quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Viver

VIVER

Viver é Ter o organismo e a mente funcionando.
Viver com qualidade é Ter o organismo e a mente funcionando, aproveitar ao máximo a felicidade e minimizar a infelicidade. É sentir, participar, buscar, refletir, julgar, mudar.
A qualidade da vida é o que sentimos, todo o resto tem como objetivo provocar sentimentos. O que é bom para uns, pode ser ruim para outros. Não importa que a razão indique que o indivíduo não tem motivos para estar infeliz; se ele se sente assim, é isso o que importa e, não, o que a razão diz. O mesmo acontece em relação à felicidade e aos sentimentos em geral.
Os sentimentos têm valores relativos, o ruim é parâmetro para avaliar o bom, o mal é o parâmetro de avaliação do bem, o sofrimento valoriza o prazer e vice-versa. A fome realça o valor da comida, a sede, o da água; a tristeza, da felicidade. Portanto, é evidente a relatividade dos valores no que se refere aos sentimentos, relegando os valores absolutos para segundo plano. A perda do que causou uma grande felicidade, costuma gerar enorme sofrimento.
Não há vida participativa feliz ou infeliz. O que vale é o agora tendo o passado como parâmetro e o futuro como expectativa. São momentos, mais ou menos longos, de felicidade ou infelicidade e a quantidade e duração de um e do outro é que avaliarão se a vida foi mais ou menos feliz.

POSSE E DESEJO
Seus valores
Água é água, mas seu valor depende de sua escassez ou abundância. A luz será muito mais valorizada quando faltar do que quando estiver disponível. A saúde precisa da doença para Ter seu valor ressaltado. A riqueza terá pouco valor se não for comparada à pobreza. O amor terá seu valor reconhecido quando estiver ameaçado ou for perdido. Em fim, costumamos não dar muito valor ao que temos e super-valorizamos o que não temos ou perdemos. Por mais que nos esforcemos, não conseguimos valorizar ao máximo o que temos, se não o perdermos ou sentirmos que está ameaçado.
A razão diz que isso é um absurdo, que deveríamos valorizar ao máximo o que temos e não dar tanto valor ao que desejamos conseguir. No entanto, a emoção teima em provocar sentimentos que contrariam a razão, por isso a insatisfação é a companheira mais constante do ser humano.
Parece que a conquista é o objetivo da vida. Ela se manifesta através da vontade, que provoca o desejo, que busca satisfação. O que já temos não precisa ser conquistado, não provoca desejo e não oferece satisfação. É comum que o valor do que já conquistamos, diminua significativamente em relação ao que lhe atribuímos quando o desejávamos.
O comerciante talentoso, mesmo que inconscientemente, usa essa característica do ser humano, para Ter sucesso nos negócios. Ele age ao contrário, super-valoriza o que tem e procura desvalorizar o que pretende adquirir.
Um comerciante de automóveis, sabe que o cliente pretende trocar o carro que tem, por outro, porque não está satisfeito e pretende satisfazer seu desejo, que é possuir outro carro.
O comerciante aproveita a pré-disposição do cliente de super valorizar o que pretende e desvalorizar o que tem. Para tanto, realça as qualidades do carro que pretende vender e que atendem o desejo do comprador, escondendo os possíveis defeitos, enquanto faz o contrário com o que pretende receber em troca; realçando defeitos e escondendo qualidades.
O cliente sente-se apoiado e reforça sua crença de que estava certo: que precisa se livrar do que tem, por estar defeituoso e adquirir o outro que oferece tantas vantagens. A razão poderá lhe mostrar que a realidade não é bem aquela, mas a emoção trabalhará a favor do comerciante.
Os vigaristas tem talento especial para explorar essa característica em suas vítimas, explorando-as para aplicar seus golpes.
Quando percebemos que poderemos perder o que temos, sentimos seu valor realçado, mas ao invés de nos esforçarmos para reconquistá-lo, tentamos mantê-lo à força, provocando problemas que diminuirão as possibilidades de continuar desfrutando-o e, muitas vezes, causando a perda irreparável.
Em um casal, o ciúme é provocado pela crença de que o desfrute do companheiro está em risco. Não importa se esse risco é real ou não, o importante é que o indivíduo se sente ameaçado. Isso acontece porque ele acredita que, para a mulher, ele tem menos valor que o rival, caso contrário, não teria motivos para se preocupar.
A racionalidade indica que ele deveria realçar suas qualidades, minimizar seus defeitos, mostrando à sua amada que ele tem muito mais valor do que o suposto rival, além de investir para reforçar o amor que a companheira sinta por ele e demonstrando o quanto a ama. Isso representaria o reconhecimento de que não valorizara suficientemente o que estava a sua disposição, buscando corrigir o erro cometido.
Ao invés disso, ele prefere acusar a mulher de leviana, o rival de conquistador sem escrúpulos, alegando ser vítima de injustiça. Isso pode ser verdade, mas não o é na maioria dos casos. Ele passa a acusar a mulher, restringindo-lhe a liberdade, cobrando fidelidade, ameaçando. Se a mulher não tinha motivos para repudiá-lo, passa a tê-los e o que não passara de imaginação, pode se tornar realidade, provocando a separação depois de um período de brigas e sofrimento. Isso tanto acontece com homens como com mulheres.
Embora ele se alegue injustiçado, declarando Ter mais valor que o rival, não é o que demonstra. O que importa não é o valor que ele acredite Ter e, sim, o que a mulher lhe reconhece. Ao não se sentir seguro quanto ao valor que a mulher lhe reconhece, o rival imaginário estará sendo super-valorizado, enquanto ele se sente rejeitado.
Enquanto o fantasma do rival não aparece, é comum que o homem não sinta o quanto a mulher lhe é importante. Gaste tempo com outras coisas de menor valor, deixando de aproveitar os prazeres que a companhia dela poderia lhe propiciar. Ao sentir-se ameaçado, ao invés de tentar reconquistar, agride; provocando a perda do que não soube valorizar.

A vontade de conquistar é a energia que propicia o avanço, as descobertas, as invenções, o conhecimento e seu aproveitamento, em fim, o que se chama de progresso. Sem a vontade de conquistar, a vida seria estagnada. Se é verdade que a vontade de conquistar propicia resultados positivos e benéficos para a humanidade e para o indivíduo; não é menos verdade que ela é fonte de grandes males e sofrimento.
Avaliar as vontades, incentivando as positivas e eliminando as negativas; propiciaria a eliminação de grande número de problemas que afligem o indivíduo e a sociedade.
Conseguir valorizar o que já tem, desfrutando-o ao máximo possível, pode aumentar o prazer e felicidade do indivíduo, aliviando a pressão que sofra para lutar por novas conquistas, diminuindo a ansiedade, possibilitando maior reflexão na análise do custo/benefício da nova vontade que pede conquista.
O equilíbrio entre valorizar o que já tem e buscar novas conquistas; pode ser a melhor maneira de aproveitar a vida.
Isso é bastante lógico e sobram argumentos racionais para comprová-lo; no entanto, é muito difícil de ser conseguido na prática. A vontade costuma reagir à razão e, grande parte das vezes, impede que suas recomendações sejam seguidas. Por que isso acontece?

ANSIEDADE
A ansiedade é uma coisa terrível! Ela é ruim até quando o desejado é realizável e causador de grande prazer e felicidade.

