivos e o respeito às regras de convivência em sociedade. Se tornaram especialistas em exigir direitos e fugir dos deveres, acentuando o egoísmo e a prepotência em detrimento da solidariedade e da humildade.
A legislação que pretende proteger as crianças e adolescentes, é um dos exemplos da incapacidade dos adultos. Uma lei não tem como considerar casos particulares. Para considerar a particularidade de cada caso é que existe o julgamento. Infelizmente, é flagrante a dificuldade de conseguir bons advogados para expor a realidade, propiciando que a justiça seja feita. Além disso, falta sensibilidade na interpretação, desconsiderando as forças a que o ser humano está sujeito. Isso tem propiciado a condenação de inocentes e absolvição de culpados.

A hipocrisia propicia que se tampe o sol com a peneira, favorecendo o crescimento da erva daninha enquanto se inibe o crescimento da planta desejável.
Antes de qualquer reforma, a educação precisa de reflexão crítica, da análise dos efeitos, busca de causas e encontro de soluções factíveis.
Enquanto não se conseguir influenciar a vontade do ser humano, dificilmente se conseguirá diminuir os problemas do indivíduo e da sociedade.


ALGUNS EXEMPLOS
Desde a infância, uma menina tinha grande admiração por médicos. Isso desenvolveu nela a vontade de seguir essa carreira.
Ao ingressar no segundo grau, sabendo que o vestibular para medicina era muito disputado, empenhou-se co0m afinco nos estudos. Seguiu se esforçando durante o cursinho, a faculdade e a residência médica. Finalmente, formou-se e se tornou uma profissional respeitada.
Outra menina teve a mesma vontade. No entanto, não gostava de estudar, passando a infância brincando, só estudando o mínimo que achava necessário para passar de ano. Durante a adolescência não perdia uma festinha e namorava todos os meninos que a atraiam. Repetiu várias vezes e acabou desistindo da escola antes de concluir o primeiro grau. Continuou com vontade de ser médica, mas teve que se contentar em fazer faxina como diarista. Vive reclamando da sorte que não lhe permitiu realizar sua vontade.

Desde a mais tenra idade um menino sentia vontade de ser mecânico de automóveis. Aos doze anos, pediu ao pai que lhe conseguisse trabalho em uma oficina onde pudesse aprender o ofício. O pai considerou que aquilo era capricho de criança, dizendo que ele era muito novo para trabalhar e que deveria se dedicar aos estudos. Ele não desistia e continuou pedindo ao pai que lhe conseguisse um trabalho em uma oficina.
Aos quatorze anos, como o pai não o atendesse, ele próprio procurou uma oficina nas vizinhanças e pediu ao dono que lhe ensinasse o ofício, propondo-se a trabalhar para pagar o aprendizado. O pai relutou, mas acabou concordando desde que ele não abandonasse os estudos.
Lavava peças e ferramentas, varria a oficina e ajudava no que era possível, prestando atenção em tudo, acumulando informações e procurando compreender o funcionamento de todas as partes de um carro. Em alguns anos era um mecânico competente e montou sua própria oficina. Procurava manter-se atualizado, fazendo cursos e lendo publicações especializadas.

Um adolescente era fascinado pelo comportamento de alguns rapazes do bairro. Eles não trabalhavam nem estudavam. Dormiam até tarde e ficavam na rua até de madrugada. Eram assediados por garotas e viviam se metendo em confusão.
Os pais dele e todos da vizinhança viviam criticando-os, alegando que eram vagabundos, maconheiros e desordeiros. Ele, no entanto, admirava-os cada vez mais.
Acabou se aproximando deles e começou a servir de menino de recados. Começou a beber, fumar maconha e acompanhá-los em pequenos furtos. A mudança de comportamento chamou a atenção dos pais que se empenharam em mostrar-lhe o quanto o caminho que vinha trilhando era pernicioso, quanto sofrimento estava causando a eles e quanto ele sofreria em conseqüência disso. Fizeram de tudo para que voltasse a estudar e abandonasse aquelas companhias, mas não conseguiram e, depois de alguns anos, acabou morrendo num tiroteio com a polícia.


MISTÉRIO
Mistério é o desconhecido, o incompreensível, as causas com as quais não conseguimos atinar.
O mistério mais evidente é o surgimento do mundo, dos corpos celestes, sua organização e movimento. Quem pode compreender a criação da Terra, sua composição orgânica e inorgânica, a vida animal e vegetal, a reprodução, o equilíbrio dos sistemas, as degenerações e regenerações, os fenômenos climáticos, as catástrofes naturais.
A capacidade humana permitiu desvendar muitos mistérios, no entanto, são inúmeros os que continuam absolutos, principalmente o que se refere à origem da vida.
Se a origem da vida é um grande mistério, não o é menor o que envolve seu caminho em direção à morte, principalmente a do homem.
Muito se sabe sobre o corpo humano, sua composição, funcionamento, degenerações, regenerações, agressões e meios de combatê-las. São conhecidos detalhes infinitesimais da composição celular, dos mecanismos de multiplicação e substituição, da hereditariedade, etc.
É grande o conhecimento sobre o cérebro e o sistema nervoso, que constitui uma rede de comunicação extraordinária. É conhecido um grande número de técnicas e drogas capazes de interferir no corpo humano, provocando correções e alterações. Sabe-se como transplantar partes de um corpo para outro, construir órgãos artificiais e, até, regenerações a partir das chamadas células tronco.
O conhecimento humano é muito grande, no entanto, o mistério é ainda maior. O funcionamento da mente, que é imaterial, sem células, mas que existe, continua inexpugnável! É enorme o número de teorias científicas, religiosas e esotéricas, que tentam explicar o que continua inexplicado.
Conhece-se o caminho orgânico percorrido pela emoção e como ela afeta o organismo, no entanto, não se sabe como ela é gerada, nem como criá-la ou eliminá-la. Conhecem-se partes do cérebro que a memória ocuparia, porém, não se sabe como controlá-la totalmente.

REFLEXÃO
O pensamento está em mim, no cérebro ou em qualquer outra parte do meu corpo. Se está no meu corpo, é meu. É tão meu que, se eu não o expressar, ninguém o conhecerá. No entanto, mesmo sendo meu, estando dentro de mim, sendo inacessível aos outros sem o meu consentimento; não está sob meu domínio e costuma acontecer independente de minha vontade, inclusive, contra ela.

QUEM OU O QUE, COMANDA A MENTE?
Todas as pessoas podem constatar a existência do pensamento involuntário em si mesmas. O mais perceptível é aquele que nos causa sofrimento. Se não pensássemos naquilo, não sofreríamos. É o caso da perda de um ente querido, por morte ou por abandono. Se pudéssemos esquecê-lo, seguiríamos vivendo normalmente, esperando que outra pessoa ocupasse seu lugar. No entanto, sua lembrança provoca que pensemos no quanto era bom, na falta que nos faz, nas cuasas da perda, nas possibilidades de recuperação, etc.. Todos esses pensamentos são lógicos como reflexão e análise consciente, buscando compreender o acontecido e, se for o caso, tentar a recuperação. No entanto, a repetitividade das mesmas coisas, constantemente, sem qualquer objetivo lógico, ocupa nossa mente impedindo que seja usada para outras emoções e, principalmente, para racionalizações conscientes.
Esses pensamentos costumam acontecer quando o indivíduo enfrenta dificuldades, principalmente, as grandes. São provocados por dívidas, ciúmes, remorso, amor próprio ferido, amor irrealizável, ódio, etc.. Se pudéssemos nos livrar desses pensamentos repetitivos, sem utilidade benéfica, poderíamos Ter a mente liberada para racionalizações conscientes e lógicas, buscando o que nos fizesse bem.
O que provoca esse tipo de pensamento e nos impede de eliminá-lo?

O que faz com que uma pessoa ame outra, independente de sua vontade consciente e, até mesmo, contra ela? Por que alguns amores são recíprocos e outros não? Por que é tão difícil e, até, impossível, eliminar um amor impossível de se realizar?
Por que é tão difícil as pessoas deixarem de agir em prejuízo próprio, quando têm consciência disso e sabem que agindo diferentemente poderiam não sofrer? É o caso de muitos dependentes de drogas, álcool, jogo, consumo, dinheiro, estética, etc..
As ações exageradas provocadas pelo ciúmes são causa de grandes sofrimentos para os indivíduos. Muitos deles sabem que não têm motivos para tanto ciúmes, tentam controlar-se, mas não conseguem. Trava-se uma luta terrível entre razão e emoção e a primeira, por mais que se empenhe, não consegue se impor.
A inveja é outra emoção causadora de males muito grandes. A razão mostra claramente o quanto essa emoção é prejudicial, no entanto, mesmo tendo consciência disso, muitos indivíduos não conseguem se livrar dela.
Alguma força estranha ao consciente do indivíduo provoca essas coisas. Será que isso se deve à fraqueza dele ou à grandeza dessa força?

MEMÓRIA
A memória é uma espécie de banco de dados, com autonomia para armazená-los, independente da vontade consciente do indivíduo. Ela guarda dados que ele gostaria de descartar e reage a guardar o que ele gostaria de Ter disponível. Nega-se a fornecer dados quando ele os pretende, disponibilizando-os quando não são mais necessários. Sobre um fato, fornece dados irrelevantes, sonegando os significativos.
Ela pode guardar uma seqüência detalhada de dados sobre um fato ou somente alguns fragmentos. Dificilmente ela guarda fatos como uma gravação, obrigando o indivíduo a reconstruir fatos passados, a partir de dados que ela fornece, possibilitando que, um mesmo fato, seja relembrado diferentemente em tempos distintos.
É evidente que a memória é particular do indivíduo, mas não está sob seu domínio. Quem a domina?

AUTONOMIA INDIVIDUAL, LIVRE ARBÍTRIO
A autonomia da emoção e da memória e a impossibilidade de eliminar os pensamentos involuntários, são evidências de que não temos livre arbítrio total. Por outro lado, a compreensão disso nos indica que temos capacidade racional para tanto, indicando que temos alguma autonomia. Em que porcentagem acontecem a dominação e a autonomia?

DIFERENÇAS ENTRE INDIVÍDUOS
O que provoca a diferença entre os indivíduos e por que?
Há indivíduos que usam intensamente a racionalidade, tendo dificuldade para aceitar preconceitos e dogmas. Vivem questionando tudo, buscando compreender o conhecimento. Muitos deles têm dificuldade de aceitar o que não compreendem, desprezando efeitos por não atinar com suas causas. Entre esses há os que têm uma espécie de couraça que os defende da emoção, reprimindo boa parte dela.
Há os que desprezam a racionalidade, são dominados pela emoção, aceitam com facilidade os preconceitos e a imposição de valores. É comum que tenham uma capacidade de argumentar muito grande. Os argumentos são produto da razão, no entanto, o que parece, é que, nesses casos, quem usa a razão é a emoção, para justificar suas pretensões, manipulando preconceitos, dogmas e valores, de acordo com seu interesse.
Existem indivíduos em que convivem razão e emoção, numa luta constante, com consciência das duas sobre a oposição entre si em grande parte dos fatos.
Quem determina o que cada tipo de indivíduo será? Parece que a maioria carrega essas características por toda a vida, por mais que se esforcem para mudar ou sejam provocados a mudar por terceiros.
Além da predominância da razão ou emoção, há outras características com grande variação entre os indivíduos: Instintos, reflexos, timidez, sensibilidade, talento, fantasias, sonhos. O que ocasiona isso?

Se o indivíduos vivessem isoladamente, poderiam não precisar se preocupar com as particularidades de suas características. Porém, ao conviver com outros indivíduos, com características diferentes, o conflito é inevitável se não for possível eliminar os pontos de atrito. Nem sempre os conflitos se devem a diferenças, muitas vezes é exatamente a igualdade que os provoca. Dois indivíduos egoístas, por exemplo, podem ficar impossibilitados de conviver. O mesmo pode acontecer entre dois prepotentes. Por outro lado, um grupo de indivíduos apáticos, sem ambição, poderá permanecer estagnado por toda a vida.
Parece que todas as características dos indivíduos são importantes para o convívio, desde que em dosagens adequadas. O bom é parâmetro para valorização do ruim, o mesmo acontece com o mal em relação ao bem, da tristeza em relação a alegria, da doença em relação a saúde, da riqueza em relação a pobreza, da vida em relação a morte, etc..
O problema é que cada indivíduo tem um grande número de características, com diferentes intensidades, variáveis no tempo. É bastante difícil conhecer um indivíduo e o que pode ser influenciado nele, portanto, é evidente a dificuldade de fazer isso com um grupo deles, buscando defender interesses e eliminando conflitos.
O ideal é que o indivíduo possa desfrutar o máximo de felicidade e prazer sem ocasionar prejuízos a terceiros. Para tanto, é necessário que existam regras, compreendidas, aceitas e respeitadas; que impeçam os prejuízos, com o mínimo de limites ao desejado. Isso é muito fácil de concluir e dificílimo de conseguir!
O ser humano já experimentou inúmeros tipos de convivência desde sua aparição até aqui. Desde pequenos grupos até grandes multidões, desde o não dispor de nada além do fornecido diretamente pela natureza, até a disponibilidade de tudo que a ciência e a tecnologia propiciaram, desde o senso de coletivo, até a predominância do individualismo. É incontável o número de ações que a racionalidade classifica de absurdas e que poderiam Ter eliminado o ser humano da Terra. No entanto, ele sobreviveu a tudo que poderia tê-lo eliminado. Parece haver uma determinação misteriosa para que o ser humano não se auto-destrua, mesmo que seu comportamento pudesse levar a isso. Sendo assim, a humanidade só será extinta quando o mistério determinar.

A racionalidade, liberta do que possa influenciá-la negativamente, pode buscar identificar as características dos indivíduos, suas variações, o que é influenciável ou não, extrapolar isso para o conjunto da sociedade, buscar formas de minimizar os atritos, propiciando o máximo de harmonia, felicidade e prazer possíveis e com o menor custo. Para tanto é fundamental que ela reconheça que sua enorme capacidade é limitada e que terá que conviver com o mistério, aceitando o sofrimento que ele impuser e que não possa ser evitado, sem esmorecer, sem desistir de continuar buscando o melhor, mudando sempre que for recomendável.
Claro que tudo isso só será possível se admitirmos a hipótese de que o ser humano tenha alguma autonomia, algum livre arbítrio e que seja influenciável por sí próprio e por outros. Isso propiciará que, entre as opções, sejam escolhidas as melhores. Se considerarmos que tudo está predeterminado, independente dos indivíduos, nada poderá ser feito para alterar o futuro.

O QUE PODE SER FEITO?
Pode ser difícil, mas é possível identificar as características do ser humano e suas variações.
É possível mapear essas características e agrupar indivíduos com características comuns. De certa maneira, isso já tem sido feito, pela astrologia, por exemplo.
É preciso estudar toda e qualquer relação que identifique características comuns a vários indivíduos. Isso deve ser feito com a maior isenção, analisando tudo o que for conhecido, tanto nas religiões, seitas, exoterismo e, principalmente as ciências. Nada deve ser descartado antes de devidamente analisado, nem se deve aceitar verdades sem questioná-las.
Esses estudos poderiam ser feitos por grupos multicidsciplinares, espalhados pelo globo. Seria bom que vários grupos estudassem os mesmos assuntos para que os resultados contemplassem a análise mais ampla possível.
Tão importante quanto identificar causas, é estudar efeitos cujas causas não possam ser determinadas. Essas causas indeterminadas se deveriam ao mistério.
Além da contribuição dos filósofos, são inúmeras as teses de mestrado e doutorado, espalhadas pelas universidades do globo, abordando características do ser humano, efeitos e causas. Se elas pudessem ser agrupadas e estudadas, poderiam propiciar resultados interessantes e de grande utilidade. No estágio em que se encontra a informática, isso não seria tão difícil.
Coletar dados, classificá-los, analisá-los, refletir, levantar hipóteses, estabelecer teorias e concluir são atividades para a razão. No entanto, ela sabe que não pode se livrar por completo, nem prescindir da emoção. Os resultados devem ser lógicos e emocionalmente aceitos. A lógica inaceitável pela emoção, dificilmente poderá ser utilizada com resultados satisfatórios.