Eu estava em Campo Grande sofrendo a maior infelicidade sentida até ali. Tinha convicção de que, se existia inferno, eu estava no pior lugar dele. A alma, ou seja lá o que for, sofria dores agudas e profundas, constantes, sem tréguas, sem um segundo sequer de alívio. Não sentia fome, nem sono; nem mesmo raiva, por maiores que fossem os motivos, eu conseguia sentir. Só tristeza, imensa, constante, dolorida.
A causa fora a perda do grande amor de minha vida. Não perdera só um grande amor, o maior; perdera a mulher que me admirara, respeitara, compreendera; uma companheira solidária, corajosa, sensível, inteligente; uma amiga leal. Não bastasse tudo isso, ela era linda. Foram cinco anos de uma felicidade inenarrável. Não consigo imaginar algo que possa ser comparado a uma perda como essa. Era um valor extraordinário! Não acredito que a perda de uma fortuna, por maior que seja, sirva de parâmetro para comparação. O sofrimento da perda é proporcional à felicidade que aquilo causou. Quanto maior a felicidade conseguida, maior é a tristeza de sua perda. A felicidade que eu tivera, ultrapassara qualquer fantasia que eu tivesse produzido; portanto, a perda foi catastrófica.
Não houve brigas nem discussões. Eu fora para Campo Grande, fazer um trabalho experimental, enquanto ela fora esperar o resultado da experiência, na casa da mãe. Se a experiência desse certo, partiríamos para uma nova etapa de nossa vida em comum, que fora cheia de aventuras. A separação não deveria ser maior do que um mês.
Nos falávamos freqüentemente por telefone. Numa das ligações, ela dissera que conhecera um rapaz e que estava confusa quanto a suas emoções. Disse-lhe para experimentar, buscando segurança no que fosse melhor pra ela. A racionalidade me obrigou a dizer aquilo, embora a emoção me forçasse a entrar pelo cabo do telefone e ir arrebatá-la naquele instante.
O choque foi brutal! Foi como se um raio tivesse atingido a emoção, sobrecarregando a tristeza com uma energia infinita. Senti a terra se abrindo sob meus pés e eu despencasse num buraco sem fim.
Estávamos a mil e duzentos quilômetros um do outro, fisicamente, embora ela estivesse dentro de mim, em cada célula.
A falta de notícias era angustiante, embora eu a sentisse perdida desde o primeiro instante. Imaginava que ela tivesse encontrado um cara com muitas qualidades, que a tivesse valorizado suficientemente, e que tivessem se apaixonado. Isso seria ótimo para ela e, eu, sempre quis o melhor pra ela.
A emoção brigava com a razão, uma briga hercúlea, A emoção queria seu corpo junto a mim, enquanto a razão torcia para que ela tivesse o melhor.
A razão me indicava que eu nada poderia fazer. Ela me conhecia suficientemente, o que dispensava que eu pudesse lhe mostrar algo de novo. Tinha inteligência suficiente para analisar e decidir. Se a emoção a impedisse de racionalizar, não seriam argumentos que pudessem convencê-la do contrário. Portanto, não me restava alternativa, a não ser esperar.
A razão me dizia que deveria esquecê-la até que o veredicto fosse confirmado, que era bobagem ficar sofrendo; que eu deveria tocar a vida, buscando satisfações. Se ela optasse em voltar, a questão poderia ser retomada, analisada e concluída. O melhor a fazer era esquecê-la, libertar a mente e retomar a busca da felicidade.
No entanto, enquanto a razão lutava desesperadamente para me livrar do sofrimento, sua força era extremamente insignificante diante da força da emoção que preenchia a mente com pensamentos sofríveis, desejando vingança, me provocando a tentar recuperá-la a qualquer custo, provocando lembranças do quanto eu fora feliz, não para provocar prazer e, sim, para aumentar o sofrimento, o tamanho da perda. A ansiedade me fazia esperar cada segundo pelo toque do telefone.
Quando muito, eu dormia duas horas por noite e comia meio pacote de miojo em cada refeição, na marra. Enquanto não estava trabalhando, preenchia o tempo escrevendo, derramando lágrimas sobre o papel, juntando letras para formar palavras de desespero, forçando a razão a combater a emoção. Minha mente era um campo de batalha, das mais cruéis, sem descanso, numa luta feroz.
Ao invés de minimizar o sofrimento, a passagem do tempo, o acentuava. Minhas forças físicas diminuíam, enquanto a energia da batalha mental se intensificava a cada dia.
Depois de dois meses, que pareceram séculos, ela me ligou perguntando se poderia voltar. Foi como se o raio que havia me enterrado, surgisse das profundezas e me arremessasse para o infinito do espaço. Depois de um instante de torpor, a ansiedade me provocava a puxá-la pelo cabo do telefone e abraçá-la imediatamente. Ela disse que tinha um assunto pendente para resolver e que me ligaria nos próximos dias para marcarmos a melhor maneira de nos encontrarmos. Disse que me amava e que não via a hora de nos juntarmos.
Minha mente parecia uma corrida de fórmula um onde todos os carros se chocassem, com pedaços pulando por todos os lados. A razão tentava organizar as idéias, enquanto a ansiedade queria solução imediata, pra ontem.
A alegria era imensa, o corpo vibrava intensamente, os pensamentos se atropelavam, a dúvida de se era um sonho ou realidade dominou por algum tempo. O medo de que ela pudesse mudar de idéia ganhou espaço e uma nuvem negra dominou o pensamento.
No entanto, a esperança de recuperá-la foi maior. Era realidade, ela dissera que queria voltar, repetiu várias vezes. Que assunto pendente seria o que ela tinha que resolver? Ela se negara a dizer, alegando que contaria quando nos reuníssemos. Que poderia ser?
Pelo menos, agora, os pensamentos ruins tinham a companhia dos bons e se alternavam descontroladamente. A razão me recomendava que me agarrasse aos bons, mas que considerasse a possibilidade de ela desistir, preparando-me para a retomada da tragédia. A mente era um caldeirão em ebulição.
Ela ligou dois dias depois, para combinar nosso encontro. Sugeri que ela fosse pra São Paulo, pois estava com nosso carro; que eu iria de ônibus, nos encontraríamos lá e voltaríamos juntos. Ela alegou que não tinha dinheiro para ir até São Paulo. Fiquei de fazer um depósito na sua conta bancária. Ela ficou de ligar no dia seguinte para confirmarmos o dia da viagem, uma vez que aquele assunto ainda não fora resolvido.
Já era noite, fui até o centro da cidade para fazer o depósito. Nas duas agências que havia ali, os caixas eletrônicos não estavam funcionando. Bateu o desespero!
No dia seguinte, fui até uma agência do banco e fiz o depósito.
Ela me ligou dizendo que seu cartão magnético apresentara defeito e que não conseguira tirar o dinheiro, o que só poderia ser feito em São Paulo, na agência de sua conta. Ela ficou de tentar conseguir um empréstimo e me ligar quando tivesse resolvido a pendência.
Ligou dois dias depois, dizendo que estava liberada, mas que não conseguira o empréstimo. Eu já não agüentava, estava a ponto de explodir! Decidi ir buscá-la na cidadezinha, onde ela estava na zona rural. Disse-lhe que pegaria o ônibus na noite seguinte, iria para São Paulo, pegaria o outro ônibus e que, no Sábado pela manhã a encontraria na cidadezinha, no ponto de ônibus, na beira da estrada.
Na manhã seguinte, comuniquei aos donos da empresa em que estava trabalhando, que viajaria naquela noite, por isso precisaria sair um pouco mais cedo. Um deles, que era de São Paulo, e estava voltando pra lá, me ofereceu carona. Saímos naquela mesma manhã. A ansiedade era tanta que eu tinha impulsos de apertar o pé do motorista no acelerador.
Eu estava indo ao encontro da felicidade, do paraíso, fugindo do inferno. Deveria estar radiante, curtindo o deleite que seria aquele reencontro, no entanto, sentia angústia, medo de acordar e verificar que não passara de um sonho. Eu me beliscava, mas não adiantava. O medo de que ela pudesse desistir me agoniava. A viagem era interminável. As horas corriam, enquanto a distância se arrastava, lentamente, teimando em não ser vencida.
Chegamos em São Paulo no começo da noite. O primeiro ônibus para a cidade onde ela estava, só sairia na manhã seguinte. Fui para a casa de meus pais, liguei para a rodoviária, para saber o horário do ônibus, mas ninguém atendia. Tentei até altas horas e nada.
A ansiedade fazia a angústia aumentar, como se isso fosse possível. Eu sabia que o ônibus saia por volta das sete horas, mas não tinha certeza. Só havia aquele pela manhã e outro no final da tarde. Se não conseguisse ir naquele, ela poderia pensar que eu houvera desistido. Esse pensamento me provocava pânico.
As cinco e meia da manhã, eu já estava na rodoviária, comprei a passagem e esperei as duas horas que faltavam para o embarque. Os nervos do meu corpo, desde o menor até o maior, tremiam, vibravam como as cordas de um instrumento. Eu andava de um lado para o outro, comprei um jornal, tentei lê-lo, mas era impossível; a mente se negava a registrar as palavras.
O ônibus parou na rodoviária de São José dos Campos. Eu havia combinado que, como não tinha como ligar pra ela, que ela me ligasse no celular, por volta das oito e meia, pois eu estaria numa região em que havia sinal. Depois disso, o sinal não existiria e não teríamos como nos comunicar, caso algum imprevisto surgisse.
Eu segurava o celular na mão, com tamanha força que parecia que o esmagaria e o dissolveria com o suor que jorrava dela. Aliviei a pressão e enxuguei-o, mas ele não tocava.
O ônibus partiu, chegou na região onde não havia sinal e o toque da campainha continuava mudo. O pensamento de que ela desistira tomou conta e o domínio do desespero foi uma tarefa hercúlea.
Desci do ônibus e olhei para o ponto vazio. Senti aquele buraco imaginário se abrir sob meus pés. Permaneci estático, com o olhar fixo naquele ponto de ônibus, não sei por quanto tempo. Pensei em procurá-la, afinal a cidadezinha era minúscula. A possibilidade de darmos voltas desencontradas aumentou meu pavor. No entanto, não poderia ficar ali, imóvel, presa daquela angústia terrível.
Desci uma rua e, na primeira esquina, encontrei dois conhecidos. Quando lhes perguntava se a haviam visto, vi nosso carro se aproximando, com ela ao volante. O mundo desapareceu, só ficou aquele carro cor de vinho, aqueles olhos verdes e o cabelo loiro. Fui até o carro como um robô, sem correr, a passos lentos, com medo de que fosse uma miragem.
Entrei no carro, ela dirigiu até a estrada, parou no acostamento, nos abraçamos e beijamos longamente, entre lágrimas que expulsavam a angústia represada.
A cidade sofrera um apagão telefônico e nenhum aparelho funcionava, por isso ela não conseguira me ligar. Tudo contribuiu para que não se perdesse nem um único segundo de agonia.
Não teria sido problema encontrá-la, mesmo que estivesse na casa de parentes na roça. Eu poderia Ter pego um taxi e procurado-a. O problema é que o motivo de ela não estar me esperando, poderia Ter sido a desistência e, a ansiedade, colocava esse como o único motivo possível.
Eu me empenhei profundamente e acionei todas as forças disponíveis para fortalecer a razão e a moral, no entanto, a emoção dominou o tempo todo, massacrando a racionalidade e desconsiderando a moral.

A ansiedade é uma componente da vontade, grande causadora de sofrimento e terrível empecilho para a racionalidade. É muito difícil de ser dominada, provocando pressa, forçando a tomada de atalhos, que geram enormes atrasos e, muitas vezes, impossibilitam atingir o desejado. A ansiedade é um câncer da vida.





PAIS E FILHOS
Relacionamento e educação

Na relação entre pais e filhos, a questão dos valores têm sido desprezada. Os pais se consideram proprietários e pretendem moldar os filhos ao que lhes parece ser o melhor, sem considerar que eles são pessoas com particularidades que caracterizam a diferença entre os indivíduos.
Os pais acreditam que o conhecimento através da experiência é o valor determinante do bom e do ruim, do bem e do mal, do certo e do errado, desprezando a emoção, os sentimentos, os instintos, as sensações, os talentos e, principalmente, a força da vontade. Agindo assim, eles exemplificam o pouco valor do conhecimento sem a devida compreensão.
Filho precisa de proteção e de prevenção para que possa desenvolver seu potencial com máximo aproveitamento. No entanto, ele não é um material inerte que possa ser moldado à vontade de terceiros; está sujeito a forças internas que não aceitam dominação e que precisam ser compreendidas, propiciando aproveitamento das positivas e prevenção contra as negativas.
A superproteção impede o desenvolvimento da auto-proteção, fragilizando o indivíduo, dificultando que se defenda dos males que o aflijam.
É comum que os pais pretendam proteger os filhos de sentimentos que experimentaram ou experimentam, desconsiderando que os sentimentos dos filhos podem ser diferentes. O que é bom para um, pode ser ruim para outro sem que se possa afirmar o que é certo ou errado, em grande número dos casos.
A racionalidade é importante para reflexões, avaliações e julgamentos, no entanto, muitas vezes, a vontade não aceita as conclusões da razão e exige a experimentação, provocando sofrimento enquanto isso não acontecer. Só a experiência ou o passar do tempo poderá satisfazer ou desfazer a vontade. Uma vontade insatisfeita poderá permanecer no inconsciente causando problemas que o consciente não lhes reconheça as causas.
A experiência é de suma importância para se determinar o que deve ser feito. Para tanto, ela deve ser refletida e compreendida. Infelizmente não é o que tem acontecido com a educação. A experiência tem demonstrado que muitos procedimentos têm sido inócuos, outros tem se mostrado prejudiciais, no entanto, mesmo diante das evidências, eles continuam sendo repetidos, impedindo que se busque solução por outros caminhos.
Dados são fundamentais para a análise e reflexão. Até o final da infância, ninguém tem mais possibilidade de coletar dados sobre as crianças do que os pais. A falta de dados dificulta a ação de profissionais que intervirão na formação e correção do indivíduo. Os pais deveriam manter um diário onde registrariam os dados apresentados pelos filhos. Para ser uma fonte de consulta eficaz, esses dados deveriam ir sendo filtrados, possibilitando a guarda do essencial. Eles seriam de grande ajuda aos professores, médicos e psicólogos, além de aos próprios pais. No entanto, quantos pais mantém um banco de dados assim?
A partir da adolescência, o próprio indivíduo deveria se encarregar de registrar diariamente as ocorrências e sentimentos. Isso poderia ser de grande ajuda.
A falta de compreensão de suas próprias características, do seu comportamento causando problemas para os outros e para si próprios, leva os adultos a colaborar negativamente na educação das crianças, acreditando que estão ajudando, quando, na verdade, causam grandes prejuízos.
O choro de uma criança representa insatisfação ou sofrimento. Pode ser causado por problemas físicos como: dor, fome, sede, desconforto, ou por sentimentos como: medo, falta de atenção, carinho ou desejos. É importante que o indivíduo perceba desde criança que vontades e necessidades sofrem limitações para seu atendimento. Algumas satisfações são realizadas com facilidade, outras são conseguidas com média dificuldade, há as que são de difícil realização e outras são impossíveis de acontecer. Não perceber isso é uma grande fonte de sofrimento.
Quando os pais se esforçam para atender desejos da criança, sem deixá-las perceber o quanto aquilo custou, estão contribuindo para que acreditem que podem conseguir tudo com facilidade, revoltando-se quando a satisfação não acontecer, desconsiderando o nível de dificuldade envolvido.
É comum que pais e professores exijam de filhos e alunos, o que eles têm grande dificuldade de oferecer, por causa de características particulares, dificuldades inerentes a cada um. Muitas dessas ações causam frustrações e prejuízos ao amor próprio. Esses adultos não percebem que passaram e continuam passando por situações em que são cobrados a realizar o que lhes é muito difícil e, até, impossível. Ao invés de aproveitar a experiência para corrigir o futuro, a educação tem contribuído para perpetuar erros do passado.
É muito grande o número de exemplos que demonstram isso. Um deles é o que força as crianças a comerem mais que o necessário, ocasionando gordura excessiva, que, no futuro, exigirá regimes e outros sacrifícios para eliminá-la. Na escola, é comum cobrar do aluno que decore detalhes sem grande importância, enquanto é deixado de avaliar o quanto foi compreendido da matéria. É dado muito mais valor ao conhecimento do que à compreensão. Os alunos são alfabetizados, mas tem enorme dificuldade para interpretar o que lêem e para expressar o que pretendem. A dificuldade para interpretar textos, os impede de resolver problemas de matemática, física, química, biologia, etc., por não entenderem o que a questão está pedindo. Matemática e física propiciam o desenvolvimento do raciocínio lógico; no entanto, os alunos se dedicam a decorar fórmulas, sem compreender os porquês delas e não se percebe ações da escola para modificar isso. Esses problemas existem na educação desde a pré-escola até os cursos de extensão e pós-graduação.