A sociedade deve estabelecer que tipo de liberdade cada indivíduo pode desfrutar. A liberdade deve ser diretamente proporcional ao auto-controle de cada um e aos valores que norteiam o indivíduo. Será possível praticar algo assim?
Regras e leis têm pouca serventia para quem não compreenda sua necessidade e não tenha compromisso com a obediência a elas. A ação contra os infratores poderá ser: correção, castigo, segregação ou eliminação. Para tanto, é fundamental que haja justiça competente e eficiente. Quanto menor o número de regras e leis, mais fácil será o respeito a elas e a intervenção da justiça quando se fizer necessária.

O mais importante é que o indivíduo compreenda a importância da convivência e esteja disposto a contribuir para que ela seja a melhor possível.
Se fosse possível estabelecer vários tipos de sociedades e possibilitar que cada indivíduo se encaminhasse para a que melhor atendesse suas necessidades, os conflitos poderiam ser consideravelmente diminuídos.
É evidente a dificuldade de conseguir a convivência ideal. Se seria difícil estabelecer uma sociedade ideal, é fácil verificar a dificuldade de conseguir isso a partir de sociedades conturbadas e contaminadas, compostas por indivíduos prepotentes, egoístas e irresponsáveis!
No entanto, é inadmissível ficar inerte e aceitar passivamente os conflitos sociais e os problemas gerados. O que seria possível fazer enquanto o ideal não possa ser atingido?


Até prova em contrário, o início de tudo está na vontade. Conseguir que o indivíduo tenha vontade de coisas benéficas para si e para a sociedade seria ótimo.
Conseguir que ele consiga avaliar suas vontades, lutando para realizar as boas e reprimindo a ruins seria muito bom. Para tanto ele precisa defender valores positivos, usar a racionalidade e suportar as manifestações maléficas da emoção.
Quando o indivíduo for incapaz de auto-controlar-se, deverá ser controlado externamente.
Em indivíduos influenciáveis, deve-se combater as influências danosas e facilitar as benéficas. Se for dominado por preconceitos é preciso livrá-lo dos perniciosos e abastecê-lo com os positivos.
Para indivíduos racionais, a discussão analítica, a argumentação lógica e a reflexão são o melhor caminho para orientá-los e corrigi-los quando for necessário.
Para aqueles dominados pela emoção, as artes podem ser um caminho para conseguir atingi-los. Emoção contra emoção.
É fundamental o senso de justiça em qualquer avaliação. Quando não for possível eliminar prejuízos e sofrimentos, que eles aconteçam com justiça, evitando inversões.

DIVISÕES DA MENTE
EMOÇÃO
Vontade
Amor
Ódio
Depressão
Ansiedade
Esperança
Amizade

SENTIMENTO
Aceitação
Alegria
Angústia
Apatia
Desejo
Dor
Euforia
Frustração
Medo
Melancolia
Pena
Prazer
Preguiça
Raiva
Revolta
Ternura
Tristeza

RAZÃO
CONSCIENTE
Juntar dados
Analisá-los
Refletir
Concluir
Reavaliar
Novas conclusões
Reconstruir lembranças

INCONSCIENTE (a serviço da emoção)
Manipular dados
Construir argumentos
Reagir à razão consciente
Reconstruir lembranças

MEMÓRIA
Armazenar
Dados
Emoções
Sentidos captados
Conceitos
Preconceitos

MORAL
Valores
Honestidade
Lealdade
Solidariedade
Humildade
Coragem
Dignidade
Altruísmo

Preconceitos

INSTINTO
REFLEXO
TIMIDEZ
SENSIBILIDADE
TALENTO
FANTASIA
SONHO

AÇÃO
Racional
Emocional
Impulsiva
Reflexiva
Interpretativa


OBJETIVOS FUNDAMENTAIS DA VIDA
Felicidade e prazer

NECESSIDADE PARA CONVIVÊNCIA
Respeito a direitos e deveres.





EXEMPLOS REAIS

ADOLESCENTE REVOLTADA
A menina adotada quando ainda bebê, criada com conforto e, até, algum luxo; aos treze anos revolta-se contra a vida que levara até ali e foge de casa, refugiando-se com invasores de uma casa abandonada.
Ao ser encontrada, preferiu ir para um abrigo de crianças abandonadas e ficar sob a guarda do estado, que voltar para a casa dos pais adotivos.
Super proteção, excesso de cuidados e até de carinho, podem Ter causado repulsa da menina pela família adotiva. É bom lembrar que o importante para o indivíduo é o que ele sente, mesmo que as justificativas sejam totalmente irracionais. A menina pode Ter sentido uma revolta tão forte que qualquer coisa seria melhor que a convivência com a família.
Outro motivo que justificaria tal atitude, seria a paixão por alguém inaceitável pela família. Ela acreditaria que fugindo, eliminaria a possibilidade de Ter o relacionamento desejado, impedido. Talvez tenha considerado que seria mais fácil fugir do abrigo que da família, acreditando que o estado não se preocuparia tanto em procurá-la, o que lhe possibilitaria encontrar o seu amor e relacionar-se com ele.
Tudo isso poderia ser fruto de falta de conhecimento, de compreensão e de experiência. No entanto, pode ser que a emoção tenha sido muito mais forte que sua capacidade de reagir. Em fim, a emoção descontrolada poderia causar esse tipo de comportamento.
Não é racional descartar a interferência do mistério, agindo com objetivos com os quais a razão não pode atinar.
Se a causa for a emoção, uma conversa com alguém que lhe conquiste a confiança, poderá lhe permitir declarar o que sente e pensa, oferecendo subsídios para ações corretivas.
Seria improducente o comportamento comum de criticar, apelar para o sofrimento causado a quem tanto gosta dela, conselhos convencionais, acusar sua irracionalidade, em fim, o blá, blá, blá convencional. É bem provável que é exatamente disso que ela pretendia fugir.
Enquanto ela não conseguir compreender a situação, fará o possível para satisfazer sua vontade e fugir do que repudia. Uma maneira de impedir isso, é o cerceamento da liberdade por meios físicos ou químicos. Se nada for feito, a probabilidade de que ela sofra grandes prejuízos e sofrimento é enorme. Que direito essa menina tem de arriscar tanto? Que capacidade ela tem de arcar com as conseqüências?
Além dos problemas que ela possa sofrer, é preciso considerar os problemas para a sociedade que ela poderá gerar. Entre eles, tornar-se marginal e gerar filhos que, por falta de condições, poderão seguir seu caminho na marginalidade.
Se o problema tivesse sido causado pelo mistério, dificilmente alguma coisa poderia ser feita, pois ele seria mais forte e capaz que qualquer capacidade humana.

INTERPRETAÇÃO DE FICÇÃO COM BASE REAL
A menina de dez anos que mente, interpretando ficção que ela cria com base na sua realidade, demonstrando talento tanto na criação quanto na interpretação.
Ela não se preocupa com o fato de que suas mentiras possam ser desmascaradas com certa facilidade. Isso pode significar que não teme o ridículo, ou que acredite que poderá contornar o problema continuando a criar e interpretar.
É uma atitude racionalmente injustificável. A probabilidade de Ter a farsa descoberta é enorme. Se o custo é altíssimo, os benefícios possíveis são irrisórios. Se a causa não for satisfazer a pura fantasia, poderá ser a vaidade, buscando admiração e chamando a atenção para si.
A única maneira de se identificar o que acontece, é conseguindo a confiança da menina, obter dela todas as informações que possa oferecer. Claro que é necessário avaliar bem o que ela disser, pois poderá continuar criando interpretando ficção. A análise dos dados obtidos poderá indicar que caminho seguir para a correção.
Uma opção seria incentivá-la a criar histórias, dando assas a sua imaginação, propiciando-lhe fantasiar sem o risco de expor-se ao ridículo. Se ela fizer isso com facilidade, pode ser que deixe de usar ficção na vida real, fazendo-o na literatura, dando vazão à sua necessidade. Não conseguindo fazer isso, as causas deverão ser outras e não a simples fantasia, desejo de reconhecimento, admiração ou intenção de chamar a atenção.
Se as causas não forem identificadas, seremos obrigados a creditá-las ao mistério.

Felicidade

FELICIDADE

Justificativa do trabalho

Como a maioria das pessoas, fui educado para preservar a saúde e a vida; estudar para facilitar o trabalho, objetivando ganhar mais com menos esforço; poupar para conseguir adquirir uma casa e supri-la do necessário para abrigar a família que deveria constituir, casar, ter filhos, proporcionar-lhes o necessário para serem pessoas boas e de sucesso. Seguir os preceitos religiosos, respeitar pai, mãe e os mais velhos, ser bom, honesto e trabalhador; eram condições apregoadas como necessárias para ser um cidadão respeitado. Esforço para ganhar dinheiro, poupar e investir; possibilitaria segurança para o futuro, socorro na doença e amparo na velhice.
Sacrificar-se no trabalho e nos estudos, dedicar muito tempo à religião e fazer penitências; austeridade nos gastos e acúmulo de capital; propiciavam admiração e respeito. Por outro lado, dançar, beber, freqüentar festas e outros divertimentos; eram vistos com reservas e motivos para críticas e reprovações.
Depois de muitos anos seguindo os preceitos recomendados e evitando os passíveis de crítica, comecei a questionar se aquilo era tão inquestionável.
Seria razoável que virtude estivesse ligada a sofrimento e, luxúria, ao prazer? Por que voltar para casa antes da dez da noite era admirável e faze-lo mais tarde, reprovável? Chegar tarde porque estava trabalhando era louvável, mas se o motivo fosse diversão, era reprovável; por que? Seria razoável negar às mulheres, direitos que eram garantidos aos homens? Por que os mais velhos deveriam ser respeitados, independente de merecimento?
Com o passar do tempo fui verificando que coisas que eram altamente recriminadas, já não o eram, merecendo o rótulo de aceitável e, até, de recomendável. Valores e costumes não eram absolutos, mas dependentes do tempo, do lugar e de interesses.
Encontrar amigos, atingir objetivos, vencer obstáculos, receber elogios, provocava alegria. Críticas, frustrações, perdas, causavam tristeza, raiva, mal estar.
Algumas coisas passíveis de críticas, como: beber com amigos, gastar dinheiro e tempo com divertimento, alegrar-se ou beneficiar-se de perdas alheias; propiciavam sentimentos agradáveis ao invés de causar repúdio, gerando problemas de consciência. No entanto, isso era comum à maioria das pessoas e não parecia que as afetasse negativamente.
Por outro lado, conselhos objetivando orientar para comportamentos admiráveis e altruístas, geravam sentimentos ruins e revolta, quando deveriam ser motivo de agradecimento.
Essas constatações mostravam distorções, no entanto, eram realidade e não havia como negar. Como coisas negativas e reprováveis podiam gerar sentimentos agradáveis ao invés de repulsa?
A observação ia aumentando o número de distorções e a reflexão mostrando incoerências, gerando confusão, conflitos internos e problemas de consciência. Ficava evidente que coisas consideradas ruins geravam sentimentos agradáveis e o contrário também acontecia. Análises mais profundas mostravam que muito do que era apregoado como certo ou errado, não tinham justificativa racional e, muitas vezes, eram fruto de interesses escusos. Ficava evidente a irracionalidade de aplicar veredictos preconcebidos, sem considerar dados particulares de cada situação, análise e conseqüente conclusão.
Mais tarde ficou evidente que muitos sentimentos contrariavam a razão, mas permaneciam, desconsiderando suas recomendações. A análise dos dados indicava motivos para satisfação, mas o sentimento era contrário; outras vezes acontecia o oposto. Era irracional, mas inegável.
Filosofia, psiquiatria, psicologia, sociologia, antropologia e teologia; se empenham, de há muito, em compreender e explicar o comportamento humano e suas causas e têm avançado muito, no entanto, elas indicam muitas possibilidades, muitos conflitos entre si, indicando caminhos que não podem ser descartados, mas que não oferecem certezas, ao contrário, demonstram que o mistério que envolve a vida é bem maior do que o imaginado pela maioria das pessoas. “Existem mais segredos entre o céu e a terra, que pode nossa vã filosofia”. “Yo no creo em bruxas, pero que las ai, ai!”
Razão, emoção, objetivo, subjetivo, consciente, inconsciente, vontade, espírito, alma, ressurreição, reencarnação, ceticismo, dogmatismo, sexo, distúrbios mentais; são termos usados na tentativa de compreender e explicar a vida, identificar causas, em busca de soluções. É enorme o número de efeitos constatados, enquanto a maioria das causas apontadas, não passam de especulação, de possibilidades.
O que caracteriza a dificuldade de compreender o que segue envolto em mistério, é a capacidade, talento e disposição que tantos pesquisadores e estudiosos têm dedicado a esse mister, sem conseguir encontrar caminhos seguros, que propiciem soluções necessárias e desejáveis.
Leis têm se mostrado ineficientes para evitar crimes, dogmas e princípios religiosos não têm conseguido evitar pecados, fanatismo religioso provocando revoluções e terrorismo; ideologias, interesses econômicos e políticos provocando e alimentando guerras. É evidente a impossibilidade da sociedade evitar que o indivíduo aja prejudicialmente a ela e, até, a ele próprio. Aparentemente, nem o indivíduo consegue evitar algumas de suas próprias distorções, mesmo se esforçando para consegui-lo.
Essas constatações geravam reflexões que, ao invés de esclarecer, aumentavam as dúvidas, adicionando incógnitas a uma equação que se complicava cada vez mais. A situação era desalentadora, para não dizer assustadora. A sensação de impotência crescia, diminuindo a esperança de poder interferir e conseguir soluções.
No entanto, o inconformismo não admitia aceitar a situação como inexorável e provocava a busca, incentivava a pesquisa, a coleta de dados, a análise e a reflexão. O argumento era simples: não é possível desligar o pensamento e, se não o usarmos para racionalizar, ele será ocupado por lembranças e sentimentos, independentes de nossa vontade consciente, tendendo a alimentar mal estar e sofrimento. Então, ainda que só para evitar pensamentos prejudiciais, é importante racionalizar na busca de soluções e, por mais remotas que sejam as possibilidades de êxito, elas existem.
O objetivo deste trabalho é mostrar que a felicidade é o objetivo da vida e que, não nos sendo possível cria-la e mantê-la, podemos aproveitá-la melhor, evitar a infelicidade e suportar com menor sacrifício a que for inevitável.
Convido o caro leitor a verificar que, se esta batalha é interminável, os inimigos são identificáveis, muitas de suas armas, conhecidas, e que muitas armadilhas são evitáveis; o que poderá ajuda-lo bastante a enfrentar sua batalha com mais aproveitamento e menor sacrifício.



FELICIDADE, O OBJETIVO DA VIDA

A felicidade é o objetivo da vida, todo o resto serve para tentar buscar a realização desse objetivo. No entanto, o desconhecimento sobre as características individuais e o uso inadequado delas, costuma afastar o indivíduo do caminho que poderia leva-lo à felicidade, dificultando que ele se relacione bem com o próximo e com o mundo.
Felicidade é alegria, prazer, realização e satisfação. Identificar potencialidades, forças e deficiências, é fundamental para facilitar o relacionamento interpessoal e com o mundo, potencializando o sucesso na busca do objetivo.
Em última análise, felicidade é resultado da satisfação de vontades. A intensidade da felicidade é diretamente proporcional ao valor atribuído ao objeto da vontade satisfeita. O inverso, infelicidade, é resultado de vontades frustradas ou de perda, sendo diretamente proporcional a elas.
Portanto, vontade é causa, enquanto felicidade ou infelicidade são efeitos.
É provável que o objetivo da primeira vontade, seja a sobrevivência e, em seguida, a felicidade.
Sentir, racionalizar, aprender, compreender, crer e querer. A vida é um conjunto de partes interligadas, com pesos variáveis e diferentes em cada indivíduo. A convivência exige compreensão intra e extrapessoal, aparando arestas, facilitando convívio, buscando o máximo de felicidade possível para cada um.
Trabalho, relacionamentos e natureza; são os palcos em que a vida acontece.

VONTADE, O GATILHO DA VIDA
A vontade é o início de todo processo que culminará com a ação do indivíduo. Pode-se dizer que ela é que inicia e alimenta a vida ativa. Portanto, a maneira mais eficaz de influenciar um indivíduo é agir sobre sua vontade. Se pudéssemos incrementar a vontade do positivo e do bom, neutralizando a vontade do ruim e pernicioso, conseguiríamos uma diminuição significativa nos problemas da humanidade. A questão é saber como.

Tudo começa por ela. Desde vontades simples como chupar um sorvete ou uma bala, passando por vontades como: adquirir uma casa, um carro, fazer um curso, casar, ter filhos; até a vontade de mudar de vida.
A vontade pode ser incrementada pela motivação ou pela ansiedade. Gera emoções e sentimentos que, muitas vezes, dificultam a interferência da razão. Ela pode objetivar coisas boas e positivas ou más e prejudiciais. Se não puder ser controlada, as conseqüências poderão ser desastrosas.
A vontade depende de conhecimento para escolher o que pretender. É impossível ter vontade de algo que não se conhece. A propaganda objetiva mostrar ao indivíduo que determinado produto existe, provocando a vontade a desejá-lo. Quanto maior o conhecimento, maior o número de opções para a vontade pretender conquistar. No entanto, não é raro ter vontade de algo que a consciência não identifica. É o caso de ter vontade de ser feliz, sem atinar com o que poderia propiciar felicidade. É razoável considerar que a vontade de ser feliz seja inata e constante durante toda a vida. Os objetivos da vontade podem ser coisas ou idéias.
A vontade é irracional e depende da razão, emoção, moral e preconceitos para facilitar ou dificultar sua satisfação. Elas podem indicar a necessidade de trabalho, esforço e sacrifício para a satisfação de vontades. Podem indicar, ainda, que os custos sejam exagerados em relação aos benefícios, desestimulando a tentativa de realização. Dedicação, estudo, reflexão, treino, condicionamento e ceder o necessário, podem ser necessidades para obter satisfação de vontades.
Se senso comum, moral, razão e emoção (medo, por exemplo), não tiverem força suficiente, ou a força da vontade for forte demais; a satisfação será tentada, desconsiderando riscos, prejuízos e sofrimentos possíveis. Nesses casos, a probabilidade de sucesso é ínfima e só ocorrerá em casos excepcionais.
A vaidade é grande provocadora de vontades. Ser admirado é um grande desejo. Amor e ódio também provocam fortemente a vontade.
Na maioria das vezes, desejamos o que ainda não temos, por isso, imaginamos que será bom. Não é raro que, ao conseguirmos o que queríamos, percebamos que não é o que acreditávamos e, ao invés de bom, pode ser ruim.
Muitas vezes, o desejar algo, é muito mais gratificante que o consegui-lo. “A melhor maneira de matar um sonho, é realizá-lo.”
Modernamente, quase tudo, no sistema capitalista, pode e é comercializado. Vende-se para conseguir dinheiro, que é empregado na compra do que for possível, entre o que desejamos. Nesse sistema, é praticamente impossível viver sem dinheiro. Para a grande maioria, a única coisa que pode vender é a sua força de trabalho.
O dinheiro passou a ser a coisa mais desejada e a representar tudo o que ele pode comprar. Não é raro que represente, até, o que não pode ser comprado. É um paradigma segundo o qual o dinheiro pode tudo e, sua falta, impossibilidade de tudo, desconsiderando que muitas coisas independem dele e que, outras, é impossível comprar. O amor é um exemplo da ineficácia do dinheiro.
Entre os objetivos da vontade, podemos citar: casa, carro, moto, barco, sítio, casa de praia, imóveis para alugar, poupança, virar empresário, planos de saúde e de previdência, casar, filhos, moda, passeios, férias, freqüentar clubes, restaurantes, shows, praticar esportes, aventuras; conseguir reconhecimento e admiração, tranqüilidade, sossego, amor, carinho, amizade, conhecimento, compreensão, vingança, etc.
Grande parte dessas coisas depende de dinheiro para consegui-las e mantê-las. Outras, dependem dele para facilitá-las. Conseguir dinheiro, a não ser em casos excepcionais, exige trabalho, estudo, dedicação, esforço, persistência, paciência, administrar problemas, aparar arestas, evitar ou superar obstáculos, suportar sacrifícios e sofrimentos; em fim, superar dificuldades.
Existem satisfações de vontades que dispensam a necessidade de dinheiro, mas que dependem de sensibilidade, de solidariedade e de racionalidade, além de sorte. O amor acontecerá independente de nossa vontade, por quem, onde e de maneira que não podemos escolher, no entanto, seu aproveitamento e durabilidade poderão depender de nosso comportamento. O resultado da convivência no trabalho, nos estudos, nas amizades e na convivência social como um todo, também dependerão de nosso comportamento, possibilitando, facilitando, dificultando ou, até, impedindo que aconteçam. O dinheiro poderá ajudar, mas não eliminará a necessidade de razão, emoção e valores positivos.
Há vontades que são satisfeitas sem que o indivíduo faça qualquer esforço para conseguir. É o caso do amor, de se salvar de acidentes e oportunidades que a vida oferece sem que aja esforço nesse sentido.
Uma vontade pode dominar todas as outras e, sua satisfação ou não, propiciar enorme felicidade ou infelicidade, como se todo o resto não existisse.
Entre as vontades mais fortes, estão: salvar a vida, recuperar um amor perdido, a saúde, poder e riqueza perdidos. Grandes vontades podem perder a força diante de outra, que se agiganta e se faz prioritária, fazendo com que todo o resto perca importância.
Dependência: é a vontade incontrolada.
Sonho: vontade de algo que se considera remoto o tempo em que será possível satisfaze-la.
Fantasia: vontade de algo que se considera impossível conseguir.
O que para uns é fantasia, para outros, pode ser um sonho e, para outros, ainda, poderá não passar de banalidade. Para um trabalhador sem qualquer qualificação profissional, um salário de R$2000,00 pode ser uma fantasia. Para um operário que se esforça em busca de qualificação, pode ser um sonho. Para alguém que tenha um salário de R$10000,00, a fantasia do primeiro e o sonho do segundo, não passarão de banalidades.
A vontade de termos direitos ilimitados, nos leva a criticar, repudiar e rechaçar qualquer coisa ou comportamento que se oponha a nós.
É preciso compreender que o objetivo da vontade é alcançar a felicidade, mas que sua irracionalidade costuma provocar o contrário, acumulando prejuízos e sofrimento e, não raro, provocando verdadeiras tragédias. Um dos erros fundamentais, é a crença de que o dinheiro pode tudo.

A vontade gera uma emoção, que provoca um sentimento.
Além de necessidades fisiológicas, são os sentidos e a memória que informam à vontade o que pretender.
A moral poderá convocar a razão a considerar a vontade, avaliando-a, oferecendo caminhos para a satisfação e indicando dificuldades; ou deixar que a emoção comande as ações.
A razão avaliará se a vontade tem condições de ser satisfeita de imediato, a médio, longo prazo ou se ela está mais para utopia do que para realização. Indicará que caminhos podem ser trilhados, considerará os valores do indivíduo, propiciando que ele decida se vale a pena ou não lutar pela satisfação.
Se a razão não intervier, a vontade só poderá ser freada pelos valores morais. Se o indivíduo desprezar os valores positivos, a vontade terá total liberdade para buscar satisfação pela via mais rápida, sem a menor disposição para enfrentar dificuldades. Mesmo que sejam inúmeros os exemplos de que isso não atinja a satisfação e que, quando atinge, ela é efêmera; esse tipo de indivíduo insiste em optar por esse caminho, desprezando a experiência que mostra o quanto é prejudicial.

Se a vontade do indivíduo não puder ser controlada através da razão e de valores positivos, dificilmente se conseguirá evitar as conseqüências prejudiciais de seus atos. A vontade é a grande motivadora para realizações, mas é, também, a desencadeadora dos maiores problemas do indivíduo e conseqüentemente, da sociedade.


O que afeta a vontade?
A razão, principalmente pela análise custo x benefício; redirecionando-a para o que possa satisfazer com menor custo e maior benefício; provocando vontades que possam suplantá-la, enfraquecendo-a ou eliminando-a.
Exemplos:
Análise custo x benefício
O consumo de álcool pode ser controlado por um indivíduo que compreenda que o prazer obtido pela bebida, pode causar sérios problemas de saúde, de perda de controle e os prejuízos inerentes a essa perda. O custo pode ser muito grande, para um benefício sem tanto valor.
Lutar por um grande amor, pode levar o indivíduo a arriscar tudo, inclusive a própria vida, ao considerar que o benefício pode ser maior que qualquer custo. Por outro lado, ao perceber que seu amor não é correspondido, desistirá de lutar ao compreender que nada poderá propiciar essa reciprocidade, por não depender de vontade humana.

Redirecionamento
O sonho de ser jogador de futebol, pode Ter sido motivado pelo desejo de ser admirado por uma platéia. Se o indivíduo perceber que não tem o menor talento para esse esporte, poderá tentar outro que lhe propicie a admiração pretendida. Ele poderá encontrar, até fora do esporte, uma atividade que satisfaça seu objetivo principal.
Quem sonhou em ser patrão, pode se realizar como funcionário, comandando, criando, decidindo, causando admiração e sendo remunerado satisfatoriamente.
Refletir, pesquisar, aprender e compreender; pode minimizar o sofrimento da perda de um grande amor, ajudando a ultrapassar o tempo necessário para a diminuição desse sentimento, propiciando crescimento e maturidade.

Substituição
A fé tem propiciado que dependentes de drogas se afastem delas. A prática de esportes também tem ajudado nesse problema.
Desafios, podem ajudar a mudar vontades de quem tenha espírito aventureiro.
POSSE E DESEJO
Água é água, mas seu valor depende de sua escassez ou abundância. A luz será muito mais valorizada quando faltar do que quando estiver disponível. A saúde precisa da doença para Ter seu valor ressaltado. A riqueza terá pouco valor se não for comparada à pobreza. O amor terá seu valor reconhecido quando estiver ameaçado ou for perdido. Em fim, costumamos não dar muito valor ao que temos e super-valorizamos o que não temos ou perdemos. Por mais que nos esforcemos, não conseguimos valorizar ao máximo o que temos, se não o perdermos ou sentirmos que está ameaçado.
A razão diz que isso é um absurdo, que deveríamos valorizar ao máximo o que temos e não dar tanto valor ao que desejamos conseguir. No entanto, a emoção teima em provocar sentimentos que contrariam a razão, por isso a insatisfação é a companheira mais constante do ser humano.
Parece que a conquista é o objetivo da vida. Ela se manifesta através da vontade, que provoca o desejo, que busca satisfação. O que já temos não precisa ser conquistado, não provoca desejo e não oferece satisfação. É comum que o valor do que já conquistamos, diminua significativamente em relação ao que lhe atribuímos quando o desejávamos.
O comerciante talentoso, mesmo que inconscientemente, usa essa característica do ser humano, para Ter sucesso nos negócios. Ele age ao contrário, super-valoriza o que tem e procura desvalorizar o que pretende adquirir.
Um comerciante de automóveis usados, sabe que o cliente pretende trocar o carro que tem, por outro, porque não está satisfeito e pretende satisfazer seu desejo, que é possuir outro carro. O comerciante aproveita a pré-disposição do cliente de super-valorizar o que pretende e desvalorizar o que tem. Para tanto, realça as qualidades do carro que pretende vender e que atendem o desejo do comprador, escondendo os possíveis defeitos, enquanto faz o contrário com o que pretende receber em troca; realçando defeitos e escondendo qualidades. O cliente sente-se apoiado no seu desejo e reforça sua crença de que estava certo: que precisa se livrar do que tem, por estar defeituoso e adquirir o outro que oferece tantas vantagens. A razão poderia lhe mostrar que a realidade não é bem aquela, mas a emoção trabalhará a favor do comerciante.
Os vigaristas tem talento especial para explorar essa característica em suas vítimas, explorando-as para aplicar seus golpes.
Quando percebemos que poderemos perder o que temos, sentimos seu valor realçado, mas ao invés de nos esforçarmos para reconquistá-lo, tentamos mantê-lo à força, provocando problemas que diminuirão as possibilidades de continuar desfrutando-o e, muitas vezes, causando a perda irreparável.
Em um casal, o ciúme é provocado pela crença de que o desfrute do companheiro está em risco. Não importa se esse risco é real ou não, o importante é que o indivíduo se sente ameaçado. Isso acontece porque ele acredita que é menos valorizado que o rival, caso contrário, não teria motivos para se preocupar.
A racionalidade indica que ele deveria realçar suas qualidades, minimizar seus defeitos, mostrando à sua amada que ele tem muito mais valor do que o suposto rival, além de investir para reforçar o amor que a companheira sinta por ele e demonstrando o quanto a ama. Isso representaria o reconhecimento de que não valorizara suficientemente o que estava a sua disposição, buscando corrigir o erro cometido.
Ao invés disso, ele prefere acusar a mulher de leviana, o rival de conquistador sem escrúpulos, alegando ser vítima de injustiça. Isso pode ser verdade, mas não o é na maioria dos casos. Ele passa a acusar a mulher, restringindo-lhe a liberdade, cobrando fidelidade, ameaçando. Se a mulher não tinha motivos para repudiá-lo, passa a tê-los e o que não passara de imaginação, pode se tornar realidade, provocando a separação depois de um período de brigas e sofrimento. Isso tanto acontece com homens como com mulheres.
Enquanto o fantasma do rival não aparece, é comum que o homem não sinta o quanto a mulher lhe é importante. Gaste tempo com outras coisas de menor valor, deixando de aproveitar os prazeres que a companhia dela poderia lhe propiciar. Ao sentir-se ameaçado, ao invés de tentar reconquistar, agride; provocando a perda do que não soube valorizar.

A vontade de conquistar é a energia que propicia o avanço, as descobertas, as invenções, o conhecimento e seu aproveitamento, em fim, o que se chama de progresso. Sem a vontade de conquistar, a vida seria estagnada. Se é verdade que a vontade de conquistar propicia resultados positivos e benéficos para a humanidade e para o indivíduo; não é menos verdade que ela é fonte de grandes males e sofrimento.
Avaliar as vontades, incentivando as positivas e eliminando as negativas; propiciaria a eliminação de grande número de problemas que afligem o indivíduo e a sociedade.
Conseguir valorizar o que já tem, desfrutando-o ao máximo possível, pode aumentar o prazer e felicidade do indivíduo, aliviando a pressão que sofra para lutar por novas conquistas.
O equilíbrio entre valorizar o que já tem e buscar novas conquistas; pode ser a melhor maneira de aproveitar a vida.
Isso é bastante lógico e sobram argumentos racionais para comprová-lo; no entanto, é muito difícil de ser conseguido na prática. A vontade costuma reagir à razão e, grande parte das vezes, impede que suas recomendações sejam seguidas. Por que isso acontece?

VONTADES NAS DIFERENTES DASE DA VIDA
NA CRIANÇA:
A criança deseja brinquedos, guloseimas, passeios, colegas

NO ADOLESCENTE
O adolescente deseja: carros, motos, moda, admiração, reconhecimento, admiração, livrar-se de obrigações, ter liberdade, namorar.

NO JOVEM
Além dos desejos do adolescente, o jovem pode desejar conhecimentos, ganhar dinheiro para satisfazer seus desejos, constituir família.

NO ADULTO
Pode acrescentar aos desejos da juventude, segurança, saúde, educação dos filhos, acumular capital para garantir o futuro.

SATISFAÇÃO DE VONTADES
Algumas das vontades dependem de dinheiro para sua satisfação. Outras, dependem de conhecimento e compreensão. Há as que dependem da estética e do cuidado com ela. A emoção será uma companheira constante, ajudando ou atrapalhando. Oportunidades e sorte serão necessárias para muitas das realizações e seu aparecimento ou não, dependem do mistério e muito pouco ou nada, do indivíduo.