VONTADE, O GATILHO DA VIDA
A vontade é o início de todo processo que culminará com a ação do indivíduo. Pode-se dizer que ela é que inicia e alimenta a vida ativa. Portanto, a maneira mais eficaz de influenciar um indivíduo é agir sobre sua vontade. Se pudéssemos incrementar a vontade do positivo e do bom, neutralizando a vontade do ruim e pernicioso, conseguiríamos uma diminuição significativa nos problemas da humanidade. A questão é saber como.


FACILIDADE INICIAL
Tentar realizar vontades e desejos o mais rapidamente e sem qualquer esforço; seria o ideal. No entanto, é comum que o caminho que pode levar à satisfação, seja dificultado por vários obstáculos. Há vontades e desejos que podem ser satisfeitos através de dinheiro ou conhecimento. Tanto um como outro precisam ser conseguidos e, normalmente, exigem trabalho e empenho.
Há casos em que o exigido é o desprendimento, abrir mão de alguma coisa de que dispomos ou a que estamos acostumados.
Dificilmente sentimos vontade ou desejo do que já temos e está disponível.
A tendência à facilidade inicial, provoca o indivíduo a atropelar os obstáculos ao invés de buscar elimina-los ou contorná-los, por meios coerentes e legítimos.
A opção pela facilidade inicial, tende a gerar problemas futuros, que a falta de racionalidade não permitiu prever, podendo tornar a realização de uma vontade ou desejo em resultados desastrosos.

Depois dessas considerações, não é difícil perceber que dados significativos têm sido desprezados por estudos e análises que têm objetivado solução para muitos problemas.

Há indivíduos que desconsideram toda e qualquer dificuldade para a satisfação de um desejo e tentam conseguir seus objetivos irresponsavelmente, sem se dispor a sacrifícios e trabalho, muito menos respeitar direitos alheios. Não sei se isso é uma característica inata ou resultado do convívio social, principalmente da educação.

VONTADE
A vontade gera uma emoção, que provoca um sentimento.
Além de necessidades fisiológicas, são os sentidos e a memória que informam à vontade o que pretender.
A moral poderá convocar a razão a considerar a vontade, avaliando-a, oferecendo caminhos para a satisfação e indicando dificuldades; ou deixar que a emoção comande as ações.
A razão avaliará se a vontade tem condições de ser satisfeita de imediato, a médio, longo prazo ou se ela está mais para utopia do que para realização. Indicará que caminhos podem ser trilhados, considerará os valores do indivíduo, propiciando que ele decida se vale a pena ou não lutar pela satisfação.
Se a razão não intervier, a vontade só poderá ser freada pelos valores morais. Se o indivíduo desprezar os valores positivos, a vontade terá total liberdade para buscar satisfação pela via mais rápida, sem a menor disposição para enfrentar dificuldades. Mesmo que sejam inúmeros os exemplos de que isso não atinja a satisfação e que, quando atinge, ela é efêmera; esse tipo de indivíduo insiste em optar por esse caminho, desprezando a experiência que mostra o quanto é prejudicial.

Se a vontade do indivíduo não puder ser controlada através da razão e de valores positivos, dificilmente se conseguirá evitar as conseqüências prejudiciais de seus atos. A vontade é a grande motivadora para realizações, mas é, também, a desencadeadora dos maiores problemas do indivíduo e conseqüentemente, da sociedade.
A vontade de ganhar dinheiro é comum a praticamente todo indivíduo. A maneira como cada um tenta consegui-lo é que os diferencia.
O trabalho é o meio mais usado par conseguir o objetivo. Isoladamente, dificilmente ele propicia mais que o necessário para a sobrevivência. O que se associa a ele é que fará o diferencial.
Trabalho braçal
Talento + trabalho
Talento+estudo+trabalho
Talento+estudo+racionalidade+trabalho
Talento+estudo+racionalidade+sorte+trabalho
Quanto maior e mais eficiente for o que se associa ao trabalho, menor será o esforço necessário.
Facas, machados, foices, serrotes, em fim, ferramentas de corte, quando cuidadosamente preparadas e afiadas, diminuirão em muito o esforço exigido no trabalho, com resultados de melhor qualidade. Para tanto é necessário investir trabalho na preparação das ferramentas.
Um músico talentoso terá facilidade para tocar um instrumento. Se estudar o que outros já descobriram a respeito do instrumento e o que ele pode propiciar; conseguirá muito mais qualidade em um tempo bem menor, do que se tentasse descobrir esses detalhes por experiência própria. O estudo tem como objetivo poupar tempo e esforço na tentativa de descobrir o que já é conhecido. Sem talento, o músico poderá aprender a tocar um instrumento, porém com mais dificuldade e menor qualidade.
Se a razão for desconsiderada e a moral não oferecer restrições, o indivíduo tentará conseguir satisfação atropelando tudo e todos, sem preocupação com os males que possa causar. Poderá optar por roubar ao invés de trabalhar para conseguir o pretendido, por exemplo.
As informações acima são de conhecimento da maioria das pessoas, no entanto, a falta de compreensão as impede de usá-las para evitar ou resolver problemas. Que esperar de pais e educadores que defendem o que acham certo e criticam o que consideram errado, sem compreender os porquês de tais aceitações e rejeições? Grande parte das pessoas julga, aceita ou rejeita, com base em preconceitos que nunca questionou e que, portanto, desconhece sua validade ou não. Isso é causa de muito do que sofrem, no entanto, por ignorância, esforçam-se para que os filhos e alunos aceitem o que defendem, mas não compreendem. É comum que quando questionados, por filhos ou alunos, sobre a validade desses preconceitos, os adultos se neguem a discuti-los e tentem impor a aceitação. O autoritarismo é um grande dificultador da educação.
Como dito acima, a vontade costuma rejeitar as recomendações da racionalidade, insistindo para ser satisfeita. Muitas vezes os riscos de prejuízos são aceitáveis e vale a pena experimentar para se livrar da pressão da vontade. Outras vezes, no entanto, os prejuízos podem ser significativos, ocasionando custos elevadíssimos para benefícios irrelevantes. Nesses casos a vontade deve ser refreada a qualquer custo. Principalmente os pais devem atentar para isso, não cercear experiências que possam ensinar com riscos aceitáveis e impedir aquelas cujo custo é inaceitável. Para tanto, pode ser necessário usar a autoridade quando não possível convencer pela argumentação. É preciso diferenciar autoridade responsável e autoritarismo comodista.