A criança dependerá da família e do próprio comportamento para satisfazer seus desejos.
O adolescente, além da família e de seu comportamento, poderá agir para conseguir algumas realizações através de estudo e trabalho.
O jovem poderá ter uma autonomia maior para lutar para satisfazer seus desejos.
O adulto dependerá de si para tentar satisfazer seus desejos, podendo contar com a ajuda da família, principalmente, a que constituir.

O dinheiro poderá satisfazer muitos desejos. A maneira normal de consegui-lo é através do trabalho.
A quantidade de dinheiro conseguido através do trabalho, depende muito mais da qualidade do que da quantidade. A qualidade é conseguida através do estudo, da compreensão e do aperfeiçoamento pela prática. A qualidade para o trabalho depende de características pessoais, principalmente, do talento. As oportunidades dependerão da sorte e suas causas são um mistério.

Alguns desejos dependerão da racionalidade, do conhecimento e da compreensão, para sua satisfação. Viabilizar disponibilidade de tempo, aproveita-lo da melhor maneira, não desperdiçar oportunidades, identificar vontades que possam ser prejudiciais e despreza-las; são necessidades fundamentais. Analisar as emoções, esforçando-se para acentuar as boas e desprezar as prejudiciais, é muito importante.
As características físicas poderão ajudar bastante, principalmente, para satisfazer a vaidade. No entanto, valores morais, emocionais, sociais, cultura, intelecto, talento, podem propiciar admiração e reconhecimento, satisfazendo a vaidade, desde que devidamente lapidados. As características físicas tendem a se deteriorar com o passar do tempo, enquanto as outras, desde que cultivadas, tenderão a aumentar e se acentuar.

Da administração de vontades e de suas realizações, dependerá muito a qualidade de vida do indivíduo. Muitas vontades satisfeitas resultam em decepções e frustrações, demonstrando falta de conhecimentos e avaliações anteriores.


DEPARTAMENTOS DA MENTE

EMOÇÃO
Ela tem autonomia, acontecendo independente da vontade consciente do indivíduo e, até, contrariando-a. Gera sentimentos que ocasionarão felicidade ou infelicidade, nas mais variadas intensidades. Como a vontade, ela costuma desconsiderar as avaliações da razão que desaconselhem sua satisfação, tentando manipulá-la, produzindo argumentos que justifiquem o que pretende. Amor, ódio, depressão, esperança e amizade, são exemplos de emoção. Ela gera sentimentos como: alegria, angústia, medo, raiva, revolta, ternura, etc. Sem controle da razão consciente e de valores positivos, ela pode ser fonte de grandes problemas.

INTELIGÊNCIA RACIONAL
Ela busca dados, analisa-os, reflete, estabelece hipóteses, gera teses, verifica a validade das hipóteses e conclui. É comum que a emoção e a vontade tentem dificultar sua ação, principalmente quando essa ação as contraria.


INTELIGÊNCIA EMOCIONAL
. Ela é usada pela emoção para justificar suas pretensões, com parcialidade, desprezando dados e considerações que não lhe interessem.

PENSAMENTOS INVOLUNTÁRIOS
Eles ocupam a mente, independente da vontade consciente do indivíduo e, até, contra ela. São repetitivos como as pancadas de um monjolo e tentam ocupar a mente o maior tempo possível, dificultando a ação da inteligência racional.

MEMÓRIA
A memória é uma espécie de banco de dados, com autonomia para armazená-los, independente da vontade consciente do indivíduo. Ela guarda dados que ele gostaria de descartar e reage a guardar o que ele gostaria de Ter disponível. Nega-se a fornecer dados quando ele os pretende, disponibilizando-os quando não são mais necessários. Sobre um fato, fornece dados irrelevantes, sonegando os significativos.
Ela pode guardar uma seqüência detalhada de dados sobre um fato ou somente alguns fragmentos. Dificilmente ela guarda fatos como uma gravação, obrigando o indivíduo a reconstruir fatos passados, a partir de dados que ela fornece, possibilitando que, um mesmo fato, seja relembrado diferentemente em tempos distintos.
É evidente que a memória é particular do indivíduo, mas não está sob seu domínio. Quem a domina?

EMOÇÃO, RAZÃO, MEMÓRIA, TALENTO, VONTADE, IMPULSO, INTUIÇÃO, SENSAÇÃO, REFLEXOS, PENSAMENTOS INVOLUNTÁRIOS, INSTINTO DE SOBREVIVÊNCIA, TIMIDEZ, SONHOS.
Tudo isso existe em nós. A não ser a racionalidade e a memória, que podemos usar, o resto tem autonomia em relação a nós, ao nosso consciente. Eles nos usam, separadamente ou em conjunto. Nós podemos acessar a memória, mas ela costuma nos sonegar informações que detém. Por outro lado, os pensamentos involuntários tem origem na memória e é provável que ela os coloque na nossa mente, comandada pela emoção. Ao usarmos a racionalidade não o podemos fazer com total liberdade. A emoção tenta interferir, a memória nos sonega informações, o pensamento involuntário tenta nos desviar dos objetivos. A intuição tenta prevalecer sobre a lógica. Todos esses elementos interferem em nossa vida, isoladamente, associados, concomitantemente ou intercaladamente. Por que? Quem os comanda? A que interesses atendem?

No decorrer da vida, o indivíduo vai recebendo conhecimentos. Enquanto recebe informações através dos sentidos, também recebe as fornecidas pela sociedade. Parece que, em princípio, as informações são recebidas como verdadeiras e a única crítica que sofrem é baseada em interesses do indivíduo, se lhe é favorável ou não, se lhe faz bem ou mal, se causa felicidade e prazer ou infelicidade e sofrimento.
O conhecimento municia a vontade, diversificando-a. Não se deseja o que não se conhece. Aparentemente, a vontade não tem capacidade crítica, ela quer, sem saber se aquilo é bom ou ruim.
É provável que as primeiras dúvidas a respeito da verdade e validade dos primeiros conhecimentos aconteçam pela contradição propiciada pelo aumento da quantidade de conhecimentos, de informações. A dúvida seria provocada pela contradição entre informações, quando fossem comparadas. Nesses casos é muito difícil não Ter dúvidas, mesmo sem a participação da racionalidade refletindo, analisando mais profundamente. Sem racionalidade, o indivíduo pode permanecer na dúvida indefinidamente, oscilando entre as possibilidades, esquivando-se de julgar a validade das informações. A vontade, a emoção, a sensibilidade e a intuição, poderão optar entre as opções que provocam a dúvida.
A dúvida poderá provocar a racionalidade consciente que passará a pesquisar, juntar dados, analisá-los e concluir. A racionalidade poderá levantar mais dúvidas, podendo chegar ao ponto de duvidar de tudo. Afinal, se uma verdade permaneceu por um tempo como válida e, depois, foi desmentida; qualquer certeza atual poderá ser verificada como inválida a qualquer momento.
Por algum motivo, muitas pessoas não conseguem Ter dúvidas, precisam só Ter certezas. Da mesma maneira, não conseguem admitir seus erros, sua falibilidade e, por isso, procuram escondê-los e, quando não for possível, justificá-los, tentando desclassificá-los como erros ou tentando minimizar-lhes os efeitos e acusando causas que as teriam forçado a cometê-los.
A racionalidade provoca dúvidas. Para os que tem dificuldade para lidar com dúvidas, uma maneira de fugir delas é evitar a racionalidade. Seus julgamentos se baseiam em preconceitos, dogmas, sentimentos e vontade. Essas pessoas não analisam, simplesmente comparam.
Outra coisa que possibilita julgamentos sem a intervenção da racionalidade é a idolatria., a repulsa e o modismo. A idolatria pode levar o indivíduo a tentar imitar seu ídolo, sem questioná-lo. Tenderá a imitá-lo como ele o vê e sente, mesmo que essa visão e sentimento sejam distorcidos. O ídolo pode ser do bem ou do mal, mas será sempre admirado pelo fã, que considerará suas características como qualidades, mesmo que sejam defeitos. Não é pequeno o número de indivíduos que tenta imitar os defeitos do ídolo, desprezando suas qualidades. Não sei porque, mas o mal tem mais fãs do que o bem.
A idolatria e o modismo escravizam o indivíduo, tornando-o elemento de uma tribo, sem individuação. É como um produto produzido em série, igual a tantos outros, sem características individuais.
É interessante observar que muitos modismos e idolatrias não passam pela mídia convencional; eles se propagam entre indivíduos, abrangendo grandes regiões. Funciona como certas doenças contagiosas em que um indivíduo em contato com um grupo infectado, transporta o vírus e contamina outras pessoas em outros lugares por onde passa. Isso acontece com gírias, vestuário, uso de drogas, etc.. Os indivíduos contamináveis aceitam a contaminação com facilidade, como se estivessem sedentos por ela. É como se estivessem desejosos de algo diferente e, por falta de criatividade, aceitam a novidade que aparece sem questioná-la. Além de aceitar a novidade, passam a ser vetores de contaminação, contribuindo para o alastramento.
Outra coisa que afeta os indivíduos é a vontade de fazer coisas que a persona (o que o indivíduo acredita ser e como pretende ser visto) deplora. É o caso de Ter vontade de fazer justiça com as próprias mãos, sentindo prazer em imaginar que se está fazendo isso, com requintes de sadismo. É a vontade de enfiar agulhas entre as unhas do desafeto, enfiar-lhe o cano de um revolver na boca, dominando-o, sentindo prazer com seu desespero e humilhação. Isso acontece até com os que deploram a violência e são defensores da justiça e dos direitos humanos.
O desejo de vingança é um forte componente da emoção, e parece ser inato. Ele só não se realiza, pelo medo de desnudar a persona ou das conseqüências sociais que isso possa causar, isto é: as penalidades previstas; além da incapacidade, falta de força ou poder para realizar esse desejo.
CONHECIDO QUE NÃO SE CONHECE
Em que a teoria psicológica pode ajudar no entendimento do que acontece com o ser humano? Aparentemente ela criou uma estrutura para selecionar algumas coisas e agrupá-las em compartimentos distintos. No entanto, a separação dessas coisas não possibilita a compreensão de suas causas, nem da origem. Sem isso é impossível solucionar os problemas. A única coisa possível é minimizar os efeitos, normalmente, por substituição, trocando as influências. Será isso mesmo?
As coisas são, para o indivíduo, o resultado do seu julgamento, resultado de análise, comparação, sensação, sentimento, etc. São uma interpretação e não algo inquestionável. Uma mesma coisa poderá ser bastante diferente para cada indivíduo de um determinado grupo. O que é bonito para uns, é feio para outros. O mesmo acontece com o ser bom ou ruim, agradável ou desagradável. Uma mesma coisa poderá Ter interpretações diferentes pelo mesmo indivíduo, em situações e tempos diferentes. A água, por exemplo, será abençoada por quem esteja com muita sede; enquanto esse mesmo indivíduo poderá amaldiçoá-la quando sua casa for tomada por uma enchente.
Uma pessoa poderá ser amada por uns e detestada por outros. O sentimento que ela desperta nos outros depende, além de suas características, do estado de espírito deles, que a verão de maneiras diferentes, mesmo quando ela continua igual.

Segundo Descartres, a base de toda descoberta é um axioma tirado da intuição intelectual. Isso só é possível se duvidarmos e nos desprendermos das verdades aceitas como irrefutáveis, mas sem comprovação racional. Para prosseguir é necessária a dedução. A corrente dedutiva leva em conta a ordem das razões, a ordem como as coisas se apresentam ao entendimento em seu grau de simplicidade e não na ordem das matérias ou na ordem das coisas nelas mesmas.
A princípio, Descartes sentiu-se perdido nas trevas ao duvidar do conhecimento existente, pelas indicações de que eram falhos, e por não Ter um ponto de partida onde embasar o conhecimento que pretendia descobrir. Por isso a busca de um método que demonstrasse confiabilidade ao conhecimento.

CONSTATAÇÕES:
1- O amor acontece independente de nossa vontade e, até, contra ela. A emoção é autônoma e acontece independente de nossa racionalidade.
2- Pensamentos invadem nossa mente independente de nossa vontade e, até, contra ela, mesmo quando nossa racionalidade demonstra serem absurdos e incabíveis.
3- A emoção usa a racionalidade para tentar justificar o que lhe interessa, manipulando-a, distorcendo dados, pretendendo que nos vinguemos do que ou de quem, segundo ela, Teria a culpa pelo nosso prejuízo ou sofrimento. A mágica, através da ilusão, nos faz ver o que não existe na realidade. O mito da caverna, de Platão, indica que é possível que o que vemos sejam sombras, uma representação da realidade. Afinal, o que é ilusão, fantasia ou real? Que certeza podemos Ter a respeito de que o que vemos e sabemos é real? É reconhecível que a emoção usa a razão para tentar justificar, ilusoriamente, o que lhe interessa, convencer de que ela tem razão. Se ela usa a razão contra nossa vontade, como podemos Ter certeza de que o que raciocinamos não pode estar contaminado pela emoção e seus interesses? Que garantia temos de que não somos iludidos a acreditar que analisamos quando, na verdade, estaríamos assumindo a autoria de algo que nos foi imposto?
4- Solidariedade, humildade e amizade são fonte de felicidade, conhecimento e prazer. Seus opostos: egoísmo, prepotência e inimizade, são fonte de infelicidade, ignorância e sofrimento. Por que o egoísmo, prepotência e inimizade são preponderantes no ser humano?
5- Muitas pessoas são dominadas por preconceitos e dogmas, reagindo à racionalidade, a análise de dados, em fim, ao raciocínio lógico. Seria isso causado só pela preguiça mental?
6- O grau de certeza em um indivíduo é inversamente proporcional a seu conhecimento e compreensão. Todo indivíduo teve a oportunidade de verificar que esteve errado em algo que teve certeza estar certo. Muitos indivíduos nunca deram atenção a isso, não conseguindo perceber o quanto estamos sujeitos a nos enganar. Se já percebemos, ainda que uma única vez, que algo que consideramos verdadeiro não o era, que segurança poderemos Ter sobre as verdades que consideramos hoje?


Jung baseia suas pesquisas na interpretação dos fenômenos, que são os dados disponíveis para o raciocínio. Ele considera que a ciência cria metáforas para explicar a natureza, uma vez que a verdade absoluta é incognescível, fora do alcance da capacidade humana para compreendê-la absolutamente.
A racionalidade nos permite analisar dados, formular hipóteses, estabelecer axiomas, formular teses que justifiquem as hipóteses consideradas. Tanto mais aceitáveis serão as teses quanto as tentativas de contradize-las se mostrem inaceitáveis. A impossibilidade de invalidar hipóteses e axiomas faz com as teses sejam aceitas como válidas.
É difícil compreender algo se não forem identificadas as causas. No entanto, muitas vezes, diante da impossibilidade de identificá-las, resta analisar os fenômenos, os efeitos, tentando interpretá-los, tentando eliminar hipóteses inaceitáveis, reduzindo ao máximo as possíveis causais, buscando interpretações aceitáveis e, quando for o caso, possíveis soluções.
Há casos em que o número de variáveis e suas combinações possíveis é muito grande e nem sempre todas participam, alternando participações e combinações, mas resultando nos mesmos efeitos. O efeito pode ser constante, mas as causas variáveis.
A busca da verdade, da identificação de causas, do conhecimento que leve à compreensão absoluta é o que leva o ser humano a pesquisar, empregando todo seu potencial. O inconformismo do ser humano por não saber, o leva a isso. No entanto, é preciso Ter em mente a grandiosidade do mistério que nos envolve, da grandiosidade da natureza, do universo, da sua origem. Da complexidade da interrelação entre os componentes.


TRABALHO
Em geral, o tempo gasto no trabalho somado ao transporte para chegar a ele e para a volta, consomem praticamente um terço da vida produtiva do indivíduo. Portanto, a qualidade de vida do indivíduo depende muito do que o trabalho provoca no seu íntimo.
A maior evidência de que o trabalho pode ser fonte de satisfação e prazer, é quando sua atividade é praticada como esporte, lazer ou prestando solidariedade.
O trabalho é o meio pelo qual o ser humano consegue a sobrevivência. Ele depende do trabalho próprio ou da exploração do trabalho alheio. Mesmo o explorador do trabalho alheio, não consegue se livrar totalmente do trabalho próprio, cuidando para que a exploração seja produtiva e lucrativa, além de direcionar os resultados. O termo, explorador, aqui, não tem, obrigatoriamente, conotação pejorativa; ele se refere a quem organiza trabalhadores para executarem o que não conseguiriam independentemente, recebendo por isso.
O trabalho pode acontecer com atividades mentais, ações físicas ou a combinação das duas.

A vontade de ganhar dinheiro é comum a praticamente todo indivíduo. A maneira como cada um tenta consegui-lo é que os diferencia.
O trabalho é o meio mais usado par conseguir o objetivo. Isoladamente, dificilmente ele propicia mais que o necessário para a sobrevivência. O que se associa a ele é que fará o diferencial.
Trabalho braçal
Talento + trabalho
Talento+estudo+trabalho
Talento+estudo+racionalidade+trabalho
Talento+estudo+racionalidade+sorte+trabalho
Quanto maior e mais eficiente for o que se associa ao trabalho, menor será o esforço necessário.
Facas, machados, foices, serrotes, em fim, ferramentas de corte, quando cuidadosamente preparadas e afiadas, diminuirão em muito o esforço físico exigido no trabalho, com resultados de melhor qualidade. Para tanto é necessário investir trabalho na preparação das ferramentas.
Um músico talentoso terá facilidade para tocar um instrumento. Se estudar o que outros já descobriram a respeito do instrumento e o que ele pode propiciar; conseguirá muito mais qualidade em um tempo bem menor, do que se tentasse descobrir esses detalhes por experiência própria. O estudo tem como objetivo poupar tempo e esforço na tentativa de descobrir o que já é conhecido. Sem talento, o músico poderá aprender a tocar um instrumento, porém com mais dificuldade e menor qualidade.

A maneira mais comum de conseguir a sobrevivência, através do trabalho, é utilizando a remuneração obtida, para a compra de produtos que a possibilitem; o chamado salário.
O trabalhador recebe o salário pela venda de sua força de trabalho. A empresa vende o produto do trabalho e consegue o lucro, considerando-se este, como a diferença entre a receita e as despesas. No sistema capitalista não se admite trabalho sem salário, nem empresa sem lucro. São estes dois ingredientes que possibilitam a vida neste sistema.
Intimamente ao trabalhador, o trabalho pode causar sofrimento ou prazer, nas mais variadas intensidades. Isso afeta, também, o empresário. Portanto, além de salários e lucros, o trabalho gera emoções e sentimentos.
Depois de uma jornada de trabalho, operários braçais podem continuar gastando energia física num jogo de futebol. Trabalhadores intelectuais, podem se empenhar em jogos, leitura, etc., depois de sua jornada de trabalho. É comum que muitas atividades que para uns é trabalho e propicia salário; para outros seja lazer e exijam despesas para sua prática. Portanto, é evidente que o trabalho pode propiciar felicidade.
O trabalho pode resultar para o indivíduo: salário, cansaço, dor, mágoa, inveja, ódio, baixa auto-estima, solidão, insatisfação, depressão, lentidão na passagem do tempo reforçando o sofrimento, estresse, etc.. Por outro lado, pode propiciar, além do salário, amizade, aprendizado, solidariedade, satisfação, companheirismo, diversão, alegria, etc..
Os trabalhadores que se enquadram no primeiro caso, despendem muito mais que a força de trabalho em troca do salário. Já os do segundo caso, além do salário, recebem felicidade, em troca de sua força de trabalho. É evidente a diferença dos resultados conseguidos por uns e pelos outros.

RELAÇÃO EMPRESA-FUNCIONÁRIOS
Empresa e funcionários são interdependentes, um não pode existir sem o outro. Em uma relação sadia, os funcionários entendem que o seu emprego depende do sucesso da empresa e contribuirão para que ele seja o melhor possível. A empresa compreende que seu sucesso é diretamente proporcional à qualidade do trabalho de seus funcionários. Cada parte se empenhará para que a outra consiga o maior benefício possível. Isso propiciará que ambos ganhem.
Infelizmente, em muitas empresas acontece o contrário: cada parte vê a outra como vilã, considerando que não deve colaborar e, se possível, sabotar. O funcionário considera que o objetivo da empresa é explora-lo; a empresa acredita que, se tiver oportunidade, o funcionário fará o possível para prejudica-la. É evidente que esse tipo de comportamento é prejudicial para ambas as partes.
A diferença entre essas duas situações, é que, na primeira, impera a solidariedade e, na segunda, o egoísmo. Isso acontece tanto no trabalho, como em qualquer relação social. Compreender que solidariedade é tão benéfica para quem presta quanto para quem recebe, é importante para buscar eliminar o egoísmo que causa prejuízos a todos.

Empresa, trabalho, consumidor e estado, são interdependentes e do seu relacionamento depende a qualidade de vida da sociedade. Portanto, é fundamental que se compreenda e respeite os direitos e deveres de cada um, para que haja harmonia nos relacionamentos.
Isso é fácil de perceber, mas difícil de praticar.


CARACTERÍSTICAS PARA O TRABALHO
Características dos indivíduos que participam das atividades econômicas: Indústria, comércio, serviços, ciência, tecnologia e artes.
Facilidade para:
Atividades físicas
Atividades intelectuais
Manuseio delicado e preciso
Manuseio
Acuidade de sentidos
Sensibilidade
Sensibilidade artística
Intuição
Memória

ATIVIDADES FÍSICAS
Há pessoas para as quais atividades físicas não causam desconforto nem são sacrificantes, o que lhes permite desenvolve-las com relativa facilidade.
É o caso de lavradores, serventes de pedreiro, marrueiros, carregadores de caminhões, trens; estivadores, etc..
Outros são capazes de permanecer imóveis por longos períodos e o fazem com relativa facilidade. É o caso de porteiros, vigilantes, etc.

ATIVIDADES INTELECTUAIS
Há pessoas que têm facilidade para racionalizar, coletar dados, analisa-los, refletir, formular hipóteses, desenvolver teses e concluir.
Elas podem ser corajosas e se atrever a arriscar, objetivando criar algo novo ou reformulações. Podem ser medrosas e precisar de apoio para atrever-se, sem ter que assumir a responsabilidade por eventuais fracassos. O fracasso é companheiro assíduo das tentativas de inovações. É comum que cada sucesso seja precedido de vários fracassos. Não aceitar o fracasso é um grande empecilho para obter sucesso.
Há pessoas que tem conhecimento suficiente para interpretar idéias alheias, detalha-las e transforma-las em rotinas, construindo gráficos e textos elucidativos. Outras, são eficientes na condução e orientação para a execução de rotinas pré-estabelecidas.
O indivíduo criativo pode ter dificuldade em detalhar o que criou. Outro, com conhecimento suficiente, pode construir o detalhamento necessário para que a idéia inicial tenha validade prática. Um bom intérprete pode evitar a necessidade de maiores detalhamentos, complementando as informações diretamente a quem irá executa-las.
Fica definido que atividade intelectual é aquela necessária à criação, detalhamento e interpretação. É o caso de cientistas, engenheiros, médicos, advogados, tecnólogos, técnicos, desenhistas projetistas, desenhistas, processadores de textos, construtores de maquetes e modelos, enfermeiros, mestres práticos, etc.

MANUSEIO DELICADO E PRECISO
Há pessoas capazes de manusear com delicadeza e precisão, coisas muito pequenas e sensíveis. É o caso de relojoeiros, ourives, técnicos em eletrônica, cirurgiões, etc.
Pode-se considerar nesse caso, também, músicos e artistas plásticos.

MANUSEIO
Entende-se, aqui, por manuseio, não somente o uso das mãos e, sim, de qualquer parte do corpo que crie movimentos de objetos. É o caso de operadores de máquinas, ferramentas, equipamentos e materiais. Normalmente são profissionais de ofício, como torneiros, pedreiros, ferramenteiros, pintores, serralheiros, tapeceiros, enfermeiros, manipuladores na agricultura e pecuária, motoristas, etc.
Pode-se incluir neste tipo de habilidades pessoais, os esportistas e vários artistas.

ACUIDADE DOS SENTIDOS
Há pessoas com sentidos mais acentuados que a maioria. É o caso de degustadores, afinadores de instrumentos, experimentadores de perfumes e outros odores, etc.


SENSITIVOS
São pessoas com sensibilidade acurada, percebendo o que é difícil para a maioria dos outros. É uma sensibilidade emocional, capaz de identifica-la em outros. Eles são capazes de identificar o estado emocional da pessoa que pretendem influenciar e usar a melhor estratégia para aquele momento. Essa característica é muito importante no comércio.

SENSIBILIDADE ARTÍSTICA
São pessoas capazes de captar emoções e transmiti-las através de atividades artísticas.

INTUIÇÃO
São pessoas capazes de ter informações e idéias difíceis de serem captadas por qualquer outro meio. Tem a impressão de que algo pode dar certo ou não, independente de racionalidade. Muitos empreendedores se valem desta característica para escolher seus empreendimentos.

MEMÓRIA
São pessoas com memória privilegiada, capazes de acessar dados com facilidade, dispensando outras fontes de consulta. Esta característica facilita o relacionamento, na medida que permite a lembrança da pessoa, de seu nome e de detalhes que passam despercebidos à maioria das pessoas, como nome de filhos, cônjuge e detalhes que lhe aticem a vaidade. É de grande ajuda para comerciantes e políticos.

OPÇÃO
Identificar em que características é privilegiado e em quais é deficiente, é fundamental para que o indivíduo faça opções.
Há pessoas que sentem verdadeira repulsão por atividades físicas como trabalho, embora possam sentir prazer em praticá-las como esporte ou lazer. Trabalhar em algo que exija esse tipo de esforço é sacrificante para esse tipo de pessoa, causando sofrimento físico e emocional, o que, naturalmente, redundará em baixa qualidade e produtividade.
Indivíduos muito criativos podem ter dificuldade em detalhar suas criações, ser persistentes na busca de realizações e, principalmente, seguir rotinas. O sucesso, muitas vezes, exige o cumprimento de todas essas etapas, mas como para o criativo é difícil realiza-las, precisa que alguém se ocupe delas para que o sucesso possa ser alcançado.
Alguém que tem habilidade manual para tocar um instrumento, sensibilidade emocional para interpretar música e ouvido aguçado; tem grande potencial para ser um artista de sucesso. No entanto, poderá ter dificuldade para divulgar e, principalmente, vender seu trabalho, o que dificultará que o sucesso artístico resulte em sucesso financeiro. Ele precisará de alguém que o divulgue e que cobre o quanto seu trabalho pode render. Essa segunda pessoa precisará ser comunicativa, sensível para usar a estratégia mais adequada para o momento e sentir qual o máximo que o comprador estará disposto a pagar. Caso tenha dificuldade para racionalizar e administrar capital e bens, será necessária uma terceira pessoa. É importante perceber que sem o divulgador e vendedor; de nada adiantará o talento do artista e a capacidade do administrador.
Dificilmente um único indivíduo terá todas as características necessárias para o sucesso de um empreendimento, exigindo que seja montada uma equipe, com tantos elementos quantos necessários para que todas as características necessárias estejam a disposição.



PAIS E FILHOS
Relacionamento e educação

Na relação entre pais e filhos, a questão dos valores têm sido desprezada. Os pais se consideram proprietários e pretendem moldar os filhos ao que lhes parece ser o melhor, sem considerar que eles são pessoas com particularidades que caracterizam a diferença entre os indivíduos.
Os pais acreditam que o conhecimento através da experiência é o valor determinante do bom e do ruim, do bem e do mal, do certo e do errado, desprezando a emoção, os sentimentos, os instintos, as sensações, os talentos e, principalmente, a força da vontade. Agindo assim, eles exemplificam o pouco valor do conhecimento sem a devida compreensão.
Filho precisa de proteção e de prevenção para que possa desenvolver seu potencial com máximo aproveitamento. No entanto, ele não é um material inerte que possa ser moldado à vontade de terceiros; está sujeito a forças internas que não aceitam dominação e que precisam ser compreendidas, propiciando aproveitamento das positivas e prevenção contra as negativas.
A super-proteção impede o desenvolvimento da auto-proteção, fragilizando o indivíduo, dificultando que se defenda dos males que o aflijam.
É comum que os pais pretendam proteger os filhos de sentimentos que experimentaram ou experimentam, desconsiderando que os sentimentos dos filhos podem ser diferentes. O que é bom para um, pode ser ruim para outro sem que se possa afirmar o que é certo ou errado, em grande número dos casos.
A racionalidade é importante para reflexões, avaliações e julgamentos, no entanto, muitas vezes, a vontade não aceita as conclusões da razão e exige a experimentação, provocando sofrimento enquanto isso não acontecer. Só a experiência ou o passar do tempo poderá satisfazer ou desfazer a vontade. Uma vontade insatisfeita poderá permanecer no inconsciente causando problemas que o consciente não lhes reconheça as causas.
A experiência é de suma importância para se determinar o que deve ser feito. Para tanto, ela deve ser refletida e compreendida. Infelizmente não é o que tem acontecido com a educação. A experiência tem demonstrado que muitos procedimentos têm sido inócuos, outros tem se mostrado prejudiciais, no entanto, mesmo diante das evidências, eles continuam sendo repetidos, impedindo que se busque solução por outros caminhos.
Dados são fundamentais para a análise e reflexão. Até o final da infância, ninguém tem mais possibilidade de coletar dados sobre as crianças do que os pais. A falta de dados dificulta a ação de profissionais que intervirão na formação e correção do indivíduo. Os pais deveriam manter um diário onde registrariam os dados apresentados pelos filhos. Para ser uma fonte de consulta eficaz, esses dados deveriam ir sendo filtrados, possibilitando a guarda do essencial. Eles seriam de grande ajuda aos professores, médicos e psicólogos, além de aos próprios pais. No entanto, quantos pais mantém um banco de dados assim?
A partir da adolescência, o próprio indivíduo deveria se encarregar de registrar diariamente as ocorrências e sentimentos. Isso poderia ser de grande ajuda.
A falta de compreensão de suas próprias características, do seu comportamento causando problemas para os outros e para si próprios, leva os adultos a colaborar negativamente na educação das crianças, acreditando que estão ajudando, quando, na verdade, causam grandes prejuízos.
O choro de uma criança representa insatisfação ou sofrimento. Pode ser causado por problemas físicos como: dor, fome, sede, desconforto, ou por sentimentos como: medo, falta de atenção, carinho ou desejos. É importante que o indivíduo perceba desde criança que vontades e necessidades sofrem limitações para seu atendimento. Algumas satisfações são realizadas com facilidade, outras são conseguidas com média dificuldade, há as que são de difícil realização e outras são impossíveis de acontecer. Não perceber isso é uma grande fonte de sofrimento.
Quando os pais se esforçam para atender desejos da criança, sem deixá-las perceber o quanto aquilo custou, estão contribuindo para que acreditem que podem conseguir tudo com facilidade, revoltando-se quando a satisfação não acontecer, desconsiderando o nível de dificuldade envolvido.
É comum que pais e professores exijam de filhos e alunos, o que eles têm grande dificuldade de oferecer, por causa de características particulares, dificuldades inerentes a cada um. Muitas dessas ações causam frustrações e prejuízos ao amor próprio. Esses adultos não percebem que passaram e continuam passando por situações em que são cobrados a realizar o que lhes é muito difícil e, até, impossível. Ao invés de aproveitar a experiência para corrigir o futuro, a educação tem contribuído para perpetuar erros do passado.
É muito grande o número de exemplos que demonstram isso. Um deles é o que força as crianças a comerem mais que o necessário, ocasionando gordura excessiva, que, no futuro, exigirá regimes e outros sacrifícios para eliminá-la. Na escola, é comum cobrar do aluno que decore detalhes sem grande importância, enquanto é deixado de avaliar o quanto foi compreendido da matéria. É dado muito mais valor ao conhecimento do que à compreensão. Os alunos são alfabetizados, mas tem enorme dificuldade para interpretar o que lêem e para expressar o que pretendem. A dificuldade para interpretar textos, os impede de resolver problemas de matemática, física, química, biologia, etc., por não entenderem o que a questão está pedindo. Matemática e física propiciam o desenvolvimento do raciocínio lógico; no entanto, os alunos se dedicam a decorar fórmulas, sem compreender os porquês delas e não se percebe ações da escola para modificar isso. Esses problemas existem na educação desde a pré-escola até os cursos de extensão e pós-graduação; gerando frustrações e infelicidade.