LEIS DE PROTEÇÃO DA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA
A ignorância e a distorção de valores têm levado à criação de leis com rigidez perniciosa. A legislação sobre infância, adolescência e juventude, cria obstáculos a educadores conscientes, capazes e bem intencionados, ao mesmo tempo que não evita que verdadeiras barbaridades sejam cometidas pela ignorância e distorção de valores.
O trabalho contribuiu para que muitas crianças e adolescentes se transformassem em adultos responsáveis. A lei impede que isso continue a acontecer, no entanto, o trabalho infantil, escravo, continua acontecendo por impossibilidade de fiscalização. A quantidade de crianças que aprenderam pelo trabalho é muito maior que as que foram escravizadas. A lei impediu a continuidade do que era bom e não corrigiu o errado. Pode ser que o ideal seja que as crianças e adolescentes não trabalhem e a lei tem conseguido livrar muitos do trabalho escravo e descabido, no entanto, a maioria dos explorados o continua sendo e o grande número de crianças e adolescentes que se beneficiava do trabalho deixou de sê-lo, o que mostra que a lei ocasionou custos altos e benefícios muito pequenos.
Talvez, o ideal seria que as crianças pudessem brincar, aprender e desfrutar de prazer e alegria, antes de chegar a idade de assumir responsabilidades. Será que isso seria realmente melhor? Um trabalho adequado pode ensinar, distrair e, até, causar prazer, sem impedir o estudo, brincadeiras e diversão.
É muito grande o número de crianças que gasta boa parte do dia com jogos virtuais ou assistindo televisão. Que vantagens isso está oferecendo e que prejuízos provoca?
Os castigos físicos também são condenados pela lei, que se baseou no abuso do autoritarismo ignorante que abusava das agressões. Por outro lado, crianças que não conseguiam ser controladas por outros meios e que o eram por castigos a altura da necessidade, continuarão distorcidas, porque a lei proíbe os castigos que eram usados, propiciando resultados positivos.
Ninguém em sã consciência pode defender a agressão como meio de educar. No entanto, é preciso reconhecer nossa incapacidade para evitar algumas distorções que acontecem. Seria ótimo que houvesse meios de educar pela racionalidade, pelo controle da emoção, conseguindo com que as crianças aceitassem e usassem valores positivos e que os castigos pudessem ser abolidos totalmente. Isso ainda não foi conseguido. Por outro lado, conhecem-se inúmeros exemplos de castigos físicos que propiciaram correções e não causaram maiores conseqüências a quem os sofreu. Por que impedir o que demonstrou ser bom? Por outro lado, o ignorante e inconsciente continua abusando das agressões injustificadas e poucos são punidos por isso.
É evidente que as crianças, hoje, evoluem muito mais rápido que antigamente. A informática e a televisão contribuíram muito para isso. Elas têm demonstrado capacidades que não se imaginava que pudessem Ter nessa fase. Mostraram que aprendem com facilidade muitas coisas que são difíceis para os adultos. No entanto, o que é mais evidente, é a facilidade para aprender o que querem, o que lhes interessa, enquanto reagem a aprender o que seria necessário. Mostram grande competência para reivindicar e exigir direitos, mas reagem a cumprir deveres. Desenvolveram muito a esperteza, mas não a inteligência racional, os valores positivos e o respeito às regras de convivência em sociedade. Se tornaram especialistas em exigir direitos e fugir dos deveres, acentuando o egoísmo e a prepotência em detrimento da solidariedade e da humildade.
A legislação que pretende proteger as crianças e adolescentes, é um dos exemplos da incapacidade dos adultos. Uma lei não tem como considerar casos particulares. Para considerar a particularidade de cada caso é que existe o julgamento. Infelizmente, é flagrante a dificuldade de conseguir bons advogados para expor a realidade, propiciando que a justiça seja feita. Além disso, falta sensibilidade na interpretação, desconsiderando as forças a que o ser humano está sujeito. Isso tem propiciado a condenação de inocentes e absolvição de culpados.

A hipocrisia propicia que se tampe o sol com a peneira, favorecendo o crescimento da erva daninha enquanto se inibe o crescimento da planta desejável.
Antes de qualquer reforma, a educação precisa de reflexão crítica, da análise dos efeitos, busca de causas e encontro de soluções factíveis.
Enquanto não se conseguir influenciar a vontade do ser humano, dificilmente se conseguirá diminuir os problemas do indivíduo e da sociedade.


ALGUNS EXEMPLOS
Desde a infância, uma menina tinha grande admiração por médicos. Isso desenvolveu nela a vontade de seguir essa carreira.
Ao ingressar no segundo grau, sabendo que o vestibular para medicina era muito disputado, empenhou-se co0m afinco nos estudos. Seguiu se esforçando durante o cursinho, a faculdade e a residência médica. Finalmente, formou-se e se tornou uma profissional respeitada.
Outra menina teve a mesma vontade. No entanto, não gostava de estudar, passando a infância brincando, só estudando o mínimo que achava necessário para passar de ano. Durante a adolescência não perdia uma festinha e namorava todos os meninos que a atraiam. Repetiu várias vezes e acabou desistindo da escola antes de concluir o primeiro grau. Continuou com vontade de ser médica, mas teve que se contentar em fazer faxina como diarista. Vive reclamando da sorte que não lhe permitiu realizar sua vontade.

Desde a mais tenra idade um menino sentia vontade de ser mecânico de automóveis. Aos doze anos, pediu ao pai que lhe conseguisse trabalho em uma oficina onde pudesse aprender o ofício. O pai considerou que aquilo era capricho de criança, dizendo que ele era muito novo para trabalhar e que deveria se dedicar aos estudos. Ele não desistia e continuou pedindo ao pai que lhe conseguisse um trabalho em uma oficina.
Aos quatorze anos, como o pai não o atendesse, ele próprio procurou uma oficina nas vizinhanças e pediu ao dono que lhe ensinasse o ofício, propondo-se a trabalhar para pagar o aprendizado. O pai relutou, mas acabou concordando desde que ele não abandonasse os estudos.
Lavava peças e ferramentas, varria a oficina e ajudava no que era possível, prestando atenção em tudo, acumulando informações e procurando compreender o funcionamento de todas as partes de um carro. Em alguns anos era um mecânico competente e montou sua própria oficina. Procurava manter-se atualizado, fazendo cursos e lendo publicações especializadas.

Um adolescente era fascinado pelo comportamento de alguns rapazes do bairro. Eles não trabalhavam nem estudavam. Dormiam até tarde e ficavam na rua até de madrugada. Eram assediados por garotas e viviam se metendo em confusão.
Os pais dele e todos da vizinhança viviam criticando-os, alegando que eram vagabundos, maconheiros e desordeiros. Ele, no entanto, admirava-os cada vez mais.
Acabou se aproximando deles e começou a servir de menino de recados. Começou a beber, fumar maconha e acompanhá-los em pequenos furtos. A mudança de comportamento chamou a atenção dos pais que se empenharam em mostrar-lhe o quanto o caminho que vinha trilhando era pernicioso, quanto sofrimento estava causando a eles e quanto ele sofreria em conseqüência disso. Fizeram de tudo para que voltasse a estudar e abandonasse aquelas companhias, mas não conseguiram e, depois de alguns anos, acabou morrendo num tiroteio com a polícia.


MISTÉRIO
Mistério é o desconhecido, o incompreensível, as causas com as quais não conseguimos atinar.
O mistério mais evidente é o surgimento do mundo, dos corpos celestes, sua organização e movimento. Quem pode compreender a criação da Terra, sua composição orgânica e inorgânica, a vida animal e vegetal, a reprodução, o equilíbrio dos sistemas, as degenerações e regenerações, os fenômenos climáticos, as catástrofes naturais.
A capacidade humana permitiu desvendar muitos mistérios, no entanto, são inúmeros os que continuam absolutos, principalmente o que se refere à origem da vida.
Se a origem da vida é um grande mistério, não o é menor o que envolve seu caminho em direção à morte, principalmente a do homem.
Muito se sabe sobre o corpo humano, sua composição, funcionamento, degenerações, regenerações, agressões e meios de combatê-las. São conhecidos detalhes infinitesimais da composição celular, dos mecanismos de multiplicação e substituição, da hereditariedade, etc.
É grande o conhecimento sobre o cérebro e o sistema nervoso, que constitui uma rede de comunicação extraordinária. É conhecido um grande número de técnicas e drogas capazes de interferir no corpo humano, provocando correções e alterações. Sabe-se como transplantar partes de um corpo para outro, construir órgãos artificiais e, até, regenerações a partir das chamadas células tronco.
O conhecimento humano é muito grande, no entanto, o mistério é ainda maior. O funcionamento da mente, que é imaterial, sem células, mas que existe, continua inexpugnável! É enorme o número de teorias científicas, religiosas e esotéricas, que tentam explicar o que continua inexplicado.
Conhece-se o caminho orgânico percorrido pela emoção e como ela afeta o organismo, no entanto, não se sabe como ela é gerada, nem como criá-la ou eliminá-la. Conhecem-se partes do cérebro que a memória ocuparia, porém, não se sabe como controlá-la totalmente.

REFLEXÃO
O pensamento está em mim, no cérebro ou em qualquer outra parte do meu corpo. Se está no meu corpo, é meu. É tão meu que, se eu não o expressar, ninguém o conhecerá. No entanto, mesmo sendo meu, estando dentro de mim, sendo inacessível aos outros sem o meu consentimento; não está sob meu domínio e costuma acontecer independente de minha vontade, inclusive, contra ela.

QUEM OU O QUE, COMANDA A MENTE?
Todas as pessoas podem constatar a existência do pensamento involuntário em si mesmas. O mais perceptível é aquele que nos causa sofrimento. Se não pensássemos naquilo, não sofreríamos. É o caso da perda de um ente querido, por morte ou por abandono. Se pudéssemos esquecê-lo, seguiríamos vivendo normalmente, esperando que outra pessoa ocupasse seu lugar. No entanto, sua lembrança provoca que pensemos no quanto era bom, na falta que nos faz, nas cuasas da perda, nas possibilidades de recuperação, etc.. Todos esses pensamentos são lógicos como reflexão e análise consciente, buscando compreender o acontecido e, se for o caso, tentar a recuperação. No entanto, a repetitividade das mesmas coisas, constantemente, sem qualquer objetivo lógico, ocupa nossa mente impedindo que seja usada para outras emoções e, principalmente, para racionalizações conscientes.
Esses pensamentos costumam acontecer quando o indivíduo enfrenta dificuldades, principalmente, as grandes. São provocados por dívidas, ciúmes, remorso, amor próprio ferido, amor irrealizável, ódio, etc.. Se pudéssemos nos livrar desses pensamentos repetitivos, sem utilidade benéfica, poderíamos Ter a mente liberada para racionalizações conscientes e lógicas, buscando o que nos fizesse bem.
O que provoca esse tipo de pensamento e nos impede de eliminá-lo?

O que faz com que uma pessoa ame outra, independente de sua vontade consciente e, até mesmo, contra ela? Por que alguns amores são recíprocos e outros não? Por que é tão difícil e, até, impossível, eliminar um amor impossível de se realizar?
Por que é tão difícil as pessoas deixarem de agir em prejuízo próprio, quando têm consciência disso e sabem que agindo diferentemente poderiam não sofrer? É o caso de muitos dependentes de drogas, álcool, jogo, consumo, dinheiro, estética, etc..
As ações exageradas provocadas pelo ciúmes são causa de grandes sofrimentos para os indivíduos. Muitos deles sabem que não têm motivos para tanto ciúmes, tentam controlar-se, mas não conseguem. Trava-se uma luta terrível entre razão e emoção e a primeira, por mais que se empenhe, não consegue se impor.
A inveja é outra emoção causadora de males muito grandes. A razão mostra claramente o quanto essa emoção é prejudicial, no entanto, mesmo tendo consciência disso, muitos indivíduos não conseguem se livrar dela.
Alguma força estranha ao consciente do indivíduo provoca essas coisas. Será que isso se deve à fraqueza dele ou à grandeza dessa força?

MEMÓRIA
A memória é uma espécie de banco de dados, com autonomia para armazená-los, independente da vontade consciente do indivíduo. Ela guarda dados que ele gostaria de descartar e reage a guardar o que ele gostaria de Ter disponível. Nega-se a fornecer dados quando ele os pretende, disponibilizando-os quando não são mais necessários. Sobre um fato, fornece dados irrelevantes, sonegando os significativos.
Ela pode guardar uma seqüência detalhada de dados sobre um fato ou somente alguns fragmentos. Dificilmente ela guarda fatos como uma gravação, obrigando o indivíduo a reconstruir fatos passados, a partir de dados que ela fornece, possibilitando que, um mesmo fato, seja relembrado diferentemente em tempos distintos.
É evidente que a memória é particular do indivíduo, mas não está sob seu domínio. Quem a domina?