PROTEÇÃO DA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA
A ignorância e a distorção de valores têm levado à criação de leis com rigidez perniciosa. A legislação sobre infância, adolescência e juventude, cria obstáculos a educadores conscientes, capazes e bem intencionados, ao mesmo tempo que não evita que verdadeiras barbaridades sejam cometidas pela ignorância e distorção de valores.
O trabalho contribuiu para que muitas crianças e adolescentes se transformassem em adultos responsáveis. A lei impede que isso continue a acontecer, no entanto, o trabalho infantil, escravo, continua acontecendo, por impossibilidade de fiscalização. A quantidade de crianças que aprenderam pelo trabalho é muito maior que as que foram escravizadas. A lei impediu a continuidade do que era bom e não corrigiu o errado. Pode ser que o ideal seja que as crianças e adolescentes não trabalhem e a lei tem conseguido livrar muitos do trabalho escravo e descabido, no entanto, a maioria dos explorados o continua sendo e o grande número de crianças e adolescentes que se beneficiava do trabalho deixou de sê-lo, o que mostra que a lei ocasionou custos altos e benefícios muito pequenos.
Talvez, o ideal seria que as crianças pudessem brincar, aprender e desfrutar de prazer e alegria, antes de chegar a idade de assumir responsabilidades. Será que isso seria realmente melhor? Um trabalho adequado pode ensinar, distrair e, até, causar prazer, sem impedir o estudo, brincadeiras e diversão.
É muito grande o número de crianças que gasta boa parte do dia com jogos virtuais ou assistindo televisão. Que vantagens isso está oferecendo e que prejuízos provoca?
Os castigos físicos também são condenados pela lei, que se baseou no abuso do autoritarismo ignorante que abusava das agressões. Por outro lado, crianças que não conseguiam ser controladas por outros meios e que o eram por castigos a altura da necessidade, continuarão distorcidas, porque a lei proíbe os castigos que eram usados, propiciando resultados positivos.
Ninguém em sã consciência pode defender a agressão como meio de educar. No entanto, é preciso reconhecer nossa incapacidade para evitar algumas distorções que acontecem. Seria ótimo que houvesse meios de educar pela racionalidade, pelo controle da emoção, conseguindo com que as crianças aceitassem e usassem valores positivos e que os castigos pudessem ser abolidos totalmente. Isso ainda não foi conseguido. Por outro lado, conhecem-se inúmeros exemplos de castigos físicos que propiciaram correções e não causaram maiores conseqüências a quem os sofreu. Por que impedir o que demonstrou ser bom? Por outro lado, o ignorante e inconsciente continua abusando das agressões injustificadas e poucos são punidos por isso.
É evidente que as crianças, hoje, evoluem muito mais rápido que antigamente. A informática e a televisão contribuíram muito para isso. Elas têm demonstrado capacidades que não se imaginava que pudessem Ter nessa fase. Mostraram que aprendem com facilidade muitas coisas que são difíceis para os adultos. No entanto, o que é mais evidente, é a facilidade para aprender o que querem, o que lhes interessa, enquanto reagem a aprender o que seria necessário. Mostram grande competência para reivindicar e exigir direitos, mas reagem a cumprir deveres. Desenvolveram muito a esperteza, mas não a inteligência racional, os valores positivos e o respeito às regras de convivência em sociedade. Se tornaram especialistas em exigir direitos e fugir dos deveres, acentuando o egoísmo e a prepotência em detrimento da solidariedade e da humildade.
A legislação que pretende proteger as crianças e adolescentes, é um dos exemplos da incapacidade dos adultos. Uma lei não tem como considerar casos particulares. Para considerar a particularidade de cada caso é que existe o julgamento. Infelizmente, é flagrante a dificuldade de conseguir bons advogados para expor a realidade, propiciando que a justiça seja feita. Além disso, falta sensibilidade na interpretação, desconsiderando as forças a que o ser humano está sujeito. Isso tem propiciado a condenação de inocentes e absolvição de culpados.

A hipocrisia propicia que se “tampe o sol com a peneira”, favorecendo o crescimento da erva daninha enquanto se inibe o crescimento da planta desejável.
Antes de qualquer reforma, a educação precisa de reflexão crítica, da análise dos efeitos, busca de causas e encontro de soluções factíveis.
Enquanto não se conseguir influenciar a vontade do ser humano, dificilmente se conseguirá diminuir os problemas do indivíduo e da sociedade.

Se a razão for desconsiderada e a moral não oferecer restrições, o indivíduo tentará conseguir satisfação atropelando tudo e todos, sem preocupação com os males que possa causar. Poderá optar por roubar ao invés de trabalhar para conseguir o pretendido, por exemplo.
As informações acima são de conhecimento da maioria das pessoas, no entanto, a falta de compreensão as impede de usá-las para evitar ou resolver problemas. Que esperar de pais e educadores que defendem o que acham certo e criticam o que consideram errado, sem compreender os porquês de tais aceitações e rejeições? Grande parte das pessoas julga, aceita ou rejeita, com base em preconceitos que nunca questionou e que, portanto, desconhece sua validade ou não. Isso é causa de muito do que sofrem, no entanto, por ignorância, esforçam-se para que os filhos e alunos aceitem o que defendem, mas não compreendem. É comum que quando questionados, por filhos ou alunos, sobre a validade desses preconceitos, os adultos se neguem a discuti-los e tentem impor a aceitação. O autoritarismo é um grande dificultador da educação.
Como dito acima, a vontade costuma rejeitar as recomendações da racionalidade, insistindo para ser satisfeita. Muitas vezes os riscos de prejuízos são aceitáveis e vale a pena experimentar para se livrar da pressão da vontade. Outras vezes, no entanto, os prejuízos podem ser significativos, ocasionando custos elevadíssimos para benefícios irrelevantes. Nesses casos a vontade deve ser refreada a qualquer custo. Principalmente os pais devem atentar para isso, não cercear experiências que possam ensinar com riscos aceitáveis e impedir aquelas cujo custo é inaceitável. Para tanto, pode ser necessário usar a autoridade quando não possível convencer pela argumentação. É preciso diferenciar autoridade responsável e autoritarismo comodista.

ALGUNS EXEMPLOS
Desde a infância, uma menina tinha grande admiração por médicos. Isso desenvolveu nela a vontade de seguir essa carreira.
Ao ingressar no segundo grau, sabendo que o vestibular para medicina era muito disputado, empenhou-se co0m afinco nos estudos. Seguiu se esforçando durante o cursinho, a faculdade e a residência médica. Finalmente, formou-se e se tornou uma profissional respeitada.
Outra menina teve a mesma vontade. No entanto, não gostava de estudar, passando a infância brincando, só estudando o mínimo que achava necessário para passar de ano. Durante a adolescência não perdia uma festinha e namorava todos os meninos que a atraiam. Repetiu várias vezes e acabou desistindo da escola antes de concluir o primeiro grau. Continuou com vontade de ser médica, mas teve que se contentar em fazer faxina como diarista. Vive reclamando da sorte que não lhe permitiu realizar sua vontade.

Desde a mais tenra idade um menino sentia vontade de ser mecânico de automóveis. Aos doze anos, pediu ao pai que lhe conseguisse trabalho em uma oficina onde pudesse aprender o ofício. O pai considerou que aquilo era capricho de criança, dizendo que ele era muito novo para trabalhar e que deveria se dedicar aos estudos. Ele não desistia e continuou pedindo ao pai que lhe conseguisse um trabalho em uma oficina.
Aos quatorze anos, como o pai não o atendesse, ele próprio procurou uma oficina nas vizinhanças e pediu ao dono que lhe ensinasse o ofício, propondo-se a trabalhar para pagar o aprendizado. O pai relutou, mas acabou concordando desde que ele não abandonasse os estudos.
Lavava peças e ferramentas, varria a oficina e ajudava no que era possível, prestando atenção em tudo, acumulando informações e procurando compreender o funcionamento de todas as partes de um carro. Em alguns anos era um mecânico competente e montou sua própria oficina. Procurava manter-se atualizado, fazendo cursos e lendo publicações especializadas.

Um adolescente era fascinado pelo comportamento de alguns rapazes do bairro. Eles não trabalhavam nem estudavam. Dormiam até tarde e ficavam na rua até de madrugada. Eram assediados por garotas e viviam se metendo em confusão.
Os pais dele e todos da vizinhança viviam criticando-os, alegando que eram vagabundos, maconheiros e desordeiros. Ele, no entanto, admirava-os cada vez mais.
Acabou se aproximando deles e começou a servir de menino de recados. Começou a beber, fumar maconha e acompanhá-los em pequenos furtos. A mudança de comportamento chamou a atenção dos pais que se empenharam em mostrar-lhe o quanto o caminho que vinha trilhando era pernicioso, quanto sofrimento estava causando a eles e quanto ele sofreria em conseqüência disso. Fizeram de tudo para que voltasse a estudar e abandonasse aquelas companhias, mas não conseguiram e, depois de alguns anos, acabou morrendo num tiroteio com a polícia.

MISTÉRIO
Mistério é o desconhecido, o incompreensível, as causas com as quais não conseguimos atinar.
O mistério mais evidente é o surgimento do mundo, dos corpos celestes, sua organização e movimento. Quem pode compreender a criação da Terra, sua composição orgânica e inorgânica, a vida animal e vegetal, a reprodução, o equilíbrio dos sistemas, as degenerações e regenerações, os fenômenos climáticos, as catástrofes naturais.
A capacidade humana permitiu desvendar muitos mistérios, no entanto, são inúmeros os que continuam absolutos, principalmente o que se refere à origem da vida.
Se a origem da vida é um grande mistério, não o é menor o que envolve seu caminho em direção à morte, principalmente a do homem.
Muito se sabe sobre o corpo humano, sua composição, funcionamento, degenerações, regenerações, agressões e meios de combatê-las. São conhecidos detalhes infinitesimais da composição celular, dos mecanismos de multiplicação e substituição, da hereditariedade, etc.
É grande o conhecimento sobre o cérebro e o sistema nervoso, que constitui uma rede de comunicação extraordinária. É conhecido um grande número de técnicas e drogas capazes de interferir no corpo humano, provocando correções e alterações. Sabe-se como transplantar partes de um corpo para outro, construir órgãos artificiais e, até, regenerações a partir das chamadas células tronco.
O conhecimento humano é muito grande, no entanto, o mistério é ainda maior. O funcionamento da mente, que é imaterial, sem células, mas que existe, continua inexpugnável! É enorme o número de teorias científicas, religiosas e esotéricas, que tentam explicar o que continua inexplicado.
Conhece-se o caminho orgânico percorrido pela emoção e como ela afeta o organismo, no entanto, não se sabe como ela é gerada, nem como criá-la ou eliminá-la. Conhecem-se partes do cérebro que a memória ocuparia, porém, não se sabe como controlá-la totalmente.

REFLEXÃO
O pensamento está em mim, no cérebro ou em qualquer outra parte do meu corpo. Se está no meu corpo, é meu. É tão meu que, se eu não o expressar, ninguém o conhecerá. No entanto, mesmo sendo meu, estando dentro de mim, sendo inacessível aos outros sem o meu consentimento; não está sob meu domínio e costuma acontecer independente de minha vontade, inclusive, contra ela.

QUEM OU O QUE, COMANDA A MENTE?
Todas as pessoas podem constatar a existência do pensamento involuntário em si mesmas. O mais perceptível é aquele que nos causa sofrimento. Se não pensássemos naquilo, não sofreríamos. É o caso da perda de um ente querido, por morte ou por abandono. Se pudéssemos esquecê-lo, seguiríamos vivendo normalmente, esperando que outra pessoa ocupasse seu lugar. No entanto, sua lembrança provoca que pensemos no quanto era bom, na falta que nos faz, nas causas da perda, nas possibilidades de recuperação, etc.. Todos esses pensamentos são lógicos como reflexão e análise consciente, buscando compreender o acontecido e, se for o caso, tentar a recuperação. No entanto, a repetitividade das mesmas coisas, constantemente, sem qualquer objetivo lógico, ocupa nossa mente impedindo que seja usada para outras emoções e, principalmente, para racionalizações conscientes.
Esses pensamentos costumam acontecer quando o indivíduo enfrenta dificuldades, principalmente, as grandes. São provocados por dívidas, ciúmes, remorso, amor próprio ferido, amor irrealizável, ódio, etc.. Se pudéssemos nos livrar desses pensamentos repetitivos, sem utilidade benéfica, poderíamos Ter a mente liberada para racionalizações conscientes e lógicas, buscando o que nos fizesse bem.
O que provoca esse tipo de pensamento e nos impede de eliminá-lo?

O que faz com que uma pessoa ame outra, independente de sua vontade consciente e, até mesmo, contra ela? Por que alguns amores são recíprocos e outros não? Por que é tão difícil e, até, impossível, eliminar um amor impossível de se realizar?
Por que é tão difícil as pessoas deixarem de agir em prejuízo próprio, quando têm consciência disso e sabem que agindo diferentemente poderiam não sofrer? É o caso de muitos dependentes de drogas, álcool, jogo, consumo, dinheiro, estética, etc..
As ações exageradas provocadas pelo ciúme são causa de grandes sofrimentos para os indivíduos. Muitos deles sabem que não têm motivos para tanto ciúme, tentam controlar-se, mas não conseguem. Trava-se uma luta terrível entre razão e emoção e a primeira, por mais que se empenhe, não consegue se impor.
A inveja é outra emoção causadora de males muito grandes. A razão mostra claramente o quanto essa emoção é prejudicial, no entanto, mesmo tendo consciência disso, muitos indivíduos não conseguem se livrar dela.
Alguma força estranha ao consciente do indivíduo provoca essas coisas. Será que isso se deve à fraqueza dele ou à grandeza dessa força?


DIFERENÇAS ENTRE INDIVÍDUOS
O que provoca a diferença entre os indivíduos e por que?
Há indivíduos que usam intensamente a racionalidade, tendo dificuldade para aceitar preconceitos e dogmas. Vivem questionando tudo, buscando compreender o conhecimento. Muitos deles têm dificuldade de aceitar o que não compreendem, desprezando efeitos por não atinar com suas causas. Entre esses há os que têm uma espécie de couraça que os defende da emoção, reprimindo boa parte dela.
Há os que desprezam a racionalidade, são dominados pela emoção, aceitam com facilidade os preconceitos e a imposição de valores. É comum que tenham uma capacidade de argumentar muito grande. Os argumentos são produto da razão, no entanto, o que parece, é que, nesses casos, quem usa a razão é a emoção, para justificar suas pretensões, manipulando preconceitos, dogmas e valores, de acordo com seu interesse.
Existem indivíduos em que convivem razão e emoção, numa luta constante, com consciência das duas sobre a oposição entre si em grande parte dos fatos.
Quem determina o que cada tipo de indivíduo será? Parece que a maioria carrega essas características por toda a vida, por mais que se esforcem para mudar ou sejam provocados a mudar por terceiros.
Além da predominância da razão ou emoção, há outras características com grande variação entre os indivíduos: Instintos, reflexos, timidez, sensibilidade, talento, fantasias, sonhos. O que ocasiona isso?

Se os indivíduos vivessem isoladamente, poderiam não precisar se preocupar com as particularidades de suas características. Porém, ao conviver com outros indivíduos, com características diferentes, o conflito é inevitável se não for possível eliminar os pontos de atrito. Nem sempre os conflitos se devem a diferenças, muitas vezes é exatamente a igualdade que os provoca. Dois indivíduos egoístas, por exemplo, podem ficar impossibilitados de conviver. O mesmo pode acontecer entre dois prepotentes. Por outro lado, um grupo de indivíduos apáticos, sem ambição, poderá permanecer estagnado por toda a vida.
Parece que todas as características dos indivíduos são importantes para o convívio, desde que em dosagens adequadas. O bom é parâmetro para valorização do ruim, o mesmo acontece com o mal em relação ao bem, da tristeza em relação a alegria, da doença em relação a saúde, da riqueza em relação a pobreza, da vida em relação a morte, etc..
O problema é que cada indivíduo tem um grande número de características, com diferentes intensidades, variáveis no tempo. É bastante difícil conhecer um indivíduo e o que pode ser influenciado nele, portanto, é evidente a dificuldade de fazer isso com um grupo deles, buscando defender interesses e eliminando conflitos.
O ideal é que o indivíduo possa desfrutar o máximo de felicidade e prazer sem ocasionar prejuízos a terceiros. Para tanto, é necessário que existam regras, compreendidas, aceitas e respeitadas; que impeçam os prejuízos, com o mínimo de limites ao desejado. Isso é muito fácil de concluir e dificílimo de conseguir!
O ser humano já experimentou inúmeros tipos de convivência desde sua aparição até aqui. Desde pequenos grupos até grandes multidões, desde o não dispor de nada além do fornecido diretamente pela natureza, até a disponibilidade de tudo que a ciência e a tecnologia propiciaram, desde o senso de coletivo, até a predominância do individualismo. É incontável o número de ações que a racionalidade classifica de absurdas e que poderiam Ter eliminado o ser humano da Terra. No entanto, ele sobreviveu a tudo que poderia tê-lo eliminado. Parece haver uma determinação misteriosa para que o ser humano não se auto-destrua, mesmo que seu comportamento pudesse levar a isso. Sendo assim, a humanidade só será extinta quando o mistério determinar.

A racionalidade, liberta do que possa influenciá-la negativamente, pode buscar identificar as características dos indivíduos, suas variações, o que é influenciável ou não, extrapolar isso para o conjunto da sociedade, buscar formas de minimizar os atritos, propiciando o máximo de harmonia, felicidade e prazer possíveis e com o menor custo. Para tanto é fundamental que ela reconheça que sua enorme capacidade é limitada e que terá que conviver com o mistério, aceitando o sofrimento que ele impuser e que não possa ser evitado, sem esmorecer, sem desistir de continuar buscando o melhor, mudando sempre que for recomendável.
Claro que tudo isso só será possível se admitirmos a hipótese de que o ser humano tenha alguma autonomia, algum livre arbítrio e que seja influenciável por si próprio e por outros. Isso propiciará que, entre as opções, sejam escolhidas as melhores. Se considerarmos que tudo está predeterminado, independente dos indivíduos, nada poderá ser feito para alterar o futuro.

O QUE PODE SER FEITO?
Pode ser difícil, mas é possível identificar as características do ser humano e suas variações.
É possível mapear essas características e agrupar indivíduos com características comuns. De certa maneira, isso já tem sido feito, pela astrologia, por exemplo.
É preciso estudar toda e qualquer relação que identifique características comuns a vários indivíduos. Isso deve ser feito com a maior isenção, analisando tudo o que for conhecido, tanto nas religiões, seitas, exoterismo e, principalmente, as ciências. Nada deve ser descartado antes de devidamente analisado, nem se deve aceitar verdades sem questioná-las.
Esses estudos poderiam ser feitos por grupos multidisciplinares, espalhados pelo globo. Seria bom que vários grupos estudassem os mesmos assuntos para que os resultados contemplassem a análise mais ampla possível.
Tão importante quanto identificar causas, é estudar efeitos cujas causas não possam ser determinadas. Essas causas indeterminadas se deveriam ao mistério.
Além da contribuição dos filósofos, são inúmeras as teses de mestrado e doutorado, espalhadas pelas universidades do globo, abordando características do ser humano, efeitos e causas. Se elas pudessem ser agrupadas e estudadas, poderiam propiciar resultados interessantes e de grande utilidade. No estágio em que se encontra a informática, isso não seria tão difícil.
Coletar dados, classificá-los, analisá-los, refletir, levantar hipóteses, estabelecer teorias e concluir são atividades para a razão. No entanto, ela sabe que não pode se livrar por completo, nem prescindir da emoção. Os resultados devem ser lógicos e emocionalmente aceitos. A lógica inaceitável pela emoção, dificilmente poderá ser utilizada com resultados satisfatórios.

A sociedade deve estabelecer que tipo de liberdade cada indivíduo pode desfrutar. A liberdade deve ser diretamente proporcional ao auto-controle de cada um e aos valores que norteiam o indivíduo. Será possível praticar algo assim?
Regras e leis têm pouca serventia para quem não compreenda sua necessidade e não tenha compromisso com a obediência a elas. A ação contra os infratores poderá ser: correção, castigo, segregação ou eliminação. Para tanto, é fundamental que haja justiça competente e eficiente. Quanto menor o número de regras e leis, mais fácil será o respeito a elas e a intervenção da justiça quando se fizer necessária.

O mais importante é que o indivíduo compreenda a importância da convivência e esteja disposto a contribuir para que ela seja a melhor possível.
Se fosse possível estabelecer vários tipos de sociedades e possibilitar que cada indivíduo se encaminhasse para a que melhor atendesse suas necessidades, os conflitos poderiam ser consideravelmente diminuídos.
É evidente a dificuldade de conseguir a convivência ideal. Se seria difícil estabelecer uma sociedade ideal, é fácil verificar a dificuldade de conseguir isso a partir de sociedades conturbadas e contaminadas, compostas por indivíduos prepotentes, egoístas e irresponsáveis!
No entanto, é inadmissível ficar inerte e aceitar passivamente os conflitos sociais e os problemas gerados. O que seria possível fazer enquanto o ideal não possa ser atingido?


Até prova em contrário, o início de tudo está na vontade. Conseguir que o indivíduo tenha vontade de coisas benéficas para si e para a sociedade seria ótimo.
Conseguir que ele consiga avaliar suas vontades, lutando para realizar as boas e reprimindo a ruins seria muito bom. Para tanto ele precisa defender valores positivos, usar a racionalidade e suportar as manifestações maléficas da emoção.
Quando o indivíduo for incapaz de auto-controlar-se, deverá ser controlado externamente.
Em indivíduos influenciáveis, deve-se combater as influências danosas e facilitar as benéficas. Se for dominado por preconceitos é preciso livrá-lo dos perniciosos e abastecê-lo com os positivos.
Para indivíduos racionais, a discussão analítica, a argumentação lógica e a reflexão são o melhor caminho para orientá-los e corrigi-los quando for necessário.
Para aqueles dominados pela emoção, as artes podem ser um caminho para conseguir atingi-los. Emoção contra emoção.
É fundamental o senso de justiça em qualquer avaliação. Quando não for possível eliminar prejuízos e sofrimentos, que eles aconteçam com justiça, evitando inversões.

DIVISÕES DA MENTE
EMOÇÃO
Vontade
Amor
Ódio
Inveja
Esperança
Amizade

SENTIMENTO
Aceitação
Alegria
Angústia
Apatia
Desejo
Dor
Euforia
Frustração
Medo
Melancolia
Pena
Prazer
Preguiça
Raiva
Revolta
Ternura
Tristeza
Depressão
Ansiedade

RAZÃO
CONSCIENTE
Juntar dados
Analisá-los
Refletir
Concluir
Reavaliar
Novas conclusões
Reconstruir lembranças

INCONSCIENTE (a serviço da emoção)
Manipular dados
Construir argumentos
Reagir à razão consciente
Reconstruir lembranças

MEMÓRIA
Armazenar
Dados
Emoções
Sentidos captados
Conceitos
Preconceitos

MORAL
Valores
Honestidade
Lealdade
Solidariedade
Humildade
Coragem
Dignidade
Altruísmo

Preconceitos

INSTINTO
REFLEXO
TIMIDEZ
SENSIBILIDADE
TALENTO
FANTASIA
SONHO

AÇÃO
Racional
Emocional
Impulsiva
Reflexiva
Interpretativa


OBJETIVOS FUNDAMENTAIS DA VIDA
Felicidade e prazer

NECESSIDADE PARA CONVIVÊNCIA
Respeito a direitos e deveres.





EXEMPLOS REAIS

ADOLESCENTE REVOLTADA
A menina adotada quando ainda bebê, criada com conforto e, até, algum luxo; aos treze anos revolta-se contra a vida que levara até ali e foge de casa, refugiando-se com invasores de uma casa abandonada.
Ao ser encontrada, preferiu ir para um abrigo de crianças abandonadas e ficar sob a guarda do estado, que voltar para a casa dos pais adotivos.
Super proteção, excesso de cuidados e até de carinho, podem Ter causado repulsa da menina pela família adotiva. É bom lembrar que o importante para o indivíduo é o que ele sente, mesmo que as justificativas sejam totalmente irracionais. A menina pode Ter sentido uma revolta tão forte que qualquer coisa seria melhor que a convivência com a família.
Outro motivo que justificaria tal atitude, seria a paixão por alguém inaceitável pela família. Ela acreditaria que fugindo, eliminaria a possibilidade de Ter o relacionamento desejado, impedido. Talvez tenha considerado que seria mais fácil fugir do abrigo que da família, acreditando que o estado não se preocuparia tanto em procurá-la, o que lhe possibilitaria encontrar o seu amor e relacionar-se com ele.
Tudo isso poderia ser fruto de falta de conhecimento, de compreensão e de experiência. No entanto, pode ser que a emoção tenha sido muito mais forte que sua capacidade de reagir. Em fim, a emoção descontrolada poderia causar esse tipo de comportamento.
Não é racional descartar a interferência do mistério, agindo com objetivos com os quais a razão não pode atinar.
Se a causa for a emoção, uma conversa com alguém que lhe conquiste a confiança, poderá lhe permitir declarar o que sente e pensa, oferecendo subsídios para ações corretivas.
Seria improducente o comportamento comum de criticar, apelar para o sofrimento causado a quem tanto gosta dela, conselhos convencionais, acusar sua irracionalidade, em fim, o blá, blá, blá convencional. É bem provável que é exatamente disso que ela pretendia fugir.
Enquanto ela não conseguir compreender a situação, fará o possível para satisfazer sua vontade e fugir do que repudia. Uma maneira de impedir isso, é o cerceamento da liberdade por meios físicos ou químicos. Se nada for feito, a probabilidade de que ela sofra grandes prejuízos e sofrimento é enorme. Que direito essa menina tem de arriscar tanto? Que capacidade ela tem de arcar com as conseqüências?
Além dos problemas que ela possa sofrer, é preciso considerar os problemas para a sociedade que ela poderá gerar. Entre eles, tornar-se marginal e gerar filhos que, por falta de condições, poderão seguir seu caminho na marginalidade.
Se o problema tivesse sido causado pelo mistério, dificilmente alguma coisa poderia ser feita, pois ele seria mais forte e capaz que qualquer capacidade humana.

INTERPRETAÇÃO DE FICÇÃO COM BASE REAL
A menina de dez anos que mente, interpretando ficção que ela cria com base na sua realidade, demonstrando talento tanto na criação quanto na interpretação.
Ela não se preocupa com o fato de que suas mentiras possam ser desmascaradas com certa facilidade. Isso pode significar que não teme o ridículo, ou que acredite que poderá contornar o problema continuando a criar e interpretar.
É uma atitude racionalmente injustificável. A probabilidade de Ter a farsa descoberta é enorme. Se o custo é altíssimo, os benefícios possíveis são irrisórios. Se a causa não for satisfazer a pura fantasia, poderá ser a vaidade, buscando admiração e chamando a atenção para si.
A única maneira de se identificar o que acontece, é conseguindo a confiança da menina, obter dela todas as informações que possa oferecer. Claro que é necessário avaliar bem o que ela disser, pois poderá continuar criando interpretando ficção. A análise dos dados obtidos poderá indicar que caminho seguir para a correção.
Uma opção seria incentivá-la a criar histórias, dando assas a sua imaginação, propiciando-lhe fantasiar sem o risco de expor-se ao ridículo. Se ela fizer isso com facilidade, pode ser que deixe de usar ficção na vida real, fazendo-o na literatura, dando vazão à sua necessidade. Não conseguindo fazer isso, as causas deverão ser outras e não a simples fantasia, desejo de reconhecimento, admiração ou intenção de chamar a atenção.
Se as causas não forem identificadas, seremos obrigados a creditá-las ao mistério.

SIMPLIFICAR O COMPLEXO X COMPLICAR O SIMPLES
A ambição, o egoísmo e a prepotência; buscam complicar para se beneficiar. É mais fácil esconder algo em uma mata fechada do que em um campo aberto; em um depósito desorganizado, abarrotado de coisas jogadas e sujo, do que em outro onde há organização, limpeza, facilitando a visualização, identificação e acesso.
A vida é complexa, com muitos elementos instáveis e, outros, incontroláveis. Viver é como percorrer um caminho cheio de armadilhas e ilusões resultantes de nossas próprias características, dificultando que aproveitemos as coisas boas que estão disponíveis. Quando somamos a isso as armadilhas e ilusões provocadas por pessoas que cruzam nosso caminho; é fácil verificar a dificuldade de evitarmos o mau e aproveitarmos o bom.
Há pessoas que, para evitar os males, desprezam tudo que encontrarem. Evitam o mau e deixam de aproveitar o bom.
Há pessoas que vão mergulhando em tudo o que as atrai, sem qualquer consideração sobre a possibilidade de ser uma armadilha ou ilusão. Como é comum que o que apresenta resultados maus se mostre mais atrativo, essas pessoas costumam obter mais sofrimento e prejuízo do que prazer e lucro. Essas pessoas são jogadoras e dependerão exclusivamente da sorte para conseguir benefícios.
São raras as pessoas que através de análises racionais, conseguem evitar muitas armadilhas e ilusões, aproveitando as coisas boas disponíveis.
Parece não existir receitas, programas ou estratégias infalíveis para evitar o mau e aproveitar ao máximo o bom, por causa da instabilidade de muitas de nossas características e a impossibilidade de controlarmos outras tantas. A razão é a única ferramenta de que dispomos para esse trabalho.
Ela nos permite identificar emoções, os sentimentos que causam, quais e quanto são controláveis e o que fazer quando não podemos agir sobre eles. Pode identificar características da memória verificando em que pode ser útil e no que pode ser prejudicial, estabelecendo a melhor maneira de utiliza-la e evitar os problemas que possa causar. Pode construir a moral, estabelecendo os valores que devam ser defendidos e os que deverão ser repudiados. Deve reconhecer a existência do mistério e estar de prontidão para agir quando ele se manifestar.
O trabalho da razão é muito difícil, tendo que enfrentar forças poderosas que se empenham em dificultar-lhe a ação, criando todo tipo de obstáculo e, não raro, fazendo com que as soluções propostas depois de grandes trabalhos, sejam desconsideradas e desprezadas, porque uma vontade ou emoção idiota foi mais forte que ela e assumiu o comando.
O objetivo principal da razão deve ser simplificar, evitar perder-se no labirinto da complexidade. Para que isso seja possível, é necessário Ter consciência da complexidade e lutar para simplificá-la, evitando as armadilhas que ela propicia.

ILUSÃO
A ilusão comanda a vida de muitas pessoas. Nada é absoluto, tudo é a idéia que fazemos dele. Sobre um copo que está com metade de seu volume ocupado por um líquido, podemos dizer que está pela metade, ou que está quase cheio ou que está quase vazio. Podemos dizer que a primeira idéia é racional e que as outras duas são condicionadas. A primeira é baseada em parâmetros e passível de discussão, as outras, são resultado da vontade e indiscutíveis. O racional é passível de mudanças, o ilusório é substituível, mas não aceita mudanças. Novas ilusões substituem as antigas como se estas nunca tivessem existido.
O que importa é o que sentimos e não a realidade. O valor relativo acaba sendo muito mais importante que o absoluto.
Para quem está em estado desesperador de sede, um pouco de água tem mais valor que toda a riqueza do mundo. Para quem está faminto, qualquer alimento da pior qualidade, parecerá um manjar dos deuses. Quem perdeu uma perna, depois de Ter sobrevivido e que parecia impossível, estará muito mais feliz do que alguém que goze de perfeita saúde e esteja intacto. Para alguém há muito tempo desempregado e passando por grandes dificuldades, um emprego é considerado como um grande prêmio, enquanto muitos que trabalham ali, não vêem a hora de abandoná-lo.
Um homem apaixonado por uma mulher muito feia, vê beleza nela e é capaz de grandes esforços para satisfazer-lhe desejos irrelevantes, sem que isso lhe faça qualquer mal; enquanto considera grande sacrifício fazer algo fácil, a pedido de outra pessoa qualquer, principalmente, se não simpatiza com ela. Satisfazer a quem se ama é prazeroso. Ajudar a quem não gostamos é sacrificante.
Viver na ilusão é ver o que quer e fazer de conta que não existe o que não quer.
A facilidade para se iludir, pode propiciar uma boa qualidade de vida.
Há pessoas que se sentem amadas por quem as detestam, acariciadas por quem as maltratam, admiradas por quem as repudiam e teimam em acreditar no que as evidências mostram o contrário.