AUTONOMIA INDIVIDUAL, LIVRE ARBÍTRIO
A autonomia da emoção e da memória e a impossibilidade de eliminar os pensamentos involuntários, são evidências de que não temos livre arbítrio total. Por outro lado, a compreensão disso nos indica que temos capacidade racional para tanto, indicando que temos alguma autonomia. Em que porcentagem acontecem a dominação e a autonomia?

DIFERENÇAS ENTRE INDIVÍDUOS
O que provoca a diferença entre os indivíduos e por que?
Há indivíduos que usam intensamente a racionalidade, tendo dificuldade para aceitar preconceitos e dogmas. Vivem questionando tudo, buscando compreender o conhecimento. Muitos deles têm dificuldade de aceitar o que não compreendem, desprezando efeitos por não atinar com suas causas. Entre esses há os que têm uma espécie de couraça que os defende da emoção, reprimindo boa parte dela.
Há os que desprezam a racionalidade, são dominados pela emoção, aceitam com facilidade os preconceitos e a imposição de valores. É comum que tenham uma capacidade de argumentar muito grande. Os argumentos são produto da razão, no entanto, o que parece, é que, nesses casos, quem usa a razão é a emoção, para justificar suas pretensões, manipulando preconceitos, dogmas e valores, de acordo com seu interesse.
Existem indivíduos em que convivem razão e emoção, numa luta constante, com consciência das duas sobre a oposição entre si em grande parte dos fatos.
Quem determina o que cada tipo de indivíduo será? Parece que a maioria carrega essas características por toda a vida, por mais que se esforcem para mudar ou sejam provocados a mudar por terceiros.
Além da predominância da razão ou emoção, há outras características com grande variação entre os indivíduos: Instintos, reflexos, timidez, sensibilidade, talento, fantasias, sonhos. O que ocasiona isso?

Se o indivíduos vivessem isoladamente, poderiam não precisar se preocupar com as particularidades de suas características. Porém, ao conviver com outros indivíduos, com características diferentes, o conflito é inevitável se não for possível eliminar os pontos de atrito. Nem sempre os conflitos se devem a diferenças, muitas vezes é exatamente a igualdade que os provoca. Dois indivíduos egoístas, por exemplo, podem ficar impossibilitados de conviver. O mesmo pode acontecer entre dois prepotentes. Por outro lado, um grupo de indivíduos apáticos, sem ambição, poderá permanecer estagnado por toda a vida.
Parece que todas as características dos indivíduos são importantes para o convívio, desde que em dosagens adequadas. O bom é parâmetro para valorização do ruim, o mesmo acontece com o mal em relação ao bem, da tristeza em relação a alegria, da doença em relação a saúde, da riqueza em relação a pobreza, da vida em relação a morte, etc..
O problema é que cada indivíduo tem um grande número de características, com diferentes intensidades, variáveis no tempo. É bastante difícil conhecer um indivíduo e o que pode ser influenciado nele, portanto, é evidente a dificuldade de fazer isso com um grupo deles, buscando defender interesses e eliminando conflitos.
O ideal é que o indivíduo possa desfrutar o máximo de felicidade e prazer sem ocasionar prejuízos a terceiros. Para tanto, é necessário que existam regras, compreendidas, aceitas e respeitadas; que impeçam os prejuízos, com o mínimo de limites ao desejado. Isso é muito fácil de concluir e dificílimo de conseguir!
O ser humano já experimentou inúmeros tipos de convivência desde sua aparição até aqui. Desde pequenos grupos até grandes multidões, desde o não dispor de nada além do fornecido diretamente pela natureza, até a disponibilidade de tudo que a ciência e a tecnologia propiciaram, desde o senso de coletivo, até a predominância do individualismo. É incontável o número de ações que a racionalidade classifica de absurdas e que poderiam Ter eliminado o ser humano da Terra. No entanto, ele sobreviveu a tudo que poderia tê-lo eliminado. Parece haver uma determinação misteriosa para que o ser humano não se auto-destrua, mesmo que seu comportamento pudesse levar a isso. Sendo assim, a humanidade só será extinta quando o mistério determinar.

A racionalidade, liberta do que possa influenciá-la negativamente, pode buscar identificar as características dos indivíduos, suas variações, o que é influenciável ou não, extrapolar isso para o conjunto da sociedade, buscar formas de minimizar os atritos, propiciando o máximo de harmonia, felicidade e prazer possíveis e com o menor custo. Para tanto é fundamental que ela reconheça que sua enorme capacidade é limitada e que terá que conviver com o mistério, aceitando o sofrimento que ele impuser e que não possa ser evitado, sem esmorecer, sem desistir de continuar buscando o melhor, mudando sempre que for recomendável.
Claro que tudo isso só será possível se admitirmos a hipótese de que o ser humano tenha alguma autonomia, algum livre arbítrio e que seja influenciável por sí próprio e por outros. Isso propiciará que, entre as opções, sejam escolhidas as melhores. Se considerarmos que tudo está predeterminado, independente dos indivíduos, nada poderá ser feito para alterar o futuro.

O QUE PODE SER FEITO?
Pode ser difícil, mas é possível identificar as características do ser humano e suas variações.
É possível mapear essas características e agrupar indivíduos com características comuns. De certa maneira, isso já tem sido feito, pela astrologia, por exemplo.
É preciso estudar toda e qualquer relação que identifique características comuns a vários indivíduos. Isso deve ser feito com a maior isenção, analisando tudo o que for conhecido, tanto nas religiões, seitas, exoterismo e, principalmente as ciências. Nada deve ser descartado antes de devidamente analisado, nem se deve aceitar verdades sem questioná-las.
Esses estudos poderiam ser feitos por grupos multicidsciplinares, espalhados pelo globo. Seria bom que vários grupos estudassem os mesmos assuntos para que os resultados contemplassem a análise mais ampla possível.
Tão importante quanto identificar causas, é estudar efeitos cujas causas não possam ser determinadas. Essas causas indeterminadas se deveriam ao mistério.
Além da contribuição dos filósofos, são inúmeras as teses de mestrado e doutorado, espalhadas pelas universidades do globo, abordando características do ser humano, efeitos e causas. Se elas pudessem ser agrupadas e estudadas, poderiam propiciar resultados interessantes e de grande utilidade. No estágio em que se encontra a informática, isso não seria tão difícil.
Coletar dados, classificá-los, analisá-los, refletir, levantar hipóteses, estabelecer teorias e concluir são atividades para a razão. No entanto, ela sabe que não pode se livrar por completo, nem prescindir da emoção. Os resultados devem ser lógicos e emocionalmente aceitos. A lógica inaceitável pela emoção, dificilmente poderá ser utilizada com resultados satisfatórios.

A sociedade deve estabelecer que tipo de liberdade cada indivíduo pode desfrutar. A liberdade deve ser diretamente proporcional ao auto-controle de cada um e aos valores que norteiam o indivíduo. Será possível praticar algo assim?
Regras e leis têm pouca serventia para quem não compreenda sua necessidade e não tenha compromisso com a obediência a elas. A ação contra os infratores poderá ser: correção, castigo, segregação ou eliminação. Para tanto, é fundamental que haja justiça competente e eficiente. Quanto menor o número de regras e leis, mais fácil será o respeito a elas e a intervenção da justiça quando se fizer necessária.