FATOS E INTERPRETAÇÕES
Vira e mexe o filho chegava em casa com algum presente que havia ganho. Calças, tênis, camisas, rádios de carro, aparelhos de som, etc. Quando os pais lhe perguntavam sobre a origem daquelas coisas, ele dizia que eram presentes.
Um dia, avisaram o pai que o filho estava preso. Ele foi à delegacia e arrumou a maior encrenca com o delegado, alegando que era uma injustiça ele Ter prendido seu filho, rapaz honesto, bom carater e bem quisto por todo mundo.
O delegado lhe informou que seu filho havia sido preso em flagrante assaltando um casal que namorava no interior de um carro e que confessara um grande número de furtos e assaltos praticados anteriormente. Ele não acreditou, acusou a polícia de Ter usado seu filho como bode espiatório, para justificar sua ineficiência para prender os verdadeiros criminosos, falseando provas contra um menino bom, de boa família, que não oferecia perigo e que lhes possibilitava mostrar que cumpriam seu papel.
Mesmo depois de o filho Ter sido julgado e condenado por grande número de evidências e testemunhos incontestáveis; o pai continuou protestando contra a injustiça cometida contra seu menino.

Para ela o marido era um exemplo de fidelidade. Os perfumes diferentes que, vira e mexe, exalavam de suas roupas, eram fruto da insistência de uma vendedora que pretendia convencê-lo a comprá-los e que teimava em faze-lo experimentar as fragrâncias. As manchas de batom na camisa, eram fruto do descuido de colegas que confiavam muito nele e viviam lhe segredando em cochichos, esbarrando os lábios pintados em sua camisa.
As chegadas em casa em horas tardias, se deviam ao excesso de trabalho e ao velho carro que vivia quebrando. O cheiro de álcool em sua boca, era proveniente do aperitivo que tomava para relaxar depois de tanto estresse. A tonteira e o andar trôpego, testemunhavam que ele não era acostumado à bebida, o que provocava que um simples aperitivo o afetasse daquela maneira.
Depois de ler a carta em que o marido dizia Ter ido embora para viver com a mulher por quem se apaixonara, queimou-a e correu para a delegacia para dar queixa de que seu marido havia sido seqüestrado. Há mais de dez anos que ela espera, todos os dias, o telefonema pedindo resgate.

AMOR DE MÃO ÚNICA
Ela o amava profundamente e, embora ele vivesse repetindo que não a amava, que lhe tinha amizade e que, desejando-lhe o melhor; esperava que ela encontrasse alguém que pudesse corresponder ao seu amor; acreditava ser correspondida, comportando-se como se fossem casados, dedicando-se a ele inteiramente e exigindo reciprocidade.
Ele acreditara que aquela amizade poderia propiciar aos dois um lenitivo para os males que vinham sofrendo. Ela fora mal sucedida nos relacionamentos que tivera até ali e, ele, sofria pela falta da mulher que amara profundamente e que o havia deixado. Considerara que poderiam se apoiar na busca de relacionamentos que pudessem resolver-lhes os problemas. No entanto, ao invés de alívio, ela se transformava em carga, criando problemas ao invés de aliviar-lhe o que já tinha.
Depois de Ter declarado que não a amava, que ela não deveria investir numa relação impossível e que deveria se abrir para que isso pudesse acontecer com outro homem; ela se negou a considerar o que ele dissera e continuou a agir como se tivessem um compromisso de casal que se ama.
Ela dizia a parentes, amigos e conhecidos, que eles se casariam. Ele a desmentia, na sua frente, alegando que aquilo não passava de fantasia, declarando o que já lhe dissera e repetira várias vezes, que não a amava e que era impossível um relacionamento amoroso entre eles.
Verificando que a argumentação era infrutífera, ele decidiu terminar aquela amizade, para evitar problemas para ambos. No entanto, ela desconsiderou a decisão dele e continuou a comportar-se como se o relacionamento continuasse, e que os levaria a uma vida em comum. Aparecia onde ele estivesse, cobrando os direitos de companheira, ameaçando mulheres que considerasse com pretensão a conquistá-lo, desconsiderando a reação dele e o ridículo a que se expunha.
Ele poderia Ter agido com mais energia e insistido na separação total. No entanto, optou por contemporizar, visitando-a para evitar que o procurasse, propiciando-lhe algum prazer, na esperança de que o tempo contribuísse para que ela se desligasse dele. Não alimentava qualquer ilusão, tratava-a com frieza e não perdia oportunidade de declarar que a companhia dela lhe era sacrificante. Como não tinha qualquer compromisso, optou por ser usado e tentar minar aquele sentimento doentio que ela nutria por ele.
Ela se preocupava mais com a possibilidade de ele Ter algum relacionamento com outras mulheres, do que com o que ela poderia desfrutar. Sufocava-o com carinhos e contato físico, acreditando que isso impediria que ele buscasse eliminar carências com outras mulheres. Ele se sentia tão sufocado, que teria motivos para fugir de mulheres como diabo foge da cruz.
Ele viajava o quanto podia para se livrar daquela opressão. Numa das voltas, ao procurá-la, foi escorraçado, acusado de Ter-se aproveitado dela, de não respeitar seu sentimento e dedicação e de tê-la iludido. Mais tarde, ficou sabendo que ela se apaixonara por outro homem.
Ele foi embora, exultante, como quem tivesse se livrado da prisão, sem, no entanto, deixar de sentir uma espécie de perda que, mais tarde, identificou como amor próprio ferido por Ter sido deixado. Se o Ter se livrado daquela opressão não tivesse sido tão importante, o amor próprio ferido teria lhe causado problemas, por incoerente que pareça.

A REALIZAÇÃO DO SONHO
Poucos anos depois do casamento, eles compraram um sítio em uma serra. Antes disso costumavam ir ali e acampavam no sítio de um conhecido. Era uma região muito fria, bonita, mas de difícil acesso por estrada mal conservada e impraticável em época de chuvas.
Só tiveram um filho e passavam quase todos os finais de semana e férias naquele sítio. Sonhavam com a aposentadoria, quando se mudariam pra lá definitivamente. Foi um sonho acalentado por mais de trinta anos.
O filho casou e foi morar em outro estado. Eles se aposentaram e, contrariamente ao que haviam sonhado, passaram a maior parte do tempo em visitas ao filho, só indo ao sítio para pagar o caseiro e suprir as necessidades indispensáveis.



RELACIONAMENTO
O relacionamento está para a mente humana, assim como a água, ar e alimento, estão para o organismo. Enquanto houver um mínimo de atividade mental, existirá algum tipo de relacionamento.
O ser humano se relaciona com pessoas, com o meio ambiente e, principalmente, consigo mesmo. Ainda que encerrado em um cubículo a prova de som e luz, em total isolamento, ele terá a companhia de seu pensamento, lembrando, refletindo, sentindo emoções. O pensamento pode gerar felicidade, lembrando, criando fantasias, projetando sonhos, no entanto, o que melhor detecta seu potencial, é o sofrimento que ele pode causar, maior que o gerado por qualquer elemento externo. É possível afastar-se, evitar e fugir de quase tudo, menos do pensamento.
É difícil imaginar uma felicidade mais intensa que a propiciada pelo amor entre um casal, tanto em intensidade quanto na duração. A maior intensidade ocorre na presença, no contato físico, principalmente no reencontro. Por outro lado, essa é a causa do maior sofrimento, quando a pessoa continua amando intensamente, mas esse amor deixou de ser correspondido.
Amor entre pais e filhos e entre amigos, também podem ser de grande intensidade e a perda do ser amado, causar sofrimento intenso.
Outra manifestação de amor, de grande intensidade, é o que o ser humano dedica à divindade, através da fé.
Relacionamentos no trabalho, escolas, igrejas, com amigos e inimigos e na sociedade em geral; confrontam pessoas, suas idéias, emoções e ações. Felicidade ou infelicidade dependerão da satisfação de vontades, da não satisfação e das perdas que essas relações causarem.
A relação com a natureza é outra fonte de felicidade e seu oposto. Paisagens, água, frutos e flores silvestres, abrigos naturais, clima, fenômenos naturais, afetam o estado emocional do indivíduo.
Portanto, vida e relacionamentos são inseparáveis. Além de agir diretamente no indivíduo, os relacionamentos externos provocam e alimentam o relacionamento interno que, não raro, gera emoções mais fortes e duradouras do que a relação que os provocou. A separação entre um casal que se amava, pode provocar grande sofrimento individual, mesmo que não voltem a se encontrar.
Os relacionamentos externos são facilmente perceptíveis. Receber o carinho de uma pessoa amada, uma bronca do chefe, a admiração de fãs, sentir o cheiro de uma flor, ouvir o canto de pássaros. Apreciar uma paisagem, sentir a água da chuva nos molhando, o calor do sol nos aquecendo; identificam o efeito de coisas externas sobre nós. No entanto, o que é o relacionamento interno? Como funciona?
Lembremos que coexistem em nossa mente: emoção, razão, memória, moral e vontade. A emoção usa dados da memória para provocar a razão a criar pensamentos, que gerarão pensamentos. Nessa hipótese, a emoção é geradora e receptora de sentimentos, que gerarão alegria ou sofrimento. A mulher abandonada por seu amado, sofrerá com pensamentos que não lhe permitam esquecer que já não pode mais desfrutar a felicidade vivida junto a ele. Pensará que ele foi mau com ela, ao privá-la da felicidade. Pensará que outras pessoas contribuíram para aquele desfecho. Desejará que os culpados sejam castigados, desejando vingança. Tais pensamentos geram e reforçam sentimentos desagradáveis, sofrimento. Mesmo que a racionalidade consciente, através da análise de dados, conclua que a causa da separação tenha sido o fim do amor que o companheiro lhe dedicava e que isso não depende dele, o que o isenta de culpa. Os pensamentos acusando-o e desejando vingança não desaparecerão e continuarão provocando sofrimento. Isso tudo acontece internamente, sem a necessidade de novas interferências externas.
Quando surgem rumores na empresa de que haverá corte de pessoal, algumas pessoas se sentem incluídas na lista, mesmo que nada justifique essa preocupação. A partir daí, elas começam a pensar que será difícil conseguir outro emprego, que não terão como pagar as prestações, o aluguel, as contas de água e luz, e que terão, inclusive, dificuldade para comprar alimento. Esses pensamentos vão ocupando a mente, gerando sofrimento, aumentando-o e intensificando-o no decorrer do tempo. Quando, depois de algum tempo, elas descobrem que aquilo não passou de boato e que não haverá corte algum, sentem como se tivessem ganho na loteria. O que provocou todo aquele sofrimento foi um boato, uma informação falsa, só; o resto foi produzido na mente deles, sem interferência externa.
Um indivíduo compra um bilhete de loteria, verifica de quanto será o prêmio e começa a imaginar em que poderá emprega-lo. Comprará casa, carro, roupas, ajudará familiares e amigos, viajará, promoverá festas... Com o passar do tempo, ele chegará a detalhar o que pretende adquirir, de que tipo será a casa, qual o modelo e cor do carro, que tipos de roupas lhe cairiam melhor. Quando acontecer o sorteio e ele verificar que não foi premiado, sentirá frustração e poderá ter um forte sentimento de perda, considerando que lhe tiraram tudo o que havia imaginado comprar. Ele poderá continuar sofrendo com o que considerou como perda ou comprar outro bilhete e renovar a esperança, reiniciando um novo ciclo de ilusão. A única coisa externa e real a participar de seus sentimentos, foi o bilhete, todo o resto aconteceu na mente.
Perceber o que acontece conosco, em nosso interior, pode ajudar a compreendermos os outros, as causas de seus comportamentos e ações, possibilitando relacionamentos menos tumultuados e convivência mais agradável.
No entanto, não é nada fácil percebermos nossos erros e defeitos porque, como temos vontade de parecer bons, inteligentes, honestos, solidários, humildes, em fim, características admiráveis; tendemos a não perceber o que nos faria parecer o contrário. Nossa tendência é tentar justificar tudo, convencer-nos de que, até, o errado é certo. Uma maneira de percebermos nossos erros e defeitos, é observando os outros, constatando seus erros e defeitos e verificando no que somos parecidos a eles. Podemos nos considerar solidários, mas observamos que nos comportamos como alguém que nos parece egoísta; que somos tolerantes, mas agimos como quem consideramos rancoroso, e assim por diante.
É muito importante tentarmos conhecer-nos, identificar nossas falhas, erros e defeitos. Além de propiciar que corrijamos alguns, isso nos possibilitará compreender os outros e que não é tão fácil ser certinho. Somos falíveis, o que nos impossibilita acertar sempre. Reconhecer erros é abrir as portas para o acerto.
Relacionamento interpessoal é a relação entre pessoas e, por mais parecidas que sejam, terão diferenças, particularidades, que gerarão conflitos. No que houver concordância, não haverá problemas, portanto, os esforços devem ser dirigidos para eliminar os conflitos, buscando concordância no que for possível e aceitação das diferenças que permanecerem.
É bom lembrar que a razão é muito importante para resolver problemas, no entanto, emoção, vontade e intuição, são autônomas e muito poderosas; desconsiderando conclusões racionais. Uns mais, outros menos, mas todos somos susceptíveis a isso. Compreender isso pode ser de grande ajuda para aceitarmos o que não tem lógica, mas cuja força é impossível de ser vencida.


Considerações finais
Nada do que foi abordado neste trabalho é inédito, mesmo porque, como dizia Lavousier: “Nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. Se esta é uma afirmação válida para a química, não deixa de sê-lo para todas as outras áreas.
O objetivo, baseado na experiência pessoal, na observação de outras pessoas, na pesquisa, no estudo e reflexões; é chamar a atenção para coisas sabidas, mas não compreendidas; para armadilhas que nos rodeiam, mas que não as identificamos como causas de muito do que sofremos e do sofrimento que causamos. É mostrar que muitas coisas são inexoráveis, que não temos como evita-las e que é importante sofrer o mínimo possível, evitando danos maiores.
Muito do que foi apontado aqui, está em provérbios seculares, que muitos conhecem de cor, mas não compreendendo a que se referem, não os consideram ou os interpretam erroneamente.
“Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe.”
“Reza como se tudo dependesse de Deus e trabalha como se tudo dependesse de ti.”
A infelicidade gera sofrimento, o que nos provoca a tentar livrar-nos dele. Isso nos leva a buscar saídas, a resolver os problemas que nos levaram a ele. Portanto, o sofrimento tem o lado positivo: propicia a busca de soluções para problemas causadores de infelicidade, propiciando conhecimento e compreensão.
A felicidade é um estado para ser aproveitado, curtido, desfrutado. A felicidade é satisfação de vontades muito importantes, que tende a desvalorizar o resto, inclusive a criatividade, empregando o maior tempo possível no desfrute.
Quando se está feliz é importante aproveitar ao máximo, cuidando para que dure o máximo possível. Quando a infelicidade dominar, é tempo de racionalizar, de buscar soluções que permitam reverter a emoção. A busca de soluções, além de possibilitar a eliminação de problemas, ajuda a aliviar o sofrimento enquanto a infelicidade imperar.
Espero, caro leitor, que este trabalho possa ajudá-lo a alcançar o objetivo da vida, permitindo felicidade em quantidade e com qualidade.