O mais importante é que o indivíduo compreenda a importância da convivência e esteja disposto a contribuir para que ela seja a melhor possível.
Se fosse possível estabelecer vários tipos de sociedades e possibilitar que cada indivíduo se encaminhasse para a que melhor atendesse suas necessidades, os conflitos poderiam ser consideravelmente diminuídos.
É evidente a dificuldade de conseguir a convivência ideal. Se seria difícil estabelecer uma sociedade ideal, é fácil verificar a dificuldade de conseguir isso a partir de sociedades conturbadas e contaminadas, compostas por indivíduos prepotentes, egoístas e irresponsáveis!
No entanto, é inadmissível ficar inerte e aceitar passivamente os conflitos sociais e os problemas gerados. O que seria possível fazer enquanto o ideal não possa ser atingido?


Até prova em contrário, o início de tudo está na vontade. Conseguir que o indivíduo tenha vontade de coisas benéficas para si e para a sociedade seria ótimo.
Conseguir que ele consiga avaliar suas vontades, lutando para realizar as boas e reprimindo a ruins seria muito bom. Para tanto ele precisa defender valores positivos, usar a racionalidade e suportar as manifestações maléficas da emoção.
Quando o indivíduo for incapaz de auto-controlar-se, deverá ser controlado externamente.
Em indivíduos influenciáveis, deve-se combater as influências danosas e facilitar as benéficas. Se for dominado por preconceitos é preciso livrá-lo dos perniciosos e abastecê-lo com os positivos.
Para indivíduos racionais, a discussão analítica, a argumentação lógica e a reflexão são o melhor caminho para orientá-los e corrigi-los quando for necessário.
Para aqueles dominados pela emoção, as artes podem ser um caminho para conseguir atingi-los. Emoção contra emoção.
É fundamental o senso de justiça em qualquer avaliação. Quando não for possível eliminar prejuízos e sofrimentos, que eles aconteçam com justiça, evitando inversões.

DIVISÕES DA MENTE
EMOÇÃO
Vontade
Amor
Ódio
Depressão
Ansiedade
Esperança
Amizade

SENTIMENTO
Aceitação
Alegria
Angústia
Apatia
Desejo
Dor
Euforia
Frustração
Medo
Melancolia
Pena
Prazer
Preguiça
Raiva
Revolta
Ternura
Tristeza

RAZÃO
CONSCIENTE
Juntar dados
Analisá-los
Refletir
Concluir
Reavaliar
Novas conclusões
Reconstruir lembranças

INCONSCIENTE (a serviço da emoção)
Manipular dados
Construir argumentos
Reagir à razão consciente
Reconstruir lembranças

MEMÓRIA
Armazenar
Dados
Emoções
Sentidos captados
Conceitos
Preconceitos

MORAL
Valores
Honestidade
Lealdade
Solidariedade
Humildade
Coragem
Dignidade
Altruísmo

Preconceitos

INSTINTO
REFLEXO
TIMIDEZ
SENSIBILIDADE
TALENTO
FANTASIA
SONHO

AÇÃO
Racional
Emocional
Impulsiva
Reflexiva
Interpretativa


OBJETIVOS FUNDAMENTAIS DA VIDA
Felicidade e prazer

NECESSIDADE PARA CONVIVÊNCIA
Respeito a direitos e deveres.





EXEMPLOS REAIS

ADOLESCENTE REVOLTADA
A menina adotada quando ainda bebê, criada com conforto e, até, algum luxo; aos treze anos revolta-se contra a vida que levara até ali e foge de casa, refugiando-se com invasores de uma casa abandonada.
Ao ser encontrada, preferiu ir para um abrigo de crianças abandonadas e ficar sob a guarda do estado, que voltar para a casa dos pais adotivos.
Super proteção, excesso de cuidados e até de carinho, podem Ter causado repulsa da menina pela família adotiva. É bom lembrar que o importante para o indivíduo é o que ele sente, mesmo que as justificativas sejam totalmente irracionais. A menina pode Ter sentido uma revolta tão forte que qualquer coisa seria melhor que a convivência com a família.
Outro motivo que justificaria tal atitude, seria a paixão por alguém inaceitável pela família. Ela acreditaria que fugindo, eliminaria a possibilidade de Ter o relacionamento desejado, impedido. Talvez tenha considerado que seria mais fácil fugir do abrigo que da família, acreditando que o estado não se preocuparia tanto em procurá-la, o que lhe possibilitaria encontrar o seu amor e relacionar-se com ele.
Tudo isso poderia ser fruto de falta de conhecimento, de compreensão e de experiência. No entanto, pode ser que a emoção tenha sido muito mais forte que sua capacidade de reagir. Em fim, a emoção descontrolada poderia causar esse tipo de comportamento.
Não é racional descartar a interferência do mistério, agindo com objetivos com os quais a razão não pode atinar.
Se a causa for a emoção, uma conversa com alguém que lhe conquiste a confiança, poderá lhe permitir declarar o que sente e pensa, oferecendo subsídios para ações corretivas.
Seria improducente o comportamento comum de criticar, apelar para o sofrimento causado a quem tanto gosta dela, conselhos convencionais, acusar sua irracionalidade, em fim, o blá, blá, blá convencional. É bem provável que é exatamente disso que ela pretendia fugir.
Enquanto ela não conseguir compreender a situação, fará o possível para satisfazer sua vontade e fugir do que repudia. Uma maneira de impedir isso, é o cerceamento da liberdade por meios físicos ou químicos. Se nada for feito, a probabilidade de que ela sofra grandes prejuízos e sofrimento é enorme. Que direito essa menina tem de arriscar tanto? Que capacidade ela tem de arcar com as conseqüências?
Além dos problemas que ela possa sofrer, é preciso considerar os problemas para a sociedade que ela poderá gerar. Entre eles, tornar-se marginal e gerar filhos que, por falta de condições, poderão seguir seu caminho na marginalidade.
Se o problema tivesse sido causado pelo mistério, dificilmente alguma coisa poderia ser feita, pois ele seria mais forte e capaz que qualquer capacidade humana.

INTERPRETAÇÃO DE FICÇÃO COM BASE REAL
A menina de dez anos que mente, interpretando ficção que ela cria com base na sua realidade, demonstrando talento tanto na criação quanto na interpretação.
Ela não se preocupa com o fato de que suas mentiras possam ser desmascaradas com certa facilidade. Isso pode significar que não teme o ridículo, ou que acredite que poderá contornar o problema continuando a criar e interpretar.
É uma atitude racionalmente injustificável. A probabilidade de Ter a farsa descoberta é enorme. Se o custo é altíssimo, os benefícios possíveis são irrisórios. Se a causa não for satisfazer a pura fantasia, poderá ser a vaidade, buscando admiração e chamando a atenção para si.
A única maneira de se identificar o que acontece, é conseguindo a confiança da menina, obter dela todas as informações que possa oferecer. Claro que é necessário avaliar bem o que ela disser, pois poderá continuar criando interpretando ficção. A análise dos dados obtidos poderá indicar que caminho seguir para a correção.
Uma opção seria incentivá-la a criar histórias, dando assas a sua imaginação, propiciando-lhe fantasiar sem o risco de expor-se ao ridículo. Se ela fizer isso com facilidade, pode ser que deixe de usar ficção na vida real, fazendo-o na literatura, dando vazão à sua necessidade. Não conseguindo fazer isso, as causas deverão ser outras e não a simples fantasia, desejo de reconhecimento, admiração ou intenção de chamar a atenção.
Se as causas não forem identificadas, seremos obrigados a creditá-las ao mistério.

